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Opinião
Quarta - 14 de Abril de 2010 às 06:22
Por: Gabriel Novis Neves

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De todas as doenças que conheço, é o preconceito a que mais me preocupa - pessoalmente, eu nunca entendi a lógica perversa do preconceito. E existem tantos! Sexual, religioso, racial, espiritual ou mesmo financeiro. Ataca pessoas de ambos os sexos, de todas as idades, religião, raça, cor, ideologia. Geralmente tem como alvo membros de grupos sociais minoritários. A medicina, com todo o seu avanço tecnológico, não consegue participar do complexo processo de cura desta doença, que existe desde os tempos mais remotos da humanidade. O máximo que se consegue são métodos paliativos e nada mais. Extirpar este mal, que causa muito sofrimento só será possível, pela educação. Por isso sempre digo e repito: - não se faz saúde sem educação.

Teoricamente gosto de ilustrar minhas aulas citando exemplos estampados na mídia. Através de exemplos podemos facilmente entender esta doença que tento descrever. Vejamos alguns: “fulano de tal convidou a nata do empresariado, para conhecer a China” - as comitivas são enormes, e quase todas as astronômicas despesas correm por conta do contribuinte. “Grupo político convida as candidatas a Miss Mato Grosso para um prolongado tour pela capital, com direito a fotos com autoridades e auxílio enxoval.” - tudo com o dinheiro do contribuinte, - ótimo. “Comitiva de jornalistas acompanha políticos em uma viagem pelo Estado para registrar a entrega dos novos tratores e caminhões adquiridos com o nosso dinheiro, é sensacional”. “A viagem internacional com a base política de sustentação do governo foi um sucesso,” - e os dólares para custeio saindo das tetas do governo, não tem importância alguma. Está tudo certo. Mas, tem muito mais, muito mais notícias como estas, em que o dinheiro público – entenda-se nosso – custeia a farra e a autopromoção dos poderosos. Não quero, entretanto me tornar enfadonho estendendo a lista além do suportável.

Agora, se um empresário vencedor convida jornalistas pertencentes às chamadas minorias para uma curta viagem e custeia as despesas com dinheiro do seu próprio bolso, vira um escândalo de proporções inimagináveis. Por outro lado, se em vez dos jornalistas que fazem parte das minorias, fossem convidados famosos profissionais liberais, esse gesto seria considerado um ato generoso do rico empresário. Então chego à seguinte conclusão: existe naquela atitude um preconceito velado, mas terrivelmente presente - e é hipocrisia dizer que não.

Além da gravidade do preconceito, percebo sutilmente manifestações claras de homofobia, e principalmente receios. Esses jornalistas sabem segredos de alcova dos poderosos, e tem o exato comprimento do rabo dos intolerantes a sua escolha sexual. O mais intrigante é que esses fatos assumem essas proporções de escândalo puritano só em período eleitoral. Fora dessa época os políticos profissionais brigam para serem madrinhas e padrinhos dos famosos desfiles gays. Fazem questão de comparecerem e “apoiarem” as suas festas. Com esses ataques, tenho a impressão que a defesa adversária ficou fragilizada - o que é um perigo, especialmente durante a campanha eleitoral. Os ataques sofridos pelo patrocinador do convite são para intimidá-lo. Os artilheiros sabem da munição que este “passeio” rendeu.

Que doença terrível tem os portadores de preconceitos!


*GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT



Autor

Gabriel Novis Neves

foi o primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é médico gineco (ginecologista e obstetra)

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