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Opinião
Terça - 08 de Junho de 2010 às 08:01
Por: Lourembergue Alves

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Junho é o mês das convenções partidárias. Partido algum pode ignorar essa determinação legal. Sobretudo a sigla que almeja disputar as eleições deste ano. Ainda que o faça em coligação com outras. Exigência importante, porém, hoje, esses encontros políticos diferenciam bastante de períodos pretéritos. 

Momentos em que filiados e militantes se digladiavam em torno da feitura das listas de candidaturas, bem como das possibilidades de casamentos e acordos político-eleitorais. Isso tornava aqueles dias relevantes. E não era para menos, pois muito do que se discutiam, serviam de alicerce para as amarrações e para os planos de governo. 

Nada disso, entretanto, se tem no presente. Já se sabe, com antecedência, quem será o candidato à chefia do Executivo, ao Senado e a maioria dos nomes que disputarão as cadeiras da Assembléia Legislativa e da Câmara Federal. 

Esse elenco de postulantes aos cargos eletivos, sequer passa pelo crivo do militante. Aliás, esta figura, há muito, deixou de ter voz e vez no seio de sua agremiação política, embora continue necessário para “carregar o piano”, sendo usado a bel prazer dos caciques, chefes e chefetes.
 Esses políticos têm os partidos como propriedades, e os controlam com mão de ferro. O que dificulta, sobremaneira, a viabilização da democracia dentro dos partidos. Daí a não renovação das lideranças e a não mudança significativa dos discursos. 

Tudo é arcaico. Promessas são incansavelmente repetidas. Repetidas com novas roupagens, sem o oferecimento de condições para uma possível realização delas. Reforça-se, então, a condição dos atores em confronto como “vendedores de sonhos”, de “ilusão”. 

Nada a estranhar. Também, pudera, pois todos – políticos e votantes – veem a eleição “movida” pela emoção. Os primeiros procedem assim para não se comprometer como deveriam; ao passo que os últimos, até pelos seus distanciamentos dos negócios públicos. Detalhe que fortalece o personalismo da campanha. Personalismo que já se faz presente, antes, nos partidos políticos. Vota-se no personagem, criado pela indústria do espetáculo, não nos programas. Até porque estes não existem, e sua inexistência se deve muitíssimo ao processo de aborto da voz e da vez dos militantes, assim como o estrato que se tem das convenções partidárias. 

As convenções deveriam ser um foro de debates, de discussões de projetos de governo, da composição das listas dos candidatos e de acordos e de alianças. 

Foro que serviria de estímulos aos próprios eleitores. Uma espécie de chamariz, de atração. Só assim haverá transformação do jeito de “fazer política”. Afinal, a política não pode ser vista tão somente como trampolim para a realização de interesses particulares e grupais. Até porque isso enfraquece sobremaneira o jogo. Mas, isto sim, a política deve ser tida, igualmente, como instrumento de conquista da justiça. Eis, aqui, a importância e a necessidade da participação dos brasileiros, inclusive como condição para se chegar ao estágio de cidadania, que não é concedida ou doada por quem se acha no poder de mando.     


Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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