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Opinião
Domingo - 15 de Novembro de 2020 às 05:37
Por: Romildo Gonçalves

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Senhoras, e senhores, vou começar este artigo, como cidadão comum, como biólogo e como pesquisador ambiental, focando meu respeito e sensibilidade para com a ictiofauna mato-grossense;

Dia 01 de outubro de 2019 começa oficialmente o período defeso ou piracema como queira nos rios mato-grossenses, com término previsto para 31 de janeiro de 2020 o que eu como pesquisador acho muito curto período pela importância da causa.

Porém, penso que mesmo sendo curto esse período todo cuidado e respeito para com a ictiofauna é pouca e deve permanecer harmoniosa com a natureza para a vida possa continuar perpetuar em nossos rios, lagos, lagoas...

Todo cuidado e respeito para com a ictiofauna é pouca e deve permanecer harmoniosa com a natureza

Como se sabe tudo o que existe no universo se encontra em contínua transformação, evoluindo em ciclos ou períodos de duração variável. Desde o aparecimento de ambientes habitáveis, estes vêm sendo ocupados por espécies animais e vegetais que se sucedem ecologicamente em equilíbrio dinâmico, segundo as leis de fluxo e refluxo e da dissipação de energia.

O declínio, ou até mesmo a extinção de determinadas espécies, tantas vezes documentadas pela paleontologia, certamente decorreram e decorrem de transformações, verificadas nesses mecanismos, motivadas por mudanças relativamente rápidas de variáveis físicas, químicas e biológicas em ecossistemas naturais e antropizados.

Com o surgimento da espécie humana na terra = Homo Sapiens, e em todo o decorrer de historia evolutiva da humanidade, o peixe foi e será sempre uma importante fonte de proteína conhecida e apreciada no mundo inteiro, utilizada como uma das mais singulares fontes de alimentos para a humanidade secularmente.

Nos seres humanos ditos “racionais” devemos mais do que ninguém respeitar os ciclos de vida na natureza visando fundamentalmente sua preservação, conservação, perpetuação e continuidade da vida no ambiente. Para tanto é fundamental ter respeito e consciência do nosso papel enquanto ser humano e evitar práticas abusivas do uso desses recursos, só assim a vida perpetuará naturalmente.

Só para que você possa entender este fenômeno ou seja, para que a piracema possa ocorrer de maneira natural, à mãe natureza sabiamente prepara o ambiente, criando nele todas as condições para que rios, córregos, lagos, lagoas, vazantes recebam bem essa dádiva de Deus. Em Mato Grosso a piracema ou período de Defeso será de 01 de outubro 2019 a 31 de janeiro de 2020 oficialmente.

Nesse período o ambiente aquático está com o nível das águas em elevação. As condições de intempéries estão perfeitas, água aquecida pelo sol, com coloração amarronzada, aumento de nutrientes em suspensão... É exatamente nesse momento que os cardumes detectam as mudanças e sabem que chegou a hora.

Para que tal fenômeno possa ser bem sucedido a natureza exige mais, é preciso que o ambiente em questão apresente as seguintes características: níveis dos rios em elevação, temperatura da água entre 22 e 28 graus, PH entre 7 e 7,4, transparência inferior a 10 cm, gás carbônico inferior a 20 PPM, horário propício para que a fecundação ocorra entre 16:00 horas e 17:00 horas.

Como se vê nesse período um radar infalível chamado sistema nervoso central, decodificam as mensagens traduzindo-as numa ordem únicas, subir, saltar e vencer as corredeiras rio acima, entregando-se a um duelo orgástico com as águas, até atingir a explosão da desova e o surgimento de novas vidas.

E mas no período que antecede a piracema o ovário maduro representa 24% de peso nas fêmeas, e os testículos maduros representam 15% do peso nos machos. 20% de gorduras são armazenados em seus corpos a serem gastos ao deslocarem rio acima, até atingir seus objetivos.

Para o grande pesquisador e cientista Manoel de Godoy, profundo conhecedor da ictiofauna brasileira, “o ser humano precisa entender e respeitar o impulso irresistível da piracema e os requisitos para que ela continue a existir”.

Passado esse período como cidadão e como pesquisador, orientamos o poder público e a sociedade a continuidade do respeito a vida no ambiente ou desfrutar sem destruir, caso contrário os fiscais ambientais devem serem rigorosos com os infratores, para que as futuras gerações também possam usufruir de generoso legado da natureza, o peixe.

É muito difícil quase impossível pensar na insensibilidade humana, em não conseguir mirar a força reprodutiva da arribação selvagem e serena do Dourado, do Pintado, da Piraputanga, do curimbatá... Lutando pela continuidade da vida nos rios, córregos, lagos, lagoas... De mato grosso visando sua perpetuação e fornecendo alimentos sadios e saudáveis aos seres humanos.

Como disse no início desse artigo no período que vai de Outubro a Janeiro temos oficialmente o período de defeso nos rios mato-grossenses. Vale aqui um alerta, por mais ingênua ou ignorante que seja a mente humana, não devemos avançar desenfreadamente sobre a ictiofauna mato-grossense pensando que agora tudo podemos, não é mesmo?

Vale mais uma vez ressaltar que o respeito e dignidade com a vida deve ser sempre preceitos básicos que norteiam a vida de um ser humano e de uma sociedade sadia e civilizada, ademais tudo a seu tempo é fundamental.

Romildo Gonçalves é Biólogo. Profº. Pesq. Ciências Naturais da Ufmt/Seduc



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