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Opinião
Quarta - 12 de Dezembro de 2018 às 10:07
Por: Caiubi Kuhn

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No último mês de outubro, um dito “pesquisador” que afirma que a terra é plana, recebeu da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, uma moção de congratulação pelas diferentes atividades realizadas na área do conhecimento. Esse fato demonstra o triste cenário da ciência e da educação brasileira, e mais do que isso, demonstra o quanto os políticos brasileiros desprezam o conhecimento científico.

Para termos uma ideia sobre o formato da terra não precisa de muita coisa. Basta olhar para o céu que veremos que todas os astros possuem forma similar a uma esfera. Estamos no século XXI, o ser humano possui uma estação espacial na orbita da Terra, além de inúmeros satélites, pesquisas com super telescópios entre outras infinidades de coisas que envolvem o universo científico. Mas a muito tempo atrás, antes destas tecnologias todas, lá na Grécia antiga cientistas como Eratóstenes (276 a.C. - 194 a.C.) já sabiam o formato da Terra, além de ter conseguido calcular a circunferência do planeta.

Os cientistas brasileiros lutam diariamente para desenvolver a pesquisa no país, mesmo com a falta recursos, de reconhecimento e de estrutura. A popularização da ciência também acontece com grandes dificuldades, são escassas as instituições museológicas e as que existem em geral passam por dificuldades financeiras. Nas universidades os recursos para realização de projetos de extensão que envolvam a comunidade, ainda são muito restritos e quase não existem linhas estaduais ou federais de financiamentos para ações que levem um pouco de ciência até as escolas e comunidades. E por falar em escolas, muitas delas não possuem laboratórios de ciências e algumas outras não possuem bibliotecas ou possuem acervos muito restritos.

Os “nobres” deputados da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul fizeram uma ação irresponsável e perigosa ao incentivar a divulgação e reconhecimento de uma ideia que já foi desconstruída a muito tempo atrás

O resultado de tudo isso pode ser visto nos índices internacionais onde o Brasil em geral está nas últimas posições, como por exemplo, na análise realizada pelo Programme for International Student Assessment (PISA), onde em 2016 entre 70 países, ocupávamos a 63ª posição. Precisamos mudar esse cenário, é preciso fazer e divulgar ciência de forma séria. O Brasil será outro país no dia que nossos jovens forem incentivados a se dedicarem a ciência.

Os “nobres” deputados da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul fizeram uma ação irresponsável e perigosa ao incentivar a divulgação e reconhecimento de uma ideia que já foi desconstruída a muito tempo atrás, lá no final da idade média. Por outro lado, deixam de reconhecer os verdadeiros pesquisadores do Brasil, e não fomentaram a divulgação de ciência de verdade.

No universo político brasileiro, são raros os parlamentares ou governos que levam a ciência a sério, mas é extremamente assustador ver parlamentares fomentando ideias bizarras, existentes só no mundo da fantasia e que são totalmente desconexas com o conhecimento científico atual.

É digno de repúdio a atitude da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, e se esses parlamentares fossem sérios, fariam uma retratação sobre o tema e homenageariam os verdadeiros pesquisadores, mas não só isso, seria justo também que destinassem recursos de emenda para instituições de pesquisa de verdade, para que esses recursos sejam usados para popularização da ciência e incentivem nossos estudantes a conhecer e se dedicar ao universo fantástico da ciência.

Precisamos de políticos que estejam no século XXI e não da idade média.

CAIUBI KUHN é geólogo, mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e professor da UFMT.



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