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Opinião
Terça - 19 de Abril de 2016 às 09:54
Por: ANNELYSE SANTOS

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Estudei História do Brasil nos bancos de uma escola pública da periferia de Cuiabá, que foi onde me formei no ensino fundamental. Depois tive o êxito de estudar na ETF-MT, hoje, IFMT. Oportunidade essa, que tive acesso a um olhar mais humanizado e crítico para a história do meu país.

Cursei Serviço Social na UFMT, pós-graduação, algumas disciplinas no Mestrado e muita formação continuada.

Nesse meu caminho, NUNCA, digo, NUNCA fui a favor do golpe, da intervenção militar para deliberação do vazamento seletivo de informações, da violência, da opressão aos movimentos sociais, do ataque à cara e dolorida democracia desse país.

Vejo com muito pesar tudo que estamos passando e esse momento político do Brasil.

''Temos pautas sociais tão importantes e que assolam milhares de brasileiros, como as inúmeras questões que afetam milhares de crianças e adolescentes, mas que hoje estão esquecidas/isoladas em nome de um espúrio processo de golpe de Estado que estamos vivendo.''

Em outras palavras, os descendentes da Casa Grande estão de volta.

Buscar o impedimento da presidenta é o último capítulo desta batalha para chegar ao Estado anterior. Esses voltariam a ocupar o Estado e fazê-lo funcionar em benefício próprio, excluídas as maiorias populares.

A aliança deles com a grande mídia, formando um bloco histórico bem articulado, conseguiu conquistar para a sua causa muitos dos estratos médios, progressistas nas profissões mais conservadoras na política.

Sakamoto dizia bem: o Brasil é um rapaz que nasce, negro e pobre, no extremo da periferia e, apesar de todas as probabilidades contrárias, chega à fase adulta. É um vendedor ambulante que sai de casa às 4h30 todos os dias e só volta tarde da noite, mas ainda arranja tempo para ser pai e mãe.

É a jovem que, mesmo assediada no supermercado onde trabalha, não tem medo de organizar os colegas por melhores condições.

É a travesti que segue de cabeça erguida na rua, sendo alvo do preconceito de “homens e mulheres de bem'', sabendo que não consegue emprego simplesmente por ser quem é.

É um adolescente criminalizado e rotulado como "menor agressor e delinquente" que cumpre o ato infracional em condições indignas/sub-humanas e que não encontra no atual Governo prioridade absoluta para reformar e construir novas unidades socioeducativas e humanizadas em nosso Estado.

É uma criança que vende doces na rua, para auxiliar na renda familiar, e leva um "soco no meio da cara", uma agressão, tendo como fator causador o trabalho infantil. E ainda acham no discurso diário e comum que "é melhor trabalhar que roubar. Mente vazia oficina do diabo".

É a menina explorada sexualmente em nossos municípios. É o menino que vem a óbito pelas violências a qual os adolescentes estão submetidos diariamente. São nossas crianças e adolescentes marginalizados.

O Brasil é resistência. Não aquela cantada em prosas e versos, da resistência dos ricos e poderosos, que com seus grandes nomes deixaram grandes feitos que podem ser lidos em grandes livros ou vistos diariamente na TV.

Mas a resistência solitária e silenciosa de milhões de anônimos que não possuem cidadania plena, mas tocam a vida mesmo assim.

Se houve melhora na maneira como esse país trata os mais humildes, isso se deve à sua resistência, ou seja, sua mobilização, pressão e luta e não a bondades de supostos iluminados ou da esmola das classes mais abastadas. Até porque nossos “grandes líderes'' naufragam em tempos de chuva ou desidratam em tempos de seca.

Sob a justificativa da “governabilidade'', o governo federal fez alianças espúrias, apoiando forças econômicas e políticas que eram contrárias aos interesses populares, ignorando o suporte oferecido por esses mesmos movimentos para um mandato que significasse uma mudança de paradigma.

Se um país é a soma das histórias de sua gente, gente que apanha da vida e se mantém de pé, então esse país vale a pena. A consciência das classes populares ainda não está despertada.

Sinto um pesar muito grande e doloroso pela História que estou vendo diante dos meus olhos. Espero e luto por dias de superação.

Dias em que veremos os temas da infância e adolescência não em pauta para oprimir ou com o orçamento/financeiro reduzido a nada, mas para avançar, progredir, garantir e fazer com que a prioridade absoluta não seja uma letra morta no jovem Estatuto da Criança e Adolescente.

Espero e luto diariamente. Porque essa é a esperança e fôlego de nosso amanhã diário. Respeito ao voto dos brasileiros e brasileiras. Respeito à Democracia do nosso País.

Custe o que custar? Já vimos isso em uma história não muito distante nos bancos da escola da vida.

ANNELYSE CRISTINE CÂNDIDO SANTOS é assistente sSocial, especialista em Política Social, conselheira do Conselho Regional do Serviço Social (CRESS – MT), presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente, analista assistente social do Ministério Público do Estado de Mato Grosso.



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