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Opinião
Sexta - 09 de Abril de 2010 às 10:56
Por: Lourembergue Alves

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Na última quinta-feira, no dia de seu aniversário, Cuiabá recebeu elogios e declarações de amor. As autoridades não mediram esforços para mostrar sua paixão pela cidade. Uma cidade em que todas elas, segundo dizem, foram acolhidas como filhos, e como tal, acrescentam, vêm a quase tricentenária.

Pode até ser que essas declarações são sinceras. Pois foi aqui, e não em seus torrões natais, que muitas das referidas pessoas ganharam condições de sobrevivência e, de lambuja, projeção regional. "Não se pode", alerta um dito popular, "cuspir no prato que se comeu".

Inexistem atores ingênuos no cenário político- eleitoral. Ainda mais em ano de eleições. Certamente por isso que os espaços dos blogs, sites e da mídia ficaram congestionados. Eram declarações de todo tipo, para todos os gostos, e se estendiam das mais "rasgadas" até as "requintadas". Estas e aquelas, na verdade, fazem parte de toda uma jogada de marketing. O que explica a encenação criada para se dizer o que foi dito e escrever o que foi escrito, bem como justifica o agradecimento aos filhos da terra, os quais não só foram reconhecidos nessa condição, mas também tidos como "gente bastante acolhedora".

O estranho, contudo, é que a maioria dessas autoridades, inclusive quem já exerceu cargos de proa no Estado, ao chegar ao interior mato-grossense, fale mal do cuiabano e da Capital. Alimentando, assim, uma rixa descabida e um bairrismo que, juntos e entrelaçados, contribuem muitíssimo para uma opinião enviesada sobre os nascidos e a sede das decisões políticas do Estado. Opinião essa que é toda norteada pela crença de que "os cuiabanos e a cidade sugam a receita estadual", deixando, em várias ocasiões, os demais municípios "a ver navios".

Inverdades que, de tanto serem repetidas, tornaram-se aceitas por uma porção de pessoas. Aliás, não foram por acaso, portanto, que o discurso divisionista ganhou coro em determinadas áreas desta unidade da federação. Sobretudo nas áreas em que alguns agentes do agronegócio têm domínio político. Um domínio que, segundo esses mesmos agentes, ambiciosos, deveriam ser estendidos a todo o Estado. Daí o seu empenho pelo desmembramento nas décadas de 1980 e 1990. Amortecido, agora, em razão de que eles se veem representados pelo governador, o que renunciou recentemente e o de hoje, e onze deputados estaduais, oriundos do Vale do Arinos, Araguaia, Oeste, Médio-Norte e Nortão.

O curioso é que, exceto o Nortão, essas outras regiões foram esquecidas pela atual administração. Talvez, por isso, continua presente a falação de que Cuiabá e sua gente "absorvem toda a renda estadual". Falação utilizada como arma de conquista de votos. Utilizada justamente por quem, na última quinta-feira, "se derreteu todo e se mostrou apaixonado pela Capital".

Uma paixão que se aflora, infelizmente, tão somente na data de aniversário, a exemplo da namorada que se vê apenas paparicada quando o namorado carece de carinho e apreço.

Mesmo assim, engabelada e esquecida, Cuiabá permanece fiel a sua vocação. Uma vocação parida pela história, e esta toda construída por pessoas que, sequer, são lembradas pelos poderes públicos, ou reconhecidas para receberem títulos de cidadãos, uma vez que os vereadores só veem seus próprios umbigos ou quem os ajudam nas eleições.


Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br



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Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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