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Opinião
Sábado - 23 de Julho de 2016 às 11:45
Por: Ronaldo Mota

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Platão foi um dos mais importantes filósofos da Grécia Antiga, tendo fundado, em 387 a.C., a Academia, primeira escola do mundo ocidental. As teorias e concepções platônicas estão diretamente ligadas à sua teoria da alma.

No seu livro “República”, Platão concebe o homem como corpo e alma separáveis. Enquanto o corpo, que nada sabe, é mortal e impuro, a alma, que tudo sabe, é pura, imutável e eterna.

A ciência, ancorada no método científico, decretou a não existência da alma na falta de evidências e de comprovações objetivas acerca de sua realidade física.

No entanto, Michael Graziano, pesquisador da Universidade de Princeton, um das mais prestigiadas dos Estados Unidos, sugere que o cérebro realiza tentativas de copiar a si próprio, transcendendo os processos mais simples, descritos via neurônios e sinapses, simulando algo que seria uma espécie de consciência, um “fantasma” que coabita o cérebro, ao qual podemos associar o conceito de alma, se considerarmos as funções atribuídas a ela por Platão.

No seu livro 'República', Platão concebe o homem como corpo e alma separáveis. Enquanto o corpo, que nada sabe, é mortal e impuro, a alma, que tudo sabe, é pura, imutável e eterna

Nesta mesma linha, o pesquisador Max Tegmark, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), também nos EUA, associa a ideia de alma a um estado especial da matéria, o “perceptorium”, que transcende as suas fases clássicas: sólida, gasosa ou líquida.

O “perceptorium” seria o ente responsável e proporcionaria a subjetividade, que viabiliza a existência da consciência, fruto transcendente dos arranjos complexos de átomos e moléculas, semelhante ao que propunha Platão.

Como tais pensamentos se relacionam com algumas teorias educacionais contemporâneas? Não há nada direto ou evidente, mas aparentemente tudo se passa como se a alma ou estados transcendentes de consciência estivessem associados ao conceito de metacognição, ou seja, além da cognição.

Cognição está relacionada aos processos mentais de aquisição do conhecimento, envolvendo fatores diversos como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc. Curiosamente, a palavra “cognitionem” tem sua origem nos escritos de Platão e Aristóteles.

Metacognição se conecta ao aprender a aprender, algo além do aprender e suas etapas clássicas, abrangendo conhecer o próprio ato de aprender, contemplando especialmente os níveis de consciência ativa dos atores envolvidos no processo de aprendizagem.

Assim, metacognição está relacionado ao ato de pensar sobre o próprio pensamento, no qual a reflexão e a autoconsciência sobre a maneira como se aprende tornam-se, progressivamente, tão importantes como o próprio conhecer.

Tão ou mesmo mais importante do que aquilo que se aprendeu é se o educando aumentou, ao longo do processo de aprendizagem, o seu nível de consciência sobre os mecanismos segundo os quais a educação se desenvolve.

Se cognição é ensino, metacognição é educação, lembrando as palavras de Albert Einstein: “Educação é o que fica depois que esquecemos o que nos foi ensinado”.

De forma bastante simplificada, cognição estaria ligada aos processos clássicos do cérebro e a aquisição de conhecimento, envolvendo as camadas de saberes, mediados pelos neurônios e pelas sinapses, enquanto metacognição incluiria algo transcendente que lembraria o conceito da alma ou consciência, contemplando, em complemento, a reflexão sobre o próprio conhecer e as diversas interconexões entre as camadas de saberes.



Autor

Ronaldo Mota

É reitor da Universidade Estácio de Sá.

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