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Opinião
Quinta - 13 de Março de 2014 às 10:34
Por: Rodrigo Rodrigues

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Mato Grosso vem se superando ano após ano. É realmente incrível nossa capacidade de surpreender.

Somos há algum tempo o maior plantador de soja e criador de gado do país, mas não somos referência nacional somente nessa área, somos também referência nacional em fraudes, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, grilagem de terra, enfim, em corrupção em geral.

Uma fonte bem próxima do “coisa ruim”, me confidenciou que, ultimamente, podendo, ele evita passar por essas bandas. A concorrência anda meio desleal por aqui até para o diabo.

Um determinado grupo que orbita em torno do senador Pedro Taques, vem ganhando destaque na mídia por envolvimento em fraudes.

Dentro desse grupo, que seria uma espécie de “estado maior” do projeto senador Pedro Taques governador, há de tudo, um verdadeiro passeio pelo Código Penal. Membros dessa corte, que sonham diuturnamente com o poder em Mato Grosso, tendo Taques como candidato, estão envolvidos em fraude em cooperativas, fraude em leilão no TRT, fraude em guia do IBAMA, fraude em eleição, fraude em combustíveis, fraude no DNIT, fraude em doação de terreno, fraude contra o sistema financeiro, fraude na CONAB, fraude em garimpo, fraude em licitação, fraude na FUNAI, fraude em cirurgia e, por ai vai, a lista é comprida.

Há de se tirar o chapéu pela ousadia dos crimes. Quando a gente pensa que já viu de tudo, que chegamos ao limite, aparece um artista e nos mostra que podemos ir além, muito além. 

São atores dignos de estrearem grandes produções do cinema ou, no mínimo, suas histórias renderiam um bom enredo. São tão dissimulados que merecem estar em cartaz nos melhores cinemas, pois tamanha habilidade faria muito sucesso em Hollywood ou no circo de Soleil.

A última desses “artistas” é tentar tirar o policial José Medeiros da primeira suplência de Pedro Taques, alegando um erro na hora de digitar o nome na ata de registro de candidatura, e que o primeiro suplente seria o senhor Paulo Fiúza, empresário do ramo madeireiro e diretor da FIEMT.

Como se vê, o satanás está certo em se manter afastado daqui, para essa turma o dinheiro pode tudo, e nada pode detê-los, nem o caramulhão.

Segundo alguns membros dessa “corte”, que já conta como certa a vitória de Taques, é inconcebível um mero “policialzinho” pobre, assumir uma vaga no Senado... Nem pensar, tem que ser alguém da FIEMT.

"Segundo alguns membros dessa “corte”, que já conta como certa a vitória de Taques, é inconcebível um mero “policialzinho” pobre, assumir uma vaga no Senado"

O caso da ata é o seguinte: em 2010, Pedro Taques tinha dificuldade de encontrar alguém do segmento do agronegócio para compor sua chapa, com muita conversa Zeca Viana acabou aceitando.

Taques tinha uma grande rejeição por parte dos produtores, principalmente, dos empresários da madeira, devido às várias operações e prisões comandadas por ele quando era do Ministério Público Federal, tendo tratado esses empresários como bandidos. Por causa dessa rejeição foi feito o convencimento para que o empresário Fiúza aceitasse ser o segundo suplente, assim como o Zeca Viana, sem ânimo algum, meio na marra, acabou aceitando, pois nenhum dos dois acreditava na vitória de Taques. 

A primeira ata, que foi assinada por todos que representavam os quatros partidos aliados, PPS, PDT, PSB e PV, com Pedro Taques na cabeça, Zeca Viana como primeiro suplente e Fiúza como segundo, foi devidamente registrada.

Dias depois, consultando sua base, Viana refutou de ser suplente de Taques e nos confidenciou, a mim e ao Pivetta, na época eu era dirigente do PDT, que Pedro Taques não teria a menor chance, e que sua base rejeitava o nome do senador, por isso preferia concorrer a deputado estadual, pois teria mais chance. E assim foi feito. 

Zeca renunciou ao cargo de primeiro suplente para disputar para deputado. Veio a discussão sobre quem assumiria o lugar de primeiro suplente. Rapidamente todos chegaram a conclusão de que dos quatro partidos que faziam parte da aliança somente o PPS não estava contemplado na chapa majoritária. O PSB estava na cabeça de chapa para governo do estado, com Mauro Mendes, o PDT na cabeça de uma vaga para o senado com Pedro Taques, o PV, que era o menor e mais insignificante dos partidos da aliança, estava na cabeça de chapa da outra vaga para o senado com Naildo, só o PPS estava de fora, então de forma consensual ficou decidido que o PPS indicaria o primeiro suplente de Pedro Taques, que era o que tinha mais chance de se eleger. 

Assim foi feito, foi redigida uma nova ata, com a renúncia de Zeca Viana da primeira suplência, colocando seu nome para deputado estadual, e foi indicado o nome de José Medeiros, representando o PPS, para primeiro suplente e mantida a segunda suplência com Fiúza. 

Esta nova ata, alterando a suplência do senador Pedro Taques, é falsa, conforme denúncia feita publicamente em um site de notícias pelo deputado federal Valtenir Pereira. Por que falsa? Vou explicar, a primeira ata foi assinada por todos os representantes dos quatro partidos, como já disse, conforme determina a lei, mas a segunda ata, a que baixou Zeca para deputado e subiu Medeiros para a primeira suplência, não foi assinada por ninguém, pelo simples fato que quando foi feita a alteração todos estavam viajando. E o que fez então a assessoria jurídica? Redigiu a nova ata e pegou as duas últimas folhas da primeira ata, que tinha todas as assinaturas, e grampeou na nova ata, falsificando as rubricas. 

Na época que o deputado Valtenir deu a entrevista dizendo que a ata era falsa causou um grande rebuliço e, em cima disso os advogados do terceiro colocado na eleição para o senado, que foi Carlos Abicalil, entraram com uma Ação de Investigação de Mandato Eletivo (AIME).

Como dirigente do PDT, e por ter assinado a ata, fui chamado para depor. O juiz era o senhor Luiz Alberto Bertolucci. Eu disse a verdade, somente a verdade. 

Só existem dois fatos reais nessa história. A ata é falsa, ninguém assinou esta ata, e sendo falsa o registro é nulo, portanto perda imediata do mandato do senador Taques e convocação do terceiro colocado. O outro fato real é que, mesmo sendo falsa, a primeira suplência é do senhor José Medeiros, pois, nunca durante a discussão sobre quem assumiria a primeira suplência cogitou-se do nome de Paulo Fiúza, nem durante toda campanha esta questão de fraude ou erro foi levantada.

O que essa turma, que a cada dia que passa fica mais conhecida pelas suas fraudes do que pelas suas ações políticas pretende é aproveitar a tese da fraude e fazer uma operação cirúrgica, plantando a ideia que houve um erro, porém nada que comprometa o senador Pedro Taques, e tirar na mão grande a primeira suplência de Medeiros. Uma coisa tão absurda e corrupta que nos faz dar toda a razão ao diabo quando ele diz que quer distância de Mato Grosso.

Por que nas primeiras audiências com o senhor Bertolucci, todos afirmaram que ata era verdadeira, inclusive o senhor José Dorte? O advogado do senador Pedro Taques fez a defesa intransigente de que a ata era verdadeira e que a minha tese e do deputado Valtenir era “fantasiosa”, cadê ele agora, o que ele tem a dizer? O fato é que se esse processo tivesse andando antes, o Zeca Viana, a Luciene Bezerra e o Percival Muniz teriam perdido o mandato também, agora o prejuízo é mínimo para Zeca e Luciene e zero para Percival. 

Reza a lenda que os madeireiros já se organizaram e passaram a sacolinha, levantando um bom recurso para campanha de Taques, assim como os filiados da FIEMT, desde que a suplência fique com o Paulo Fiúza. Os madeireiros mudaram de opinião em relação ao Pedro Taques, eles pensam que o senador agora está domesticado e disciplinado, e que não mais os atacará como fez no passado quando era Procurador Federal. 

"O senhor José Blazack, que é quem está analisando este processo agora, não tem opção, ou acata a tese de falsidade e a perda do mandato de Pedro Taques, ou deixa tudo como está e mantém Medeiros como primeiro suplente" Não acredito nisso, não quero crer que Pedro Taques compactue com isso, até porque isso lhe tiraria muitos votos na região de Rondonópolis, pois lá ninguém aceitaria perder uma vaga no senado, seria como Taques trair os rondonopolitanos, que lhe deram uma expressiva votação, sendo o segundo mais votado, enquanto que em Sinop, terra de Fiúza, o senador ficou em quarto. Outro fato que me leva a duvidar da participação dele nesse golpe é o seu discurso baseado em “justiça e legalidade”. Não pode ele agora, na iminência de se candidatar ao governo, jogar fora seu discurso moralista, o eleitor não vai entender. 

Porém um fato me chamou a atenção esta semana, uma entrevista do senador Pedro Taques a um site de notícias, dizendo que realmente houve fraude na ata. Se ele realmente disse isso, não lhe resta outra opção senão renunciar ao mandato e convocar o terceiro colocado para assumir. Ai sim, o senador ganharia o respeito de todos os eleitores e seria coerente com seu discurso. 

Agora, caso contrário, admitindo que a ata seja falsa e não renunciar, Taques garantirá um destacado lugar na galeria dos piores políticos de nosso país, galeria esta que ostenta o que há de mais maligno, hipócrita, imundo e corrupto em nossa sociedade. Sei que Pedro Taques não acredita em Deus, é ateu, como ele mesmo já afirmou diversas vezes, e até debocha de quem é religioso, mas é hora dele botar a mão na consciência e fazer um ato cristão, tomar coragem e renunciar, rejeitando compactuar com uma fraude.

O senhor José Blazack, que é quem está analisando este processo agora, não tem opção, ou acata a tese de falsidade e a perda do mandato de Pedro Taques, ou deixa tudo como está e mantém Medeiros como primeiro suplente. Qualquer coisa diferente nos remeterá a um tempo sombrio que rondava nossos tribunais, com denuncia de vendas de sentenças, tráfego de influência e intervenção do Conselho Nacional de Justiça, pois com toda certeza será algo inédito na justiça eleitoral, um golpe digno de ser retradado em filmes, ao melhor estilo de “Golpe de Mestre” ou de “Doze homens e um segredo”.

Como disse Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “se Deus vier a Mato Grosso, que venha armado”.



Autor

Rodrigo Rodrigues

RODRIGO RODRIGUES é jornalista e ex-dirigente do PDT

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