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Opinião
Quarta - 19 de Dezembro de 2018 às 09:27
Por: Eduardo Leite

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Lançado no Brasil em 30 de Outubro de 1998, o filme de Peter Weir e Andrew Niccol, The Truman Show contava a história, basicamente, de um jovem (vivido por Jim Carrey) por nome Truman Burbank, um vendedor de seguros com uma vida perfeita. Tinha uma esposa cinematográfica (Laura Lynney) e uma bonita casa branca na ilha de Seahaven. Uma rotina teatralizada onde os personagens faziam de tudo para que Truman não percebesse o que estava, na verdade ocorrendo. Mas tudo muda quando Truman descobre que está sendo enganado. Sua vida está sendo vigiada, nada do que existe ao seu redor é real e que nasceu para ser cobaia de um projeto reality show, algo estranho na época. A tensão acaba quando ele consegue, após o despertar, sair do mundo artificial e, por uma porta pintada no céu falso chega ao mundo real. Nossa, Truman estava finalmente livre! Vibrava a platéia que o assistia!

O Brasil também despertou! Dizem as milhares de notícias e mensagens, em especial nas redes sociais. No dia 28 de Outubro de 2018 demos a mostra disso! Os conservadores venceram! Seria muito paranóico, mas sim, existem pessoas acreditando que ano que vem, não poderão andar nas ruas até tarde da noite; beijar em público; unir-se a uma pessoa do mesmo sexo; freqüentar cursos de ciências humanas (afinal, deixarão de existir pois eram esquerdistas); em suma o Mundo vai acabar no dia 1º de Janeiro de 2019. Nada mais fantasioso!

Para começarmos, não, não existe um Truman Coletivo que luta contra o engano. Somado aos fatores Lava-jato e Redes Sociais, o fracasso nos últimos anos do governo capitaneado pelo PT e congêneres provocou a neuralgia do trigêmeo nos muitos Trumans. Esse fracasso caracterizou-se, sobretudo, pela corrupção e em diminuir drasticamente o poder de consumo – encantador nos primeiros anos de Lulismo.

Muito mais que Bolsonaro e sua plataforma de governo, o anti-petismo ganhou as eleições. Jair Messias Bolsonaro encarnou a vingança contra a dor e todos os sintomas que a neuralgia do trigêmeo causou em nós – e ainda causa. Não precisava falar muito, aliás pedia-se que não dissesse mais nada, a fim de que fosse eleito como a grande Vingança! Não... o ato de votar em Bolsonaro como que, vingando-se do petismo sádico não lhe faz um conservador, mas um revoltado.

A corrida, ainda que pequena, por bibliografias sobre conservadorismo cresceu pela vontade que algumas pessoas estão tendo em quererem responder à pergunta: a final de contas, o que é Conservadorismo? Calma, antes de começar a xingar alguém de esquerdopata, esquerdista, lulista, ladrão, alienado, vai com calma, não comesse pelo Youtube. Nessa esteira processual, surgiram também, algo anunciado indiretamente por Umberto Eco, os “cientistas políticos das redes sociais, adicionaria: pós-“Truman”. Aqueles que conseguem juntar em uma só receita: conclusões de vídeos do Olavo de Carvalho (pseudo filósofo), mais algumas “colheres” de blogs obscurantistas, mais um “copo” de memes do facebook misturados trechos de livros que falam tudo que preciso saber. Determinados e engajados lutam pela pátria, amada, Brasil.

A liquidez e a conveniência das identidades políticas, bem como o fracasso das ideologias quanto blocos compactos e identificáveis por uma taxonomia não nos permitem uma visão clara sobre o futuro de nosso país. Desde que foi criada, a Janela Partidária mostra que ninguém muda de partido por questões simplesmente ideológicas. Marxismo, leninismo, stalinismo, fabianismo, fascismo, etc... termos que, hoje em dia dizem um monte de coisas que ao mesmo tempo não dizem nada mais que tentar agredir alguém. Nossa geração fast food e cibernética não elegeu um Mussolini dos trópicos. A cultura de nosso país não se muda com uma eleição. As transformações culturais sedimentadas ao longo de centenas de anos não mudarão em janeiro de 2019. As formas de governar nosso país são “filhas da pátria”.

Assim, Truman pode até ter despertado, no entanto, acordou para mais uma realidade ficcional. Enquanto o grande problema está no uso imoral, antiético, antidemocrático, da inteligência artificial, ainda estamos a bailar com o “canto da sereia”. Os meios de comunicações e as redes sociais despontaram-se como os locais da “verdade”. A inteligência artificial sendo usada para determinar resultados em eleições por todo o mundo são provas do novo jogo político, sutil e cirúrgico cujo poder se mostra em correr pelo quarto do gigante sem que o desperte de fato.

Eduardo Leite é professor de História



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