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Opinião
Sexta - 23 de Abril de 2010 às 10:59
Por: Onofre Ribeiro

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Brasília tem algo parecido à Semana de Arte Moderna, de 1922, quando o Brasil rompeu com o passado colonial. Em 1960 Brasília rompeu com um Brasil litorâneo, alienado e ignorante do Brasil fora do Rio de Janeiro e de Recife. O mais quase não existia. O Centro-Oeste não passava de uma região desconhecida no mapa do Brasil. O projeto urbanístico de Lúcio Costa era inovador e de inspiração socialista, assim como a arquitetura de Oscar Niemeyer, outro socialista, com inspiração vanguardista. Os velhos prédios sombrios do Rio de Janeiro e das capitais brasileiras, as janelas pesadas, as escadarias e os telhados coloniais, de repente, cederam lugar ao concreto armado aparente, às paredes envidraçadas e às avenidas largas e sem esquinas. Moradias em série dentro de projetos assemelhados e uma ideia clara de coletivização, tão em moda na época.

Mas fora isso, olhando aqui da nossa região, o paradigma de Brasília foi trazer o Brasil do litoral para o interior. Felizmente, as lideranças e as elites do Rio de Janeiro eram alienadas o suficiente para não perceberem que estavam perdendo a capital da corte brasileira histórica. Na verdade, o Rio de Janeiro vivia a corte que nele se instalara desde Dom João VI, em 1808. E Brasília voou para o cerrado do Centro-Oeste, apesar da poeira, da falta de tudo, de estradas, de bares, de charme, de praia e de esquinas cariocas, sem falar no samba, no carnaval e nos morros sinceros de então.

Junto com Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek introduzia uma nova forma de educação e de cultura. Na Universidade de Brasília, por exemplo, o currículo de todos os cursos tinham em comum os dois primeiros anos, com disciplinas humanizadoras, como história, economia, filosofia, sociologia, geografia econômica e noções de Direito. O presidente JK sabia que a cultura do Centro-Oeste e de todo o interior do Sudeste, do Norte e do centro do Nordeste, era frágil e precisava ser respeitada. A UnB teve um papel conscientizador nessa direção.

Em 1960, quando Brasília foi inaugurada, Cuiabá tinha apenas 57 mil habitantes, mas era uma capital de estado interiorano. Precisava ser resguardada culturalmente. E foi. Depois, mesmo com o advento do regime militar, Brasília foi o ponto de partida para um formidável desenvolvimento que abriu o Norte, o Centro-Oeste, parte do Sudeste e do Sul a um novo Brasil. São Paulo ganhou a importância econômica que antes era do Rio de Janeiro. O Sul cresceu, o Sudeste também, e o Centro-Oeste deu um enorme salto com as grandes rodovias, com as usinas hidrelétricas e com as universidades regionais.

Queiramos ou não, Brasília, criou um novo Brasil. Até 1960, o restante do país vivia de uma esperança incerta. Mato Grosso, em particular deve a sua redescoberta a Brasília, assim como Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia. Se hoje Brasília é vista como a capital da corrupção e da inoperância do Estado brasileiro, a culpa não é dela. É dos governantes e dos representantes que usam-na como base física.

De real, real mesmo, de Brasília, aos 50 anos, fica a certeza de que ela quebrou o marasmo do Brasil litorâneo, abriu a cabeça dos brasileiros para a modernidade, e mostrou a extraordinária capacidade de realização do país e de sua gente de construir em quatro anos uma fantástica cidade no cerrado desconhecido. O mais, a História vai nos contar no futuro. Sou muito grato por ter tido a oportunidade de vivenciar tudo isso como testemunha e como personagem anônimo, mas verdadeiro!


Onofre Ribeiro
é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br



Autor

Onofre Ribeiro
onofreribeiro@onofreribeiro.com.br www.onofreribeiro.com.br

É jornalista em Cuiabá.

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