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Opinião
Segunda - 03 de Março de 2014 às 08:16
Por: Francisco Faiad

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O calendário cultural de Mato Grosso é extenso. E nem poderia ser diferente. Afinal de contas, uma das marcas mais fenomenais do povo mato-grossense, desde a sua essência, é justamente sua alegria contagiante, o jeito simples e acolhedor, que transborda a emoção daqueles que recebem tamanho carinho. Diria sem medo de errar: o povo mato-grossense é festeiro, devoto de suas tradições e costumes, e está sempre pronto para contagiar quem está por perto. Daí a felicidade ser um aspecto eloquente. 

Um dos escritos mais reveladores da alma do mato-grossense foi escrito pelo jornalista Paulo Renato Coelho Netto, ao fazer uma comparação entre cuiabanos e campo-grandenses. Com algumas ressalvas sobre o paralelo de um e de outro, ele ilustra bem: “Cuiabano é a personificação da alegria. Ele não precisa de muitos motivos para fazer uma peixada e levar você para dentro da casa dele. Já te recebe pela cozinha. Dali a pouco aparece um para tocar violão e outro para fazer a vaquinha para comprar cerveja e tudo bem. Está feita a festa”. 

" Além de abarcar o jeito cuiabano de ser, festeiro, toda essa gente trouxe para este lindo Mato Grosso um pouco de sua cultura e de suas tradições"

A alma cuiabana retrata com alguma clareza a alma do mato-grossense. Esse jeito diferente encanta a todos, paranaenses, gaúchos, mineiros, baianos, potiguar, paulistas e até mesmo os festejantes cariocas. Os novos mato-grossenses, em todos os rincões, trazem essa aura fenomenal de beleza e encantamento. Além de abarcar o jeito cuiabano de ser, festeiro, toda essa gente trouxe para este lindo Mato Grosso um pouco de sua cultura e de suas tradições. 

Contudo, as manifestações festivas e culturais desta terra – e da gente trabalhadora e cheia de fé – que para cá vieram enfrenta, ao longo do tempo, sérios problemas. Definhando diante dos aspectos econômico-financeiros, os eventos que marcam tanto o jeito de ser de um povo estão deixando de acontecer. Por consequência, força-se a ruptura de um elo fundamental na formação do cidadão de Mato Grosso. Logo, teremos apenas. 

Temos notado que ano após ano há uma redução considerável dos eventos festivos com a qualidade de organização e realização que o povo de Mato Grosso merece. Exemplo bate à porta: o carnaval. Se recorrermos aos jornais do passado, veremos que esse período de Reinado de Momo era, em Cuiabá, uma festa portentosa, espetacular, animada. Havia corsos e outros eventos de grande repercussão social. Hoje, limita-se a uma festa localizada em bairros, na maioria das vezes de baixo contexto cultural. Mal estruturada e sem segurança. Motivo: falta verba. 

Por aqui ainda ficamos sem o Festival Internacional do Folclore, que reunia dezenas de representações internacionais e suas apresentações; o Festival do Cururu e Siriri também “quebrou” uma sequência de anos, entre outros. 

Essa situação, em verdade, não se restringe apenas aos eventos cuiabanos. Vejamos o exemplo de Chapada dos Guimarães, que não realizou o tradicional Festival de Inverno. Faltaram recursos. Prefeito de pires na mão, buscando apoio aqui, ali, acolá. O inverno se foi, o ano passou e o que se viu, apesar dos esforços, foi uma quebra de uma tradição. O povo chapadense se viu divorciado do seu mais bonito e maior evento. 

Outra situação semelhante aconteceu em Cáceres, no Oeste do Estado. A falta de um planejamento adequado e a guerra de interesses que permeiam as grandes realizações fez naufragar o Festival Internacional de Pesca – considerado o maior evento dessa natureza realizado em água doce, responsável por atrair milhares de turistas e amantes da pesca. 

Essa realidade precisa ser mudada. Mato Grosso está a exigir um calendário de grandes eventos estruturado, com definição clara da participação pública. Inclusive, com um debate transparente sobre aspectos orçamentários. Investir em lazer e cultura é tão salutar como dar boa aplicabilidade aos recursos da saúde, educação e segurança, além de infraestrutura. Penso que não se pode mais tolerar que festivais e outros grandes festejos de interesse da cultura e do lazer sejam relegados apenas aos interesses privados. 

É bom que se frise: cultura é a somatória de costumes, tradições e valores; é um jeito próprio de ser, estar e sentir o mundo, ‘jeito’ este que leva o indivíduo a fazer, ou a expressar-se, de forma característica. É um forte agente de identificação pessoal e social, um modelo de comportamento que integra segmentos sociais e gerações, uma terapia efetiva que desperta os recursos internos do indivíduo e fomenta sua interação com o grupo e um fator essencial na promoção da saúde, na medida em que o indivíduo se realiza como pessoa e expande suas potencialidades. 

Portanto, merecedor de respeito, atenção e grandes investimentos. Não pode continuar sendo tratado como setor periférico de um Estado em que as manifestações culturais são tão importantes e fazem parte da história e comportamento do seu povo. A política do pires na mão para cultura é o mesmo que jogar no lixo a história e condenar as futuras gerações. 

FRANSCICO FAIAD é advogado e militante do PMDB



Autor

Francisco Faiad

FRANSCICO FAIAD é advogado e militante do PMDB

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