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Opinião
Quarta - 13 de Janeiro de 2010 às 00:22
Por: Lourembergue Alves

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Situa-se bem próxima do Rio de Janeiro. Porém, em quase nada se assemelha a antiga capital do país. Exceto pelos morros que a mantém prisioneira. Mas nem tanto, pois a arquitetura urbanística deixa transparecer uma liberdade que é só sua. Toda própria. Talvez em razão de onde se encontre, lá no alto e com a aureola serrana. Localidade não por ocaso escolhida por Dom Pedro II para ser sua morada de descanso. A cidade, então, já nascia sob o signo da realeza. À moda brasileira, sem, contudo, perder os traços europeus, trazidos pelos alemães. 

Assim é Petrópolis. Encantadora. Atraem as pessoas sem precisar da força propagandística (não se quer dizer, aqui, que não haja trabalho nesse sentido). A exemplo do que ocorre com muitas cidades de perfil turístico, inclusive fora do Brasil. Mas quando se chega a tais lugares, as paisagens divulgadas estão fora da realidade. Um real aquém da expectativa, que se criou em razão da massificação de fotografias ampliadas pelo marketing.

O quadro que se tem em Petrópolis é muitíssimo diferente. Suas estampas fotográficas superam, e muito, o que antes se pensava delas. É extraordinário o que se pode ver no interior do Museu Imperial. Tamanho luxo da família que governava o Brasil antes da proclamação da República. A cada objeto visto, o símbolo do poder está presente, representado pelo dragão e a letra que inicia o nome do imperador. Até mesmo um simples berço transforma-se em algo majestoso, grandioso. Tudo ali é cuidadosamente trabalhado. Inexiste o cuidado com os detalhes. Nem deveriam, pois são estes que exemplificam melhor o poderio. 

Tem-se, então, a importância da simbologia. Relevância que a República não abriu mão. Nem os que se apossaram do poder de mando a partir de 1964. Aliás, o regime burocrático-militar, instalado no país, soube tirar proveito muito bem de toda teia de símbolos. Sobretudo no que diz respeito a legitimar um regime que era ilegal e imoral. O golpe de Estado foi logo esquecido, embora a todo instante “os novos donos do poder” caiam em contradição ao retirar dos brasileiros o direito de participar dos negócios públicos. Prejuízo ainda hoje sentido, uma vez que é grande a apatia política por aqui. 

Uma participação que, sem dúvida, passa pela melhor compreensão do país que se tem e do que se quer construir. Processo que obriga os cidadãos da terra a “descobrirem” o Brasil. Não pelos olhos alheios.

Nesse sentido, é valiosíssima a visitação as cidades que retratam as páginas da história, sem perderem de vista o próprio lugar de nascimento ou de moradia. Significativa, portanto, uma espiada no que existe em Petrópolis. Por aqui, as construções apresentam um retrato não encontrado no Estado de Mato Grosso. Embora se saiba que em Cuiabá se pode visualizar o antigo entrelaçado com o modernoso. Não se sabe até quando, pois na Capital mato-grossense o desleixo pelo “antigo” é algo assustador. Diferentemente do que se vê em Petrópolis. Antigo e novo convivem harmonicamente, deixando uma paisagem riquíssima, que parece gravitar em torno da Catedral. Uma construção belíssima. De onde se pode ver não só a residência que fora da princesa-herdeira, mas grande parte da cidade, cujo xodó, talvez seja, a Casa do pai da aviação. Exemplo de como um espaço diminuto pode ser muitíssimo bem aproveitado. E o foi. Tanto que se constitui em um local privilegiado. Ainda mais que a casa do Barão de Mauá, a despeito de seu grandioso quintal, cheio de árvores.

As árvores formam uma fotografia a parte em Petrópolis, contraditoriamente ligada e presa ao desenho arquitetônico urbanístico.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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