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Opinião
Domingo - 16 de Maio de 2010 às 17:29
Por: Eduardo Pocetti

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A crise da Grécia, que ganhou contornos de violência e exigiu uma enérgica atuação da União Europeia para ser contida, aliada às dificuldades financeiras da Espanha e de Portugal, acirra os ânimos dos investidores e coloca os analistas econômicos de sobreaviso. Nesse contexto, surge a questão: o mercado bancário brasileiro, que vive um período de forte crescimento nas operações de crédito, corre riscos de solvência ou liquidez?

A resposta, apresentada com muita propriedade pelo Banco Central (BC) no seu mais recente Relatório de Estabilidade Financeira, é “não”. Graças à sua musculatura de capital e regulação, o Brasil deverá continuar firme, mesmo em cenários de estresse mais acentuado que o atual. O BC aproveita para assinalar que houve uma expansão sustentável da carteira de crédito com qualidade, ou seja, com baixo risco de inadimplência.

Outro dado importante contido no relatório diz respeito à análise da liquidez: segundo o BC, o montante de ativos líquidos que hoje se encontra à disposição dos bancos brasileiros é suficiente para suportar suas operações, inclusive em um cenário, hoje pouco provável, de agravamento da crise.

O índice de Basiléia, que obriga os bancos a terem pelo menos 11 reais em capital para cada 100 reais emprestados, foi mantido em nível satisfatório no Brasil. Isso foi possível porque o aumento da exposição ao risco de crédito dos bancos se fez acompanhar por aportes de capital e pela incorporação de lucros.

No relatório, o BC reconhece a gravidade da crise europeia, em especial da Grécia. E, com base nos dados do primeiro trimestre de 2010, a instituição ressalta que a aversão ao risco nas economias da zona do euro se deteriorou por conta da situação fiscal de parte das economias locais. Nesse quadro, deu-se a depreciação do euro em relação ao dólar.

Desse modo, o Brasil deve continuar, sim, como “a bola da vez” para os investidores estrangeiros. É claro que, no universo econômico, as previsões falham. Não podemos ignorar que a Bovespa oscilou ao sabor da crise europeia, nem esquecer que a imprensa mundial já começa a discutir se o Brasil é, de fato, esse gigante forte e poderoso que aflorou após a crise de 2008 e 2009. Mas o que não falha nunca, e pode e deve ser praticado por todos os empreendedores, não importando o porte ou o tipo do negócio, é a boa gestão. E, neste sentido, as instituições financeiras do Brasil têm dado um exemplo que deveria ser seguido pelo resto do mundo.

Além da boa gestão da economia no sentido mais amplo do termo, também é importante, para a solidez dos alicerces do País, que existam práticas de boa gestão em todos os setores, inclusive nas empresas. E, quando se fala em gestão eficiente, deve-se ter em mente que a contabilidade impecável dela faz parte. Afinal, não é de hoje que os contadores, administradores e responsáveis pela gestão de empresas compreenderam que o alcance das informações contábeis vai além do simples cálculo de impostos e da atenção ao cumprimento de legislações comerciais, previdenciárias e legais.

Quando a contabilidade é encarada como mera burocracia para atendimento governamental, ela custa “caro”; quando é vista como ferramenta de gestão, permite obter e aproveitar informações relevantes, e partir delas efetuar projeções de fluxo de caixa, analisar indicadores, calcular ponto de equilíbrio, determinar custos padrões, fazer o planejamento tributário e elaborar o orçamento e o controle orçamentário.

Objetivamente, se a empresa aproveita as informações geradas, adquire mais um fator de competitividade em relação aos concorrentes, pois passa a tomar decisões baseadas em fatos reais e dentro de uma técnica comprovadamente eficaz, que é a prática contábil.

Assim, ao contrário do que acontece no mercado de capitais, a contabilidade gerencial não inventa nem infla dados. Seu lastro está na escrituração regular dos documentos, contas e outros fatos que influenciam o patrimônio empresarial. Contra uma empresa bem gerida, não há crise que possa ter efeitos devastadores, e isso é o que realmente importa.


* Eduardo Pocetti
é CEO da BDO, quinta maior empresa do mundo em auditoria, tributos e advisory services.



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