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Opinião
Sexta - 17 de Maio de 2019 às 09:29
Por: Michele Leite de Barros

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O curta-metragem “Absorvendo o tabu” foi um dos ganhadores do Oscar em 2019. A diretora Rayka Zehtabchi, muito feliz com o grande prêmio, comentou: “Não acredito que um filme sobre menstruação ganhou um Oscar”. Sim, isso mesmo. O documentário fala sobre menstruação.

Retratando o cotidiano de uma comunidade rural na Índia, o filme aborda questões inimagináveis de prever que ainda existam, mas infelizmente existem. O que é um assunto totalmente normal, ou que pelo menos deveria ser, torna-se um tabu, especialmente na Índia, onde há o mito de que mulheres menstruadas estão sujas ou até mesmo amaldiçoadas.

O preconceito é tanto que as mulheres têm que largar os estudos, chegam a perder o emprego e são impedidas de entrar em templos. Como se não bastasse, ainda há a falta de higiene, tendo em vista que não há acesso a absorventes, fazendo com que as mulheres utilizem qualquer pano mesmo este estando sujo, folhas e até cinzas para conter o sangue.

O feminismo já fez mudar bastante coisa para melhor no mundo, mas pelo que vemos quando saímos um pouquinho que seja da nossa “bolha”, notamos que ainda há muito caminho a percorrer

Em vários momentos quando são perguntadas sobre o assunto, elas se sentem envergonhadas de falar e os homens fingem desconhecer o que é absorvente. Deixar de ir a locais públicos quando estão menstruadas é comum, pois a roupa pode manchar de sangue. Pensamos ser algo totalmente fora da nossa realidade, mas acontece bem ali, com mulheres que vivem no mesmo planeta que o nosso.

Quando chegam as máquinas para a produção de absorventes no local, elas ficam bem animadas com a chance de terem melhores condições de saúde. Sim, um simples absorvente torna-se motivo de festa para essas mulheres, coisa que nós compramos logo ali no mercado, na farmácia super facilmente.

O feminismo já fez mudar bastante coisa para melhor no mundo, mas pelo que vemos quando saímos um pouquinho que seja da nossa “bolha”, notamos que ainda há muito caminho a percorrer.

Já estamos numa fase mais sustentável, onde estamos trocando o absorvente que tanto agride o meio ambiente por coletores menstruais, absorventes de pano ou calcinhas absorventes. Imagina quando isso vai chegar até a realidade dessas mulheres que agora estão podendo usar o absorvente higiênico? E não é por conta da pobreza do lugar não, mas sim por conta do tabu que é falar sobre menstruação na Índia.

Se menstruação não é a coisa mais normal na vida de uma mulher, eu não sei mais o que é normal. Já se imaginou usando tecidos sujos para conter o seu período? Pois é, pensar um pouco mais nas outras mulheres não é somente pauta do feminismo, é pauta humanitária.

MICHELLE LEITE DE BARROS é a advogada em Cuiabá.



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