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Opinião
Sexta - 14 de Março de 2014 às 08:47
Por: Vicente Vuolo

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O Senado Federal manifestou solidariedade esta semana às vítimas racistas no futebol, ocorridas nos últimos dias. A iniciativa do senador Eduardo Suplicy foi motivada depois que o Brasil assistiu estarrecido a cenas envolvendo o jogador Tinga, do Cruzeiro, ofendido em jogo no Chile, às bananas colocadas no carro do árbitro Márcio Chagas da Silva, em Bento Gonçalves (RS), e aos gritos de "macaco" ouvidos pelo volante Arouca, do Santos, em Mogi Mirim.

O senador cobrou punição exemplar para que as agressões racistas não se repitam, pois essas ocorrências são mais comuns do que se imagina no mundo do futebol, atingindo jogadores, árbitros e dirigentes negros, mas os casos dificilmente se tornam públicos.

Mas, não é só no futebol que o racismo vem crescendo. Segundo o relator da Organização das Nações Unidas (ONU), encarregado de avaliar a discriminação no mundo, Doudon Diène, o preconceito é cada vez maior em muitos países. No Brasil ele está profundamente arraigado em toda a sociedade.

O Brasil sempre lidou com o problema do ponto de vista de "vítima", pelos casos de ofensas racistas em campos europeus. É constrangedor e preocupante tomar conhecimento desses fatos no mundo atual. Estamos assistindo à legitimação intelectual do racismo de uma forma que não víamos alguns anos atrás. Julgo oportuno citar Samuel Huntington, professor da Universidade de Harvard, que publicou recentemente o livro Where Are We? ("Onde estamos"), cuja tese principal é que a presença de latinos na América do Norte é uma ameaça à cultura norte-americana. É um livro que legitima a discriminação da população latina nos Estados Unidos.

Discriminar adultos e crianças com base na cor da pele é, além de ultrapassado, inaceitável. Não vamos repetir os nazistas que acreditavam que a história humana era a de uma luta biologicamente determinada entre povos de diferentes raças, dentre as quais os alemães eram a mais elevada, destinada a comandar todas as outras, a "raça superior". 

Não vamos repetir o latifúndio escravista como forma fundamental de propriedade, com uma legislação repressora contra os escravos que lutavam sozinhos contra o instituto da escravidão. Não vamos repetir a história do racismo no Brasil a partir da chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral, que tiveram dúvidas em saber se os índios eram seres humanos como os europeus ou bestas - tal como animais sem racionalidade ou alma - motivando especulações científicas e religiosas.

Vamos, sim, combater, com veemência, toda e qualquer tentativa de discriminar. O racismo é uma violência que se expressa de várias formas: na forma de piadas, xingamentos ou até na repulsa ao contato físico com a pessoa. Quando se fala de racismo, o primeiro pensamento que aparece na mente das pessoas é contra os negros, mas o racismo é um preconceito baseado na diferença de raça das pessoas. 

Pode ser contra negros, asiáticos, índios, mulatos e até com brancos, por parte de outras raças. Não deixemos que essa praga contamine o país. Justo o Brasil, um país tão acolhedor, alegre e festivo. Vamos exigir tolerância zero para este crime!

As instituições devem ser firmes no respeito à Constituição e às leis. Racismo é crime e não deve ser tratado como uma questão menor. Delegados e agentes policiais devem ser capacitados a tratar as denúncias e não podem ser omissos. O mesmo vale para o Ministério Público e para o Judiciário. E, o mais importante, devemos investir muito em educação. 

É por meio da educação que vamos fazer com que as novas gerações consigam superar as ideias tacanhas que alimentam a ideologia racista que ainda vigora em nossa sociedade. Uma educação de qualidade pressupõe também conteúdos antirracistas e o resgate da valorosa história de nossos povos indígenas e da imediata adoção da história africana e dos afrodescendentes em nossas escolas (Lei 10.639 de 2003).



Autor

Vicente Vuolo

VICENTE VUOLO é economista (UnB), pós-graduado em Ciência Política (UnB), ex-vereador em Cuiabá e analista legislativo do Senado Federal

Comentários (1) Faça um comentário

  • Ana Paula
    Industrial, Guarantã do Norte - MT
    Pessoas que cometem tal ato não começe a Biblia tem uma passagem muito bonita onde diz: Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. 1 João 4:7-8 Quem odeia seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesmo. Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos. 1 João 3:15-16 Seja constante o amor fraternal. Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos. Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se vocês mesmos estivessem sendo maltratados. Hebreus 13:1-3

    Segunda - 17 de Março de 2014 às 16:39h Responder

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