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Opinião
Sábado - 01 de Dezembro de 2018 às 09:32
Por: Vicente Vuolo

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Há 169 anos nasceu um dos maiores ícones da história política deste país: Ruy Barbosa, um polímata, que serve de referência bíblica para os nossos novos governantes que tomarão posse a partir de janeiro de 2019.

Um exemplo de estadista a ser seguido por todos. Diplomata, jurista, escritor, filósofo, deputado e senador por vários mandatos, ministro da Fazenda, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, ferrenho defensor do federalismo, do abolicionismo, dos direitos e garantias individuais e da ética na política.

Um doutor em educação política, propagador de ideias e defensor de causas. Esse é o verdadeiro papel do político que faz política com “P” maiúsculo (e não de indicar cargos no executivo e usar o mandato para benefício próprio como alguns ainda insistem em fazê-lo nos dias de hoje).

A sociedade espera dos parlamentares eleitos ética na política e por isso deu um recado claro nas urnas. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal terão a maior renovação das últimas décadas. No Senado, apenas 8 das 54 vagas disputadas serão ocupadas por candidatos que concorreram à reeleição no último pleito. Na Câmara, a renovação deve ficar acima de 50% das cadeiras.

Um exemplo de estadista a ser seguido por todos. [...] Um doutor em educação política, propagador de ideias e defensor de causas.

Como seria salutar e inspirador colocar o retrato de Rui Barbosa em cada gabinete e lembrar sempre das suas sábias palavras: “A falta de justiça, srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação”.

O polímata brasileiro sempre foi um homem de grande postura. Contrariado por ver que os princípios, pelos quais lutara e que consagraram a sua vida, estavam sendo relegados pela situação política na época, com a intervenção militar de Epitácio Pessoa, Ruy Barbosa renuncia ao cargo de senador em 10 de março de 1921. O afastamento do Senado não durou muito tempo. Foi reeleito em junho de 1921 senador pela Bahia. Reassumiu a cadeira em 29 de julho, reiniciando sua luta pela revisão constitucional.

Segundo D. Pedro II: “Nas trevas que caíram sobre o Brasil, a única luz que alumia, no fundo da nave, é o talento de Ruy Barbosa”. Para José do Patrocínio: “Deus acendeu um vulcão na cabeça de Ruy Barbosa”. No livro “Minha Formação”, Joaquim Nabuco afirma: “Ruy Barbosa, hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país”. Benjamin Constant disse: “Seu artigo de hoje, Plano contra a Pátria, fez a República e me convenceu da necessidade imediata da revolução”.

Em junho de 1907, Ruy Barbosa vai à Conferência da Haia atendendo ao convite do então ministro das Relações Exteriores, Barão do Rio Branco, sendo esta a sua consagração mundial. E por quê? Na Conferência, foi discutida a criação de uma Corte de Justiça Internacional (Tribunal de Arbitramento) permanente, da qual participariam apenas as grandes potências – Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. O grande brasileiro não se intimidou, enfrentando os defensores daquela proposta e argumentou em seu discurso o seguinte: “ ...que selecionar para aquele Tribunal, países com maior poderio militar, iria estimular uma corrida armamentista, e o curso político mundial seria direcionado para a guerra, o que contrariaria os objetivos daquela Conferência de Paz. Ante a ordem jurídica internacional, todas as nações são iguais e soberanas. ”

A imprensa internacional destacou a brilhante atuação do jurista brasileiro, cuja brilhante participação na Conferência “fomentou a imaginação popular no Brasil, onde foi transformado em uma espécie de herói imbatível”. Depois de sua atuação, passou à história como o “Águia de Haia”.

Em 5 de novembro de 1924, Otávio Mangabeira, lembrando a data de seu nascimento, discursou: “... enriqueceu a língua portuguesa, pela palavra falada e pela escrita, com as mais belas obras de arte. Em Haia e em Buenos Aires, para um auditório que era a humanidade, falou, por idiomas estrangeiros, em alocuções imortais que comoveram o Universo, a linguagem das mais lídimas aspirações humanas. Nunca fraqueou ante a injustiça, ante a ingratidão, ante os revezes. Nunca se acobardou ante o perigo. (Aplausos) ”

Ruy Barbosa foi um cidadão público que fez da advocacia um verdadeiro sacerdócio, das suas obras a prevalência dos princípios morais e éticos. No discurso aos bacharelandos da Faculdade de Direito de São Paulo, em 1920, denominado “Oração aos Moços” escreveu: “Entre as leis ordinárias e a lei das leis, a Constituição, é a Justiça quem decide, fulminando aquelas quando com elas colidirem”.

Nossos heróis devem ser lembrados, cultuados até, para que tenhamos força moral para continuar acreditando que o Brasil pode ser a terra da ética e da democracia. A força de seus exemplos deve ser o motor que nos faça também deixar bons exemplos às novas gerações.

VICENTE VUOLO é economista e cientista político.



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