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Opinião
Terça - 03 de Fevereiro de 2015 às 14:09
Por: Rodrigo Rodrigues

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A história muito em breve irá reconhecer o presidente Itamar Franco como um grande estadista, colocando-o no mesmo patamar ou acima de grandes lideranças da chamada Nova República, como Tancredo e Ulisses Guimarães. O ex-presidente ascendeu ao cargo em função do impeachment de Fernando Color de Mello. O país vivia um de seus piores momentos político e econômico.

Junto com o melancólico fim do mandato presidencial de Color de Mello enterrava-se os sonhos de milhares de brasileiros. O sentimento de profunda decepção e frustração era generalizado, afinal Color foi o primeiro presidente eleito democraticamente depois de duas décadas de regime militar.

Os possíveis compromissos e concessões que Color fizera com determinados grupos econômicos para ser eleito se encerrava ali com sua saída, colocando o presidente Itamar Franco numa posição privilegiada, sem amarras. Obviamente que, esses grupos ou seguimentos acostumados a terem o rabo dos dirigentes na mão, não deixariam barato e escalaram ninguém menos que Antônio Carlos Magalhães, também conhecido como “Toninho Malvadeza”, um homem truculento e que já havia enquadrado até general durante o regime militar.

ACM foi pra cima, espalhou aos quatro cantos que tinha em mãos um dossiê denominado a “pasta cor-de-rosa”. Não tardou muito, o presidente Itamar mandou lhe chamar em seu gabinete no Palácio.

"O primeiro deles foi não ter feito uma reforma administrativa, conforme anunciada pelo seu coordenador de transição, prefeito Otaviano Pivetta"

Antônio Carlos Magalhães reuniu sua tropa de choque e com o tal dossiê em baixo do braço pôs-se em marcha rumo ao encontro com o presidente dizendo para seus pares: “vamos enquadrar o mineiro”. Ao chegar ao gabinete presidencial, com o tal dossiê cor-de-rosa, ficou bege, azul e vermelho. Bege ao se deparar com dezenas de jornalistas. Azul de raiva, ao se dar conta de que havia caído em uma armadilha e vermelho de vergonha ao ser desafiado na frente de toda a imprensa a revelar o conteúdo da tal pasta cor-de-rosa. Não lhe restando outra alternativa, deu meia volta, meteu o rabo entre as pernas e saiu cabisbaixo.

Porém, eles tentariam mais uma vez botar um cabresto em Itamar Franco. Depois de algum tempo, surgiram pesadas denúncias de corrupção contra aquele que era seu braço direito, Henrique Hargreaves. Da chamada República de Juiz de Fora, Hargreaves era amigo de infância de Itamar Franco, gozando de sua total confiança e, em mais um gesto de estadista, Itamar Franco o exonerou de imediato, passando um duro recado a todos. Não cederia um milímetro em suas convicções. E esse gesto, que pode parecer insignificante, foi de extrema importância para que ele se firmasse no governo e consolidasse o Plano Real.

Itamar Franco não era dado a discursos demagógicos nem a rompantes moralistas, mas ao demitir seu amigo e homem de confiança ganhou a opinião pública e o respeito dos políticos bem intencionados, enquanto os políticos mal intencionados queimaram ali a “última bala” contra ele.

Em Mato Grosso, nas últimas eleições houve uma forte manifestação de insatisfação. Não é um desejo pelo novo, como muitos tentam colocar e sim pelo rompimento de uma política que já perdurava há mais de uma década, altamente nociva para a sociedade e para o erário público. A era Maggi, que finalizou no dia 31 de dezembro de 2014, privilegiou um seleto grupo, em que pese ter criado uma cortina de fumaça e ter sido bem avaliado no final de sua gestão, os números oficiais apontam para o pior governo de todos os tempos.

Esse imenso desejo de rompimento gerou uma expectativa muito grande em todos os mato-grossenses, que não queriam apenas tirar esse grupo do poder, mas também moralizar a coisa pública, dar um basta definitivo à troca de favores, ao compadrio, às negociatas, ao apadrinhamento político em detrimento da capacidade técnica e, principalmente, pelo fim dos “catitus” da Assembleia Legislativa.

O governador Pedro Taques soube muito bem sintetizar essa vontade em seus discursos. Com muita veemência bateu duro na questão da moralidade pública e convenceu a maioria de que ele seria a pessoa indicada para romper com as velhas práticas. Ai foi fácil, voou em céu de brigadeiro com vento de cauda. Porém, como estamos no verão, é normal a formação de tempestades repentinas. E são nestas tempestades que se testa o pulso do comandante da aeronave.

O governador Pedro Taques em apenas um mês de governo pode ter cometido três erros que lhe custarão muito caro lá na frente. O primeiro deles foi não ter feito uma reforma administrativa, conforme anunciada pelo seu coordenador de transição, prefeito Otaviano Pivetta. Cedeu a apelos fisiológicos e criou cabides de emprego para contemplar empresários falidos e bajuladores de plantão. Nomeou pessoas sem capacidade técnica e sem traquejo político, o que é fatal. Mesmo com um imenso esforço de passar para a opinião pública que o critério de escolha foi técnico, já sabemos que essa tese não se sustenta por mais um mês, pois os verdadeiros técnicos, que são os servidores de carreira foram desprezados.

O segundo erro foi não ter exonerado de imediato os dois secretários acusados de desviarem dinheiro da Secretaria de Cultura. Como se diz lá em Alto Araguaia, onde passa um boi, passa uma boiada.

E o terceiro erro foi seu desastroso envolvimento na eleição da Mesa da Assembleia Legislativa, que de acordo com a denúncia de seu companheiro de primeira hora e presidente de seu partido, deputado Zeca Vianna, negociou cargos em troca de apoio para um determinado candidato. E de acordo também com um prefeito, aliado de primeira hora, fez isso em horário de expediente.

Mediante esses fatos, sobrou apenas um caminho para que o governador Taques se diferencie do seu antecessor e, pelo menos em parte, atenda o anseio daqueles que o elegeram e faça uma profunda reforma administrativa, mantendo no máximo 12 secretarias, colocando técnicos capacitados de verdade, exonerando seus parentes e usando de um mesmo peso e de uma mesma medida para todos os casos e tente ao menos chegar perto do que foi a gestão Dante de Oliveira.

A história nos mostra que no fritar dos ovos a imprensa e os parlamentares, no final, ficam sempre do lado da opinião publica.

Em tempo, após ser demitido, Henrique Hargreaves provou que as denúncias não tinham fundamento e foi readmitido pelo presidente Itamar Franco. 



Autor

Rodrigo Rodrigues

RODRIGO RODRIGUES é jornalista e ex-dirigente do PDT

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