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Opinião
Quinta - 25 de Março de 2010 às 11:07
Por: Enock Cavalcanti

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Meus amigos, meus inimigos: por mais que não pareça, sou um cidadão otimista, que acredita que a humanidade, ainda que a passos de cágado, vai aperfeiçoando suas práticas e elevando seus padrões de exigência.
 

Mais grave do que alguém colocar um vídeo na internet dizendo que Wilson Santos é um governante que só diz lorotas é o fato de que o prefeito criticado recorreu à Justiça, cobrando uma indenização de 500 mil do Google e tentando calar esse espaço de livre manifestação universal que é o You Tube.

Na lição imortal de Rosa Luxemburgo, que o Paulo Francis gostava tanto de reprisar, a verdadeira liberdade é a liberdade de quem discorda de você. A gente precisa saber aceitar as críticas, por mais dolorosas que sejam. Digo isso com a experiência de quem, mantendo um blogue na internet, recebe costumeiramente, os xingamentos mais variados.

Há um internauta que, volta e meia, me escreve para, brincando com o meu nome, dizer que sou um eunuco, não um enock - e fala de minha mãe como se a dona Zuzu, coitada, nos seus 85 anos, fosse a mulher mais depravada da Terra. Os xingamentos se mesclam com os elogios - e a vida segue em frente.

Então, se o Wilson Santos é chamado de loroteiro, ele que tenha a capacidade de provar, juntamente com sua enorme equipe, nesta mesma internet, que não espalha lorota nenhuma. Ele que defenda, com argumentos sólidos, as realizações da prefeitura. Ele que leve para o You Tube seus pronunciamentos, suas inaugurações, seus admiradores, vídeos que também exponham seus adversários, estabelecendo um debate aberto e franco aos olhos dos cidadãos internautas.

Mais importante do que julgar o desempenho administrativo do prefeito de Cuiabá é perceber o percentual de democracia que existe em suas atitudes. Ao cobrar indenização do Google por uma critica que ele sabe que é feita em todas as esquinas de Cuiabá, Wilson usa de uma truculência inaceitável. Logo ele, que anda espalhando antenas por toda a capital de Mato Grosso, para que nossa a população possa ter acesso ilimitado e gratuito à internet. Mas acesso só para ver o que interessa ao prefeito? Então, que venham as críticas, que venha o contraditório - e que o governante tenha habilidade e paciência de superar, com criatividade, os ataques de quem não gosta dele.

Imagino que, com sua tentativa de censura, Wilson esteja adotando uma atitude que acaba atendendo aos objetivos de seus adversários. Eu, que reproduzi o Samba da Lorota em meu blogue, algumas vezes, devo dizer que a música não me pareceu tão boa assim.

Neste ano, vibrei muito mais com as marchinhas de Carnaval do Bloco do Pacotão, lá de Brasília, que conseguiu expor os corruptos do Arruda com muita alegria e um apelo muito eficiente à sacanagem. Também achei um primor a música em que o Pacotão ironiza a escolha da Dilma, feita pelo presidente Lula. Volta e meia me pego cantando: "Eureca, Eureca! Quem engoliu sapo (barbudo), engole perereca!"

Essa carnavalização da política é sempre gostosa de se ver - e quem lê os meus textos sabe que, na maioria das vezes, prefiro carnavalizar os políticos do que conferi a eles uma seriedade que não merecem.

E o Wilson Santos, é bom que recordemos, também é daqueles que sabe carnavalizar, gozar seus adversários como ninguém. A utilização que ele fez, enquanto deputado estadual, do "Mexe-Mexe" contra o então governador Jayme Campos, ficará na história como um dos momentos mais impagáveis da nossa política parlamentar.

Aquele Galinho que tão livremente ridicularizava os seus adversários, desconstruindo com bom humor a imagem deles perante a população, não pode agora pretender aparecer como um censor brucutu. Se Wilson Santos soube absorver com galhardia até mesmo os assaques do jornalismo marrom de Ely Santantonio que, volta e meia, o coloca como um He-man envolvido numa paixão doentia por uma inusitada Sheera, por que investir agora contra a crítica tão moderada expressa no vídeo do You Tube?

Imagino que Wilson deva continuar cativando aqueles que sempre cativou, ampliando seu eleitorado para os debates que logo virão, contra Silval e Mauro Mendes, evitando aparecer como um candidato que se desarvora logo diante das primeiras críticas.

Ao processar o Google, Wilson faz tudo que seus adversários querem, demonstra que foi atingido, que está abalado e que falar em lorota, no final das contas, talvez seja o caminho para desmontar o seu discurso.

O fato é que o Wilson censor, caso se mantenha censor, pode ser o preâmbulo para entrada em cena do Wilson perdedor, candidato derrotado por suas próprias contradições.

 

*ENOCK CAVALCANTI, jornalista, é titular do blogue www.paginadoe.com.br



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