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Opinião
Sexta - 01 de Fevereiro de 2019 às 14:25
Por: Marcelo Ferraz

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Observando o cenário da política brasileira, nos últimos tempos, percebe-se que os órgãos vitais deste país sempre estiveram infestados por ratos e pela a consequente doença moral que esses roedores da pátria transmitiram à Nação ao longo da formação penosa desta república. Esta conclusão alegórica o leitor inteligente pode chegar também ao fazer uma comparação desta premissa com o livro “A Peste” (La Peste), de autoria do escritor Albert Camus (Argélia, 1913 – França, 1960).

A obra prima do escritor, publicada 1947 e que o ajudou a receber um Prêmio Nobel em 1957, conta a história de trabalhadores que descobrem a solidariedade em meio a uma peste que assola a cidade de Orã na Argélia. O romance destaca a mudança na vida da cidade depois que ela é atingida por uma terrível peste (transmitida por ratos) que dizima sua população. A dimensão política implícita nas entrelinhas deste livro é o grande destaque, já que a cidade assolada pela epidemia lembra a ocupação nazista na França durante a Segunda Guerra Mundial.

De acordo com a sinopse do livro, “a peste é uma obra de resistência em todos os sentidos da palavra. Narrado do ponto de vista de um médico envolvido nos esforços para conter a doença, o texto de Albert Camus ressalta a solidariedade, a solidão, a morte e outros temas fundamentais para a compreensão dos dilemas do homem moderno”, mas também revela a metáfora do lado obscuro sobre a infestação dos ratos e os efeitos da peste que, ao ceifar vidas e paralisar todas as atividades de uma cidade inteira, mina as forças físicas e psicológicas de uma população indefesa diante do inimigo letal e presente.

Da mesma forma, o Brasil também enfrentou e está enfrentando a infestação de várias espécies de ratos, bem como sofrendo com o mal da peste que vem depois da invasão desses roedores. Camundongos, ratos de telhado e ratazanas. Cada espécie tem suas características próprias de reprodução e desenvolvimento desde as fases mais jovens até ficarem velhinhas de tanto roerem o tesouro do Estado.

Pois bem, na “República do Ratos” os hábitos dos roedores da pátria também são parecidos com os de seus pares do mundo animal. Assim sendo, aqui o que manda não é Lei do “Mais Fortes”, mas a Lei dos “Mais Aptos” a sobreviverem dilapidando o patrimônio público. Não obstante, a maioria dessas espécies, sobretudo as mais “espertas”, estão soltas e impunemente roendo ambiciosamente os recursos públicos deste país e consequentemente a dignidade do povo brasileiro.

Contanto, por conta disso, tem-se que elucidar de que forma essas espécies de ratos se proliferaram nesta república. Uma delas, muito eficiente para fazer greve e baderna, rebelando-se das “injustiças” sociais do sistema “ratazânico”, criou um partido único dos camundongos, sendo que quem comandava mesmo a ninhada desses dentuços era uma sagaz ratazana (disfarçada de camundongo) que dizia representar os anseios dos roedores oprimidos, ou seja, era um baita ratasso de esquerda.

Então, com um discurso populista, a ratazana – líder dos “camundonguistas” – criou inúmeras estatais para alojar seus companheiros de luta e assim fundou a ditadura do proletariado de esquerda. Ou seja, lutou pelos direitos dos camundongos, mas, por outro lado, promoveu o loteamento da máquina pública à custa dos impostos pagos por toda “ratolândia”. Desta forma, para manter a sua popularidade em alta, passou dois mandatos fazendo caridade assistencialista aos camundongos e logo passou a mina de queijo, já toda espoliada, à outra ratazana de esquerda, sua companheira de luta e fiel escudeira – também disfarça do camundongo.

Esta, por sua vez, não conseguiu manter a máquina do populismo funcionando, pois, o endividamento acabou descontrolando as contas públicas e quebrando o país inteiro, principalmente, quando esta ratazana quis fazer a tal da Copa do Mundo para alegrar toda ratolândia e encher os bolsos de seus amiguinhos pertencentes à classe das ratazanas. Enfim, resumindo, os ratos de telhado ficaram revoltados por terem que pagar por mais essa conta e decidiram protestar para pedir a cabeça da presidenta ratazana - já tida como mãe dos camundongos pobres.

Após vários protestos dos ratos de telhado, eis que a classe aristocrática das ratazanas, aproveitando a oportunidade de ouro, criminalizaram as irresponsabilidades fiscais da sua filha bastada e arrumaram um jeitinho “institucional” (golpe de estado) para expulsá-la do comando da república. Assim, a ratazana mãe dos camundongos pobres sofreu um impeachment e o poder caiu de mão beijada para o clã profissional das ratazanas.

Deste jeito maquiavélico, as ratazanas não tiveram dó, nem piedade e cassaram uma série de direitos tanto dos pobres camundongos de esquerda como dos ratos de telhado da classe média, que por sua vez, tiveram que engolir quietos mais esse sapo. Não obstante, neste momento a máfia (ligada ao ditador dos camundongos), que tirava proveito de todas licitações pública nos mandatos anteriores, foi substituída pela máfia do lobby das privatizações, pois o lucro para as ratazanas neoliberais era muito maior e mais rápido, além de também enxugar a máquina administrativa e diminuir os gastos públicos com a ralé dos camundongos. Contudo, por conta disso, durante dois anos os camundongos vermelhos fizeram barulho e protestaram por seus direitos, mas, sem a ajuda dos ratos de telhado, ficaram enfraquecidos e desamparados.

Concluído esta analogia fantasiosa, deste modo, diante da imprevisibilidade política e econômica, do desemprego em alta e do aumento da violência nas veias urbanas da grande ratolândia, mais uma vez na história, os ratos de telhado caíram no canto da sereia do discurso fascista de um rato militar. Este, por sua vez, prometeu pôr “ordem” na ratolândia, acabar com as políticas assistencialistas para os camundongos e armar os ratos de telhado; para que eles se defendessem dos camundongos “marginalizados”. Porém os ratos de telhado novamente foram enganados, já que o rato herói da direita ultraconservadora era, na verdade, mais um pião a serviço dos interesses das ratazanas aristocráticas. Ao tomar o poder, o rato militar de imediato foi logo cortando mais direitos de todos os camundongos, inclusive, dos ratos de telhado que o elegeram.

Por fim, diante dessa infestação generalizada, eis que surgiu uma peste na “República dos Ratos”: a disputa ideológica de classes... Ratos de telhado alienados e subservientes às ratazanas de direita contra os camundongos “excluídos” que ainda nutrem a esperança de que seu grande líder saia da prisão e volte ao poder. Contudo, voltando para realidade humana e dando nomes aos ratos, esta maldita “peste” está paralisando a capacidade de pensar do cidadão, transformando-o em um ser sem senso crítico e submetido às ideologias fundamentalistas: tanto da direita ultraconservadora dos bolsonaristas como da esquerda lulista, distanciando com isso, o país inteiro de um norte mais republicano e menos revanchista.

Assim como o autor Albert Camus conduziu seus personagens, em meio à peste, para superação... a solidariedade, o bom senso, a informação correta, a pluralidade de ideias, a tolerância e o exercício democrático da cidadania podem também ajudar o povo brasileiro transformar a “República dos Ratos” em um verdadeiro Estado Democrático de Direito, no qual exista o respeito pelos direitos humanos e pelas garantias fundamentais, isto é, um Estado que defenda e aplique sua Constituição para todos os cidadãos... sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. Uma utopia? Sim..., pode ser, mas diante dessa batalha ideológica autodestrutiva entres as classes sociais brasileiras, não se pode parar de propor por um caminho melhor para se seguir. “Existe sempre uma luz no final do túnel”, já dizia um simplório provérbio popular.

Marcelo Ferraz é jornalista e escritor.



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