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Opinião
Sábado - 18 de Março de 2017 às 08:49
Por: Marco Marrafon

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Dentre todos os desafios enfrentados por quem faz gestão educacional hoje, no Brasil, o maior deles talvez seja não perder jamais, em meio aos problemas do dia-a-dia, o foco na qualidade do ensino, na melhoria da ambiência nas escolas e na qualidade de vida, reconhecimento e valorização dos profissionais da Educação.

Não por outro motivo, são esses os três principais objetivos do Pró-Escolas, o maior programa de investimentos da história da educação de Mato Grosso - que está nascendo neste ano umbilicalmente ligado ao Plano de Governo da Gestão Pedro Taques.

O Pró-Escolas possui quatro eixos de ação: Ensino, Estrutura, Inovação e Esporte e Lazer - e é a soma do investimento em cada um deles que trará os melhores resultados, no curto e médio prazos.

A diferença do Pró-Escolas, além do grande volume de recursos que serão investidos, está na sua própria concepção - enriquecida pela contribuição da comunidade escolar de todo o estado - e também no modo como está sendo colocado em prática: a partir do compromisso humanista com o estudante que, em muitos casos, tem apenas a educação como porta de acesso à vida digna pessoal e profissionalmente.

A relação entre a falta de estudo e a morte violenta é, portanto, clara e direta

Por isso, além de reformar e construir escolas, universalizar a matrícula, melhorar a transparência e coibir a corrupção, a qualidade de ensino e a aprendizagem surgem como ícones que garantem a própria legitimidade da escola pública e gratuita.

Não é possível mais admitir indíces que chegam a 36% de distorção entre idade e série no primeiro ano do Ensino Médio (o que reflete em alta retenção e alta evasão escolar) e casos em que mais de 50% dos estudantes abandonam a escola nesta etapa do seu processo de formação. É preciso franqueza ao tratar do assunto: a evasão escolar mata.

O mais recente Atlas da Violência no Brasil, divulgado neste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FPSP), mostra que 53% das mortes violentas ocorridas no país são de adolescentes entre 15 e 19 anos.

Segundo o mesmo levantamento, um jovem brasileiro de 21 anos de idade, que tenha menos de sete anos de estudo, tem 16,9 mais chances de ser vítima de homicídio do que qualquer outra pessoa, em qualquer outra idade ou condição de vida.

A relação entre a falta de estudo e a morte violenta é, portanto, clara e direta. Do ponto de vista da gestão pública, não prender a atenção do adolescente na escola significa ter que prendê-lo amanhã, literalmente, para que ele não mate ou seja precocemente morto, seja pela violência nas ruas, seja pela barbárie dos presídios.

Por sorte, já temos exemplos de escolas públicas que conseguem ser atrativas, despertar o interesse pelo estudo e, o que é fundamental, oferecer ao estudante a condição necessária para que ele descubra sua vocação, escolha uma carreira profissional e até encontre um sentido para a vida, melhorando a aprendizagem e diminuindo a evasão.

Como o nome já diz, uma escola "integral”. Não o tradicional ensino de “tempo integral”, significando que o estudante passa o dia inteiro na escola. Mas integral porque leva em consideração a integralidade do ser humano, trabalhando todas as dimensões (cognitiva, de afetividade, corporeidade e espiritualidade) e necessidades do aluno.

Não é o estudante que se adapta a um conteúdo maçante, imposto de cima para baixo. É a escola que, adaptada a várias realidades, tem a capacidade de dispensar um cuidado especial a cada aluno, considerando suas necessidades de aprendizagem e desenvolvimento.

O Estado do Pernambuco começou a implantar essa fórmula no ano de 2007. Depois de enfrentar certa resistência no início, hoje a chamada “escola da escolha” é um grande sucesso, segundo testemunham os próprios estudantes e comprovam os índices.

O último Censo Escolar do Governo Federal mostra que a taxa de desistência em escolas de tempo integral, em Pernambuco, é de apenas 1,3%. Em 2007, esse índice, medido em toda a rede estadual, era de impressionantes 24,5%, um dos piores do país.

Ou seja, há menos de 10 anos, um quarto dos estudantes desistia da escola antes de terminar o ensino médio. Hoje, eles não só terminam os estudos, como têm desempenho entre os dez melhores do país. São Paulo copiou o modelo e, do mesmo modo, vem alcançando resultados rápidos e extraordinários.

Em Mato Grosso, com a determinação e o apoio do governador Pedro Taques, começamos um planejamento sério e iniciamos as discussões com a comunidade escolar para escolher o melhor modelo de ensino integral – a ser implantado gradativamente e de acordo com a nossa realidade financeira e social.

O novo modelo de ensino integral, ao qual demos o nome de Escola Plena, tem como princípio a qualidade e a implantação de uma proposta inovadora que alia melhor ensino com adequação às necessidades dos projetos de vida de cada estudante.

Além das aulas expositivas, o professor se torna tutor e são criados núcleos de incentivo e de aprofundamento às diferentes atividades educacionais: física, matemática, português e literatura, música, artes, esportes, tecnologia e robótica, dentre inúmeras outras possibilidades a serem formatadas de acordo com a criatividade e o interesse da comunidade escolar.

Neste ano, passamos de 4 escolas integrais no ensino médio para 15 Escolas Plenas, incluindo a Arena da Educação. Nelas, o estudante terá a oportunidade de escolher as disciplinas complementares de acordo com a sua vocação ou projeto de vida, contará com um acompanhamento personalizado nos estudos e poderá experimentar de imediato aquilo que possivelmente vai vivenciar no mercado de trabalho, quando deixar a escola. Em uma palavra, o estudante será o protagonista de sua própria vida.

Não há dúvidas de que o papel do professor é imprescindível, mas é preciso rememorar que não há fórmula mágica nesse campo, desde a Academia de Platão (383 a.C.): o aprendizado é diretamente proporcional à decisão do estudante em aprender e se aperfeiçoar. Para isso, ele deve permanecer na escola – e a escola deve estar preparada para ele.

Ainda há muitos desafios a superar, especialmente na melhoria da estrutura escolar, mas não deixaremos que as dificuldades do dia-a-dia nos distancie do compromisso ético-humanista fundamental: formar cidadãos plenos que possam realizar seus sonhos, serem felizes e alavancar a transformação social pela via da educação.

Marco Marrafon é secretário de Estado de Educação, Esporte e Lazer de Mato Grosso



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