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Opinião
Segunda - 30 de Janeiro de 2017 às 18:27
Por: Luis Nassif

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Algum tempo atrás, se houvesse votação interna no Ministério Público Federal para eleger o Procurador símbolo, o vencedor seria Pedro Taques.

Taques era uma espécie de anti-Deltan Dallagnol. Enquanto o campo de batalha de Deltan são as trepidantes telas de computador, a consulta a bancos de dados e o cenário de baixo risco das entrevistas coletivas, Taques enfrentava os riscos verdadeiros.

Cada vez que entrava em um restaurante de Mato Grosso, provocava dois movimentos. Primeiro, aplausos dos presentes. Depois, o restaurante se esvaziando com receio de algum atentado.

Não era por menos.

Eleito governador, acabaram as circunstâncias que fizeram de Taques um campeão das virtudes públicas e entraram as oportunidades para introduzi-lo no reino dos vícios políticos

Taques se tornou nome nacional como procurador da República no Mato Grosso na Operação Arca de Noé, combatendo supervilão João Arcanjo Ribeiro, o "Comendador" Arcanjo, rei do bicho do estado, dono de cassinos e do tráfico, recursos em off-shores, paraísos fiscais, parte dos quais foi lavado em grandes plantações de soja. Blairo Maggi, o segundo maior plantador de soja do mundo, aliás, poderá contar um pouco mais sobre como esse fascinante personagem ajudou a alavancar competidores de Blairo, quase tão fortes quanto ele.

Era tão poderoso que, quando um desavisado superintendente do Banco do Brasil mandou cobrar uma dívida, recebeu a visita do "Comendador" com um aviso curto e grosso:

-- Se me cobrar de novo, te mato!

Foi preciso o governador da época ligar para Arcanjo para acalmá-lo.

Assim como outros varões de Plutarco da política - como o ex-senador Demóstenes Torres – Taques criou fama de incorruptível. E deitou na cama. E a política brasileira ganhou um campeão da moralidade para ajudar a mudar os hábitos seculares.

Candidatou-se ao Senado em cima do mote único do mocinho contra o bandido.

Eleito, tornou-se o preferido do MPF, a ponto do Procurador Geral da República Roberto Gurgel desengavetar uma denúncia contra Renan Calheiros no exato dia em que haveria eleição para presidente do Senado. O outro candidato era Pedro Taques.

Ali, o MPF já mergulhara até a tampa na politização das denúncias. Aceitava-se que a gaveta de Gurgel - para onde iam as denúncias contra políticos - fosse controlada apenas por ele e sua esposa.

Na gaveta em que a denúncia contra Renan repousava, aguardando o momento de vir à tona, ficariam guardadas denúncias contra Aecio Neves, o colega de Gurgel Demóstenes Torres e sabe-se lá quem mais, para serem utilizadas quando e se necessárias, ou servir como arma de barganha – conforme rumores que correram na época da indicação de Gurgel para um segundo mandato à frente da PGR..

Eleito governador, acabaram as circunstâncias que fizeram de Taques um campeão das virtudes públicas e entraram as oportunidades para introduzi-lo no reino dos vícios políticos.

Largou o PDT, por onde foi eleito, entrou para o PSDB, partido com o qual o MPF majoritariamente tem mais afinidades. Depois que Michel Temer assumiu o poder, aproximou-se do PMDB local.

Em menos de dois anos, espocaram denúncias. Primeiro, propinas em obras públicas. Agora, a denúncia do procurador-geral de Justiça em exercício de Mato Grosso, Luiz Alberto Esteves Scaloppe, de que Taques estaria agindo em favor do mais suspeito político em atividade, Ministro Eliseu Padilha (https://goo.gl/5blsyn).

O Ministério Público Estadual entrou com medida para obrigar o governo do Estado a tomar providências e regularizar o parque estadual, cuja área foi invadida por Padilha. Taques não apenas não tomou medida alguma como colocou a Procuradoria-Geral do Estado para derrubar a liminar.

No início Taques agiu à sorrelfa (para utilizar um termo familiar no linguajar jurídico). Primeiro convocou uma reunião no Palácio do Governo com a promotora Regiane Soares Aguiar, que atuava no caso. As pressões foram tantas que a promotora saiu do Palácio com a convicção de que havia alguém mito forte por trás das pressões de Taques. Não levou muito tempo para saber que era Padilha.

Em dezembro de 2016, o ex-procurador Taques, egresso de um poder, o MPF, que se consagrou na defesa das causas ambientais, reuniu outros posseiros do parque para se manifestar contra a decisão do MPE de preservar áreas públicas.

As ações obscuras de Taques político não se restringiram a esse episódio.

Carlinhos Cachoeira, que mantém intacta sua influência política em Goiás e Brasilia, descobriu na construção de prédios escolares um dos negócios promissores para exercitar a corrupção política.

Em dezembro passado, a Operação Rêmora - também do Ministério Público Estadual do Mato Grosso - trouxe à luz o delação do ex-secretário de Educação Permínio Pinto, admitindo fraudes em licitação em troca de financiamento para a campanha de Pedro Taques (https://goo.gl/kMZdBP).

A alegação de Taques foi de que demitira todos os envolvidos no esquema, aliás, medida prudencial, já que estavam presos ou detidos provisoriamente.

A delação do empresário Giovani Guizzardi trouxe detalhes complicados, de que se tratava mais do que caixa 2 de campanha, mas propina (https://goo.gl/n51TuC).

Segundo ele, no final de 2014, o empresário Alan Maluf informou ter "investido" R$ 10 milhões na campanha de Taques, e que teria que recuperar esse valor investido junto ao Estado.

Taques recorre às respostas padrões sobre suspeitas em financiamento de campanha e invocou o passado como blindagem contra o presente:

"O governador reitera o que já disse em outras situações, de que a prestação de contas da sua campanha eleitoral de 2014 foi aprovada sem ressalvas pela Justiça Eleitoral e que, por essa razão, repudia toda e qualquer tentativa de envolvê-lo em qualquer ato ilegal, prática que ele sempre combateu ao longo da sua vida, especialmente nos 15 anos nos quais atuou como Procurador da República".

Quando Eliseu Padilha cumprir o que o destino lhe reserva – a prisão – Taques se constituirá em boa análise de caso sobre as circunstâncias que separam o probo do ímpio.

Luis Nassif é jornalista.



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