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Opinião
Sábado - 07 de Março de 2015 às 09:17
Por: Wellington Fagundes

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A trégua da luta dos caminhoneiros para se buscar uma solução adequada às suas reivindicações – justas, diga-se de passagem – junto aos governos abriu um leque de discussões sobre o segmento.

A sanção, sem qualquer veto, da Lei dos Caminhoneiros, representou uma grande conquista. Embora tenhamos um longo caminho a percorrer até a completa pacificação do movimento, há no conjunto das medidas sancionadas pela presidente Dilma uma situação posta que considero da maior importância: trata-se do exame obrigatório de toxicologia para os motoristas de carretas e caminhões.

Daqui a 90 dias, todos os motoristas terão que passar por esse exame. Ao mesmo tempo em que o Governo precisa arcar com responsabilidades de assegurar condições melhores aos condutores, com melhoria da infraestrutura, motoristas e transportadores também precisam assumir sua parcela de responsabilidade sobre muitas situações que ocorrem nas rodovias do Brasil. Esse dispositivo da lei, afirmo, precisa ser instrumentalizado.

Para sintetizar o que estou dizendo, reproduzo aqui um texto do jornalista Paulo Tavares, do jornal "Correio do Povo", de Porto Alegre. "Em suma: Mais que o asfalto ruim, temos um quadro de degradação social nas nossas estradas. Entre os caminhoneiros que responderam a pesquisa da Rota do Oeste pelo menos 27% disseram já ter sentido sonolência diurna e 30% contaram que já se envolveram em acidentes nas estradas. "

Ele escreveu em tom de alerta e denuncia: "Enquanto alguns caminhoneiros no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina migram para a cocaína, no centro do país, a situação está mais grave". E ele acrescenta: "Além do crack, os motoristas também estão se valendo de estimulantes conseguidos mais baratos nas estradas brasileiras. Fecha aspas, novamente". Que situação!

A rigor, essa situação não é nova. Em 2007, o procurador do Trabalho, Paulo Douglas realizou com sua equipe, uma pesquisa em Rondonópolis, local de passagens de caminhoneiros, vindos de várias regiões do país.

Na época, foi detectada a tendência da migração do rebite para a cocaína. Sete anos depois, esse mesmo procurador classificava a situação como ainda mais crítica. Percebam, portanto, o que enfrentamos nas nossas estradas.

Durante pronunciamento no Senado, nesta semana, mostrei aos colegas senadores dados de um recente levantamento realizado pela Concessionária Rota do Oeste, apontando que um em cada cinco caminhoneiros que trafega pela BR-163 em Mato Grosso, admite que já usou ou ainda faz uso de substâncias ilícitas e estimulantes - conhecidas como rebites - para poderem cumprir as longas jornadas de trabalho.

Conforme o estudo, também é alto o índice de consumo de álcool e tabaco: 26% admitiram que bebem e 22% são fumantes. Ou seja: saúde e condições de saúde eram – ou são – apenas um detalhe.

Em suma: Mais que o asfalto ruim, temos um quadro de degradação social nas nossas estradas. Entre os caminhoneiros que responderam a pesquisa da Rota do Oeste pelo menos 27% disseram já ter sentido sonolência diurna e 30% contaram que já se envolveram em acidentes nas estradas.

De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, até o começo de fevereiro, 41 pessoas morreram em acidentes nas rodovias federais em Mato Grosso este ano.

O número representa mais que o dobro em relação ao índice registrado no mesmo período do ano passado, quando 20 pessoas perderam a vida nas BRs do Estado.

Boa parte pode ser debitada nessa relação entre necessidade de cumprimento de jornada de trabalho e uso de substâncias proibidas. É um absurdo o que ocorre. O custo social exige ações concretas e efetivas.

O Brasil é um país que depende das carretas e caminhões para se mover rumo ao desenvolvimento e ao equilíbrio social. Mas não se pode aceitar que o ilícito crie raízes.

A realidade está exposta. O Brasil precisa olhar com mais atenção para suas potencialidades e riquezas. E hora de construir a pacificação em bases sólidas, onde a responsabilidade seja compartilhada por todos.

Para isso, a lei precisa valer de fato para todos. É preciso que saia do papel. Para o bem dos que transportam as riquezas. Para o bem dos que usam as estradas.



Autor

Wellington Fagundes

WELLINGTON FAGUNDES é deputado federal do PR e senador eleito por Mato Grosso

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