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Opinião
Terça - 20 de Janeiro de 2015 às 11:22
Por: Rodrigo Vargas

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Sabe aquelas promessas que sempre deixamos para colocar em prática numa segunda-feira? Parar de fumar, começar um regime, cortar gastos supérfluos... Quem nunca deixou para a semana que vem o que poderia começar agora mesmo?

Neste vasto campo, o dos autoenganos ligados ao calendário, o dia 1º de janeiro é a maior e mais luminosa das segundas-feiras. O marco zero. O recomeço. A partir dela, desejamos, tudo vai ser diferente.

Nos dias seguintes, com raras exceções, a vida lentamente retoma seu fluxo. Mais cedo ou mais tarde, chega a hora de admitir que muitas promessas (em especial, as mais trabalhosas) ficarão para depois.

Em tempos de governo novo, o fenômeno se torna ainda mais perceptível. Nesses momentos, não são apenas aspirações individuais que entram na lista de desejos. Há também um sentimento de grupo.

Não por acaso, é justamente no primeiro dia do ano que presidente e governadores começam seus mandatos. Não poderia haver momento melhor para reafirmar promessas e repetir bordões inflamados de campanha. É o clima propício ao ato solidário de acreditar. "Não por acaso, é justamente no primeiro dia do ano que presidente e governadores começam seus mandatos. Não poderia haver momento melhor para reafirmar promessas e repetir bordões inflamados de campanha. É o clima propício ao ato solidário de acreditar"

Pedro Taques tomou posse lançando expectativas ao infinito e além: probidade, eficácia nos gastos públicos, conclusão das obras da Copa e combate à violência urbana, para citar apenas alguns temas.

Com aquela conhecida veemência verbal, típica de quem já ocupou a cadeira da acusação em tribunais do Júri, o novo governador antecipou sua gestão como um divisor de águas ético, socioambiental, econômico-financeiro e político-administrativo.

Como diria Garrincha, ainda falta combinar com os russos. Nesses primeiros dias, passada a ressaca da posse, a tal de realidade surgiu com força. Não há dinheiro nem solução milagrosa à vista.

Do que se anunciou até agora, nada de novo. Choque de gestão? Uma simples pesquisa no Google vai relevar que a mesma expressão de efeito é empregada nas posses de governadores e prefeitos ao menos desde a década de 1990.

Demissão de dois mil comissionados? Ato relevante, mas meramente simbólico diante do impressionante vazio orçamentário deixado pelo governo anterior. Sem falar que é outra medida padrão dos novos governos, juntamente com os manjados contratos de gestão.

Um dia, ao final de todas as auditorias, ao cabo de todos os procedimentos administrativos, ao término de todos os preparativos, um governo vai ter de surgir. E, para desencanto dos que acreditam em contos da carochinha, não será como o prometido.

O quanto antes o governador se der conta disso e descer do palanque, melhor para ele e para todos nós. Frases de efeito não ajudam a endireitar viadutos. Maquetes de hospital nunca curaram ninguém. 



Autor

Rodrigo Vargas
rodrigovargas.cba@gmail.com

RODRIGO VARGAS é jornalista em Cuiabá.

rodrigovargas.cba@gmail.com

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