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Opinião
Segunda - 05 de Novembro de 2018 às 07:21
Por: Renato de Paiva Pereira

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Por ter nascido pobre vim ao mundo sem grandes expectativas. E como as perspectivas de realização de grandes sonhos eram muito remotas eles ficavam fora da relação dos desejos ou das esperanças.

Também os tempos eram outros: não tinha televisão para ver os recorrentes lançamentos da moda; nem se pensava na internet e suas onipresentes redes sociais e, talvez por falta de ferramentas, não havia a tolice de mostrar onde está, o que está fazendo, comprando ou vestindo a todo instante.

Claro que vaidades sempre existiram, mas eram mais discretas, tanto que o filósofo brasileiro Matias Aires (1705-1763) afirmou “de todas as paixões a que mais se esconde é a vaidade”. Se ele visse o comportamento das pessoas nas redes sociais buscando likes desesperadamente, por certo concluiria que hoje a vaidade não se esconde.

Essa ultra exposição tem o dom de criar e alimentar expectativas, que não satisfeitas causam infelicidade. Se os desejos são adaptados à situação social e econômica de cada um, pequenas realizações transformam-se em grande prazer. Mas se são exagerados ou desproporcionais à possibilidade real vão, dia a dia, acrescentando frustrações, que acumuladas podem provocar doenças.

Estatísticas atuais informam que está havendo uma epidemia de depressão e de suicídios, principalmente entre os mais jovens. Os pesquisadores atribuem este aumento aos efeitos da exagerada exposição nas redes sociais de conquistas fabricadas, ou, no mínimo, exageradas, na busca de autopromoção.

O culto ao corpo, que consome várias horas por dia forjando músculos à custa de suor e anabolizantes; a insatisfação com qualquer coisa que não seja perfeita – dente meio torto ou não suficientemente branco, seios fora do padrão desejado, nariz sem o formato ideal – aumenta a expectativa de perfeição e vira um tormento às vezes difícil de suportar.

Também a exibição de riqueza através de joias, carros, viagens, hospedagens em hotéis chiques, visitas a restaurantes estrelados, roupas caras e bolsas de cinco mil dólares acabam criando uma sensação de infelicidade como se essa condição fosse corriqueira e disponível para todas as pessoas.

A inveja, que em maior ou menor grau habita todos os humanos, pode ser gerenciada ou ficar danosamente descontrolada frustrações.

Voltando ao começo: o que rege a vida são as expectativas, quem as têm na medida certa dispensa a vanglória de ser o primeiro em tudo e alegra-se com cada pequeno sucesso. Essa história de que “o importante é competir” deve ficar restrita ao esporte. Para a vida comum eu diria que “competir é importante pra quem acha que é importante competir”.

Afinal a vida, como a entendo, é somente uma estrada que partilhamos com outros caminhantes curtindo a felicidade possível e sofrendo os reveses inevitáveis. No fim dela vamos ver que não há um Paraíso à nossa espera e que “cumprir a vida é simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente”, como diz a música do Almir Sater.

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.



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