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Opinião
Domingo - 21 de Março de 2010 às 09:59
Por: Lourembergue Alves

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 A censura sempre foi utilizada para calar os inquietos e os descontentes. Contra esses, tidos como “não gratos”, os regimes de exceção se valem do dito instrumento, nas suas mais variadas formas. Fecham veículos de comunicação, amordaçam escolas, prendem e até desaparecem com quem se atreve a agir de outro modo, além de proibirem certas leituras. Estratégias adotadas, por exemplo, durante o período burocrático-militar no Brasil (1964-85). Época, felizmente, que se esvaiu. O país, agora, atravessa uma nova fase, a da liberdade de expressão, individual e coletiva, contemplada pela Constituição e garantida pelo Estado de direito e democrático que vem sendo construído, diriam todos. 

 É verdade. Contudo, cabe lembrar, ainda persistem, por aqui, certos resquícios do passado. Isso porque uma porção de gente teima em ressuscitar uma ou outra forma de censura. De uma maneira bem sutil. Há, inclusive, vários profissionais da comunicação sem colocação, assim como também existem analistas e estudiosos que não são convidados para dezenas de programas radiofônicos e televisivos. Tudo em razão de seus comportamentos independentes. Independência que contraria alguns proprietários e a quem está a serviço desses e de determinados políticos e governantes. Senhores despreparados para o convívio com os diferentes, sobretudo de idéias, as quais se contrapõem aos seus interesses. 

 Não carecia dizer, portanto, que muitos dos textos publicados nesta coluna causam urticária em centenas de pessoas. Certamente porque escancaram feridas e desconstroem discursos. O que levam algumas delas a promoverem a retaliação fora do campo do diálogo, inclusive no âmbito social e profissional. Afinal, tais artigos deixam à mostra uma série de desacertos de agentes públicos, parlamentares e dos chefes das administrações públicas municipais, estadual e federal. Independentemente de suas bandeiras político-partidárias. Pois é possível encontrar, aqui, críticas tanto com relação ao presidente da República (PT), quanto ao prefeito cuiabano (PSDB), sem, contudo, deixar de cutucar fortemente o governador de Mato Grosso (PR).

 Excelências que em variadas ocasiões misturam o público com o privado. Por conta disso, extrapolam os limites constitucionais, particularmente no que tange a moralidade e a impessoalidade, tudo para obterem vantagens individuais e grupais. 

   O pior, é que, ao agirem desse modo, igualmente obtém dividendos eleitorais consideráveis. Isso em função do uso da máquina estatal, e, da mesma forma, dos cargos que ocupam. A propaganda extemporânea se encaixa, e bem, nesse quadro. Um quadro, cuja moldura está toda definhada, a despeito de seus ideólogos e marqueteiros que, a todo instante, veem a si próprios empurrando os farelos, da dita moldura, para debaixo do tapete. 

 Processo que conta com as vistas grossas dos Parlamentos e do Judiciário, e o taciturnamento do Ministério Público e da mídia. Relação que se dá via negociatas e partilha de benefícios. Os que não se aderem aos “compromissos oficiais” são paulatinamente censurados e até se veem em maus pedaços quando precisam de um serviço de quaisquer órgãos públicos, ainda que seja no setor da educação, cuja mola propulsora deveria ser o do diálogo. Seus dirigentes, despreparados, entretanto, procuram “punir” os que não “rezam pela cartilha governamental”. Espécie de censura que deve ser combatida e expurgada.  

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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