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Opinião
Quinta - 25 de Abril de 2019 às 09:15
Por: Renato Gomes Nery

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O Fusca: um clássico. Um clássico é tudo aquilo que serve como modelo ou referência. Foi o desejo e a aspiração de inúmeras gerações. Eu tive o prazer e a satisfação de ter três exemplares

A mecânica era simples e o motor não tinha mistérios. Se falhasse ou pifasse cada motorista era um mecânico de ocasião que o consertava imediatamente. Troca as válvulas! Troca os fusíveis! Desentupir o carburador! A bateria pifou, dá um tranco e toca em frente! Ele enfrentava heroicamente as estradas esburacadas, os cruéis lamaçais e as poças de água das chuvas. Era a prova de água, com a sua lataria inteiriça, com o motor atrás. Segura no acelerador e toca em frente! Tombar não tombava. Desafio quem já viu um fusca de barriga para cima. Era pau pra toda obra!

Todos sabiam o que fazer e como tudo funcionava. Tudo era fruto da vida simples e sem mistérios de uma época que passou.

O que estou fazendo aqui deslocado no tempo e no espaço, como um fusca velho estragado, sem peças de reposição, sem conserto e sem perdão. Não tinha e não tenho a noção nem a dimensão de como tudo passou tão rápido!

E de repente fui (s) despejado (s) na pressa e no frêmito do futuro! O carro virou um mistério onde tudo é lacrado e compacto. Se o carro pifar, pifou! Estar-se simplesmente no mato sem cachorro! O carro não pega! Nem pensar em dar um tranco! Tudo se transformou. Sinto-me como se tivesse com uma bocha na mão sem saber onde e o que pintar. Até a vida privada ficou pública, pois nada escapa da era digital com a sua velocidade absurda.

A vida automatizou e fui, fomos despojados das nossas simplicidades, receios e crenças. A conversa descontraída se foi, pois a velocidade da vida contemporânea encarregou-se de afastar os amigos. E a solidão é uma ingrata companhia entre as paredes deste estéril apartamento.

Onde já se viu.... Carro andar sem chofer.... Pagar conta sem caixa e dinheiro sonante! É o mistério insondável da era digital! Enfim, estou perdido e sem saber bem o que fazer com os botões digitais da Internet, Facebook, WhatsApp...? Os filhos me acham ultrapassado, não querem me ouvir e passam o tempo todo ligados numa máquina digital.

O que estou fazendo aqui deslocado no tempo e no espaço, como um fusca velho estragado, sem peças de reposição, sem conserto e sem perdão. Não tinha e não tenho a noção nem a dimensão de como tudo passou tão rápido! Ao menos eu queria ser reconhecido, lembrado no futuro e ser imortal. Com uma estátua na praça! Com um feito inédito! Com uma descoberta genial! Entretanto, não me transformarei sequer num retrato pendurado na parede, ou numa lápide no cemitério, pois quero ser cremado.

Esta é a penúltima estação! A partida será breve! O bilhete da passagem é somente de ida! Irei, para a irrisão do nada, sem romantismo, apelo, flor, nem vela e sem, ao menos, uma fita amarela gravada com o nome dela, pois ela me abandonou.

P.S. O carro mais vendido do mundo foi concebido na Alemanha Nazista, a mando de Hitler, que sonhava com um carro barato e acessível para a população, mas que somente passou a ser fabricado, em escala comercial, a partir de 1945. Foi o primeiro carro fabricado no Brasil, a partir de 1959. O carro do povo parou de ser fabricado aqui, no ano de 1986. Foi relançado em 1993, por sugestão do ex-presidente Itamar Franco. E seu último exemplar chegou ao mercado no de 1996.

RENATO GOMES NERY é advogado.



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