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Opinião
Quinta - 21 de Janeiro de 2010 às 15:13
Por: Waldir Serafim

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A Dra. Rita Levi-Montalcini é médica, neurocirurgiã, prêmio Nobel de medicina, italiana de nascimento e que por sua ascendência judia teve que migrar do seu país de origem para fugir da perseguição de Mussolini indo morar nos EUA. Ao completar 100 anos de idade, em 22 de abril de 2009, concedeu entrevista e em resposta à pergunta do jornalista: Como você explica a loucura nazista? Deu a seguinte resposta: “Hitler e Mussolini souberam como falar ao povo, onde sempre prevalece o cérebro emocional por cima do neocordial, o intelectual. Conduziram emoções, não razões”.

Esta é a principal característica do populismo: falar ao coração e não à razão. Os líderes populistas usam e abusam da palavra, fabricam suas próprias verdades, confundem a opinião pública, sem restrição de qualquer espécie. O populismo é basicamente uma reação emocional, em vez de algo baseado em ideias. A emoção passa a ser o fator determinante na política.

O líder populista é antes de tudo um narcisista. Segundo a lenda grega, Narciso apaixonou-se pela própria figura refletida no lago Eco; o populista é um apaixonado pela própria voz. Não é por outra que os líderes populistas falam o tempo todo. Fidel Castro fazia discursos que duravam 12 horas, sem parar. O mesmo faz o seu estrambólico pupilo Hugo Chaves, que já chegou a falar 9 horas seguidas.

Os líderes populistas são carismáticos que vendem a ideia de que são os salvadores da Pátria; são homens providenciais que vão resolver os problemas do povo. Buscam estabelecer vínculos emocionais com o povo para governar. Dão ênfase em políticas sociais desenvolvendo, principalmente, programas assistencialistas, que vinculam o povo em gratidão. Até hoje Evita Perón é endeusada por parcela significativa da população na Argentina, que a trata como a mãe dos descamisados. E, para essa parcela da população, de nada adianta demonstrar que a Argentina, que era o país mais desenvolvido das Américas em 1930, antes do Governo de Perón, passou a ser, depois do seu governo, um país em crise permanente, que perdura até hoje.

Em artigo para o jornal La Nacion, o escritor argentino Marcos Aguinis, autor de “O atroz encanto de ser argentino”, afirma: “nenhum regime populista conseguiu (ou quis seriamente) acabar a fundo com a pobreza, estimular uma educação aberta nem desmontar o fanatismo. Seus programas não apontam para o desenvolvimento sustentado e firme. Não lhe interessam os direitos individuais nem a majestade das instituições republicanas. Pelo contrário, exageram no assistencialismo mendicante, impõem doutrinas tendenciosas e exaltam tipos de animosidade para conseguir a adesão de multidões carentes, exploradas ou perturbadas pela confusão.”

Outra característica do populismo é que ele não admite críticas. Seus críticos são vistos como inimigos, não deles apenas, mas inimigos do povo. Os populistas abominam a liberdade de expressão e procuram controlá-la. Imprensa, só a que reflete o pensamento oficial; o pensamento divergente deve ser calado.

A grande desgraça do populismo é a herança que deixa. Todos os governos populistas da história recente: Hitler, Mussolini, Stalin, Perón, Getúlio Vargas entre outros, deixaram como herança de seu governo um país em crise, não raras vezes em grave comoção social.
Por quê? Porque é da própria natureza do populismo a opção por políticas de curto, curtíssimo prazo.

A despeito de corrigir injustiças sociais históricas, o governo populista dá ênfase total em políticas de distribuição de rendas (ou de dinheiro) aplicando recursos que comprometem o desenvolvimento e, principalmente, o equilíbrio das contas públicas. Não investem o suficiente em setores estratégicos para garantir um desenvolvimento sustentável de longo prazo.
Essa é a praga do populismo: garganta profunda e visão curta.
 
(*) Waldir Serafim é economista e professor universitário



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