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Opinião
Quarta - 05 de Julho de 2017 às 08:15
Por: Marcelo Duarte

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Imagine um país que em meados do século passado era pobre e agrário, que sobreviveu a Ditadura Militar nos anos 1960 e 1970, se redemocratizou a partir da década de 1980, e, em 2016, passou por um doloroso processo de impeachment presidencial por conta de casos de corrupção. Sem dúvida, os fatos remetem ao Brasil, mas escrevo aqui sobre a surpreendente Coreia do Sul, que se reinventou e hoje é uma das economias mais avançadas do planeta. O tigre asiático exporta para todo o mundo desde grandes navios, veículos, arroz a produtos eletrônicos de primeira linha (provavelmente, você, leitor, tenha um smartphone sul-coreano).

Alguns favores foram fundamentais para este salto em desenvolvimento, como pude comprovar pessoalmente em viagem a Capital Seoul, na semana passada, onde fiz um intercâmbio sobre infraestrutura, a convite do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que irá fazer investimentos em Mato Grosso. Destaco a adoção pela Coreia do Sul de uma política educacional forte, que criou as bases para o fortalecimento econômico e social. Em menos de 50 anos, o país reduziu o analfabetismo de 78% para somente 2%. Aliado ao impressionante avanço na educação, houve também um forte incentivo às exportações. Enquanto muitos países, como o Brasil, optaram por trabalhar com a substituição de importações, o Tigre Asiático foi corajoso e adotou a estratégia de fortalecer o setor empresarial, com foco no incentivo à inovação tecnológica.

A regra na Coreia do Sul é clara. Não há incentivo às empresas que não estejam alinhadas com a política nacional de crescimento do país. Por lá, o foco é na exportação de seus produtos, e os subsídios governamentais obedecem a rigorosos critérios baseados na meritocracia, que levam em conta a performance e a eficiência. São sul-coreanas marcas conhecidas do nosso dia a dia, como Samsung e LG, Hyundai e Kia, entre outras. Por aqui, na América Latina, a realidade é outra. Governos populistas fomentaram, nas últimas décadas, setores da economia e empresas com critérios pouco claros, causando distorções de mercado, promovendo a ineficiência em detrimento do fortalecimento da economia.

No entanto, o caminho para este desenvolvimento alcançado pela Coreia do Sul foi repleto de desafios. O país teve que tomar um novo rumo político e superar a crise econômica da década de 90, mesmo convivendo com a iminente ameaça de uma guerra com a vizinha Coreia do Norte. Ressalto que, recentemente, foi concluído o processo de impeachment que culminou com a saída da presidente Park Geun-hye, prova do amadurecimento político. Na capital Seul, onde estive, é possível sentir que tomou conta das pessoas a vontade de rever os velhos valores morais e éticos, e colocá-los em prática. A crise política e econômica que vivemos hoje no Brasil também tem sido superada por eles de uma maneira de serve de exemplo para nós.

Durante a crise de 1997, a economia sul-coreana enfrentou sua maior provação, e foi somente por meio de reformas profundas e a definição de um foco renovado no investimento em alta tecnologia que o Tigre Asiático conseguiu se tornar uma economia desenvolvida. Paralelo a estes fatores, em um ambiente de pouco diálogo, o país tem superado de forma serena as constantes tensões com a vizinha socialista Coreia do Norte, do presidente Kim Jong-un, que mantém a Ásia sempre em alerta para o risco de uma guerra.

Estudiosos apontam, porém, que o crescimento da Coreia do Sul tem sido um pouco mais lento que o habitual nos últimos anos. Entre os fatores que contribuíram para este cenário, está a tensão que obrigou o país a implantar um sistema antimíssil dos EUA em seu território, e o desgaste das suas relações comerciais com a China, principal parceiro comercial. Mesmo assim, as finanças públicas não se deterioram, porque governo e setor empresarial têm como visão o trabalho de forma alinhada para o crescimento econômico do país.

Apesar de tantos desafios, a infraestrutura logística da Coreia do Sul avança em ritmo acelerado. Com 99.016 km² de extensão territorial, o pequeno país asiático representa pouco mais de 10% do tamanho de Mato Grosso (903,3 km²). É praticamente o tamanho do estado de Pernambuco (98.311 km²). No entanto, é um gigante quando o assunto é investimento pesado em estradas, portos, aeroportos e hidrovias. Em outro artigo, detalharei melhor esse avanço na infraestrutura e apontarei uma visão sob perspectiva para nosso estado e país.

Durante estes dias de aprendizado, pude verificar que foram estas as bases que contribuíram para a Coreia do Sul se tornar uma das maiores potências econômicas do mundo. Um país que se reinventa, sem medo de arriscar em novas tecnologias, que conheceu um crescimento espetacular nos últimos 30 anos por investir em qualidade e o foco no incentivo à meritocracia e na exportação dos seus produtos, que são consumidos por pessoas de todo mundo. Do Leste Asiático, vem um exemplo de como o Brasil poderá caminhar rumo a um futuro mais próspero, superando desafios com a união do setor empresarial e o governo para fortalecer e superar a atual crise econômica.


Marcelo Duarte é secretário de Estado de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso (Sinfra-MT), mestre pela Universidade de Lincoln (Nova Zelândia), com curso de gestão pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos (EUA). É graduado em administração pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Master in Business Administration (MBA) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).



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