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Opinião
Segunda - 21 de Outubro de 2019 às 09:20
Por: Rosário Casalenuovo Júnior

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No ponto de vista da Arte

A culinária é uma arte, Arte culinária. Acho que é a maior das artes, pois além de nos surpreender pelo sabor, visual e cheiro, de nos encantar, de nos relacionar, também nos alimenta. Mas como toda arte, temos a situação de nunca ser precisa, feita em série. Deve ser sempre diferente e inusitada, senão deixa de ser arte. Com isto o ponto da carne fica indefinido.

“A Sra. quer a carne ao ponto mais, mais ou ao ponto mais, mais, mais?” pergunta o garçom. “Ai, eu quero ponto mais, mais’ . “Eu quero mal passada, menos , menos!!! Homem, come carne assim, a sua vai ficar seca”, resmunga o marido. “Nossa, a carne está sangrando e eu não gosto do sabor do sangue. Eu pedi bem passada”. Ela reclama, depois o garçom traz o prato da senhora.

Nas churrascarias, é uma estratégia soltar as carnes assadas apenas por fora para que possam voltar a churrasqueira várias vezes sem desperdício. É uma verdadeira confusão, mas está valendo. Pois isso dá conversa e discussão entre os amigos reunidos ao redor da churrasqueira. Sempre tem aqueles que adoram cortar a carne e servi-la toda decepada retirando o estímulo visual que vale 50% do prazer da arte, e aí que ocorre o desperdício, pois a carne fica feia e fria quando cortada assim. Muito diferente em servir no espeto que somente ao ver, o carnívoro já fica com a boca salivando.

No ponto de vista da ciência

A ciência é dita como inimiga da arte e até mesmo algumas religiões encaram a como adversária. Nada contra, mas a ciência caminha por estradas sólidas, anda pisando no chão e a arte flutua a religião se apoia na fé para seguir. Sempre que se fala em nome da ciência deve se ter uma colocação embasada, precisa.

Quando se discute as terminologias que são os nomes dados as estruturas do corpo, como exemplo: o ouvido teve o nome alterado para orelha pois ouvido é um verbo e com este argumento o nome foi mudado para orelha interna, externa. Então a xingamento “orelhudo” é uma pessoa que ouve bem e não que tem uma orelha grande. Rsrs (isso é uma piada da ciência). “Estou com dor de ouvido “está errado, o certo: “estou com dor na orelha” e a orelha chama-se pavilhão auditivo. O que a ciência busca com as denominações é deixar bem claro, padronizado de fácil comunicação universal.

O ponto da carne colocado em discussão por mim neste texto agora é para estabelecer uma padronização, para que os garçons de todos os restaurantes possam saber com exatidão o gosto do cliente.

Vamos-lá. Quando perguntamos a hora e a pessoa responde, são 10 horas em ponto. Ou seja, o ponteiro esta não antes e nem depois de 10, mas exatamente em cima da hora. Em relação à carne, temos a carne crua e a carne esturricada que são dois extremos. Mas qual é o ponto da carne? Quando se fala ponto, não é um traço, não é mais ou menos, é exato. Então a carne com sangue está antes do ponto exato é o momento no segundo do relógio onde o sangue desaparece. Este instante exato é o ponto da carne, ou seja, a CARNE AO PONTO. Nesta situação a carne está com todo o suco mas sem o sangue. Para os que não gostam do sabor do sangue é o momento perfeito. Mas os que preferem com o sangue pode pedir 1,2 ou 3 pontos antes. Lógico que se falo de ciência estes argumentos deverão ser debatidos não por apaixonados pelo churrasco mas por aqueles que saberão diferenciar o sabor preferido com a ciência que é nua e crua, sem tempero algum, apenas o ter bom senso.

No ponto de vista espiritual

Uma onça-pintada alcança sua presa, mata e come sem remorso algum, pelo contrário, um grande prazer como ganhar um troféu, um campeonato. Come ali mesmo sem pensar que teve que matar um ser para ela sobreviver.

Na outra ponta da evolução, fazemos uma carne temperada, assada e posta na mesa em uma travessa acompanhada com legumes na manteiga e arroz branco. Talheres, luz de velas, taças de cristal, água, vinho e música de fundo, todos sentados e até oramos agradecendo a Deus pelo alimento.

Para que tudo isso sendo que o corpo pede apenas a alimentação? Nós seres humanos temos a arte, temos a tradição, a memória, a relação de amor em volta da mesa. Ou seja temos ALMA. E a alma se nutre de tudo que está ao redor da comida propriamente dita. E o ponto da carne no ponto de vista espiritual? Ai vai a PERCEPÇÃO DA GRATIDÃO. Chamo isto pois a gratidão é um sentimento que mostra a evolução do ser. Quanto mais desenvolvida a alma, mais gratidão se sente a ponto de entender que até para respirar precisamos do oxigênio que está a nossa disposição no ar, que estar vivo é um milagre. Que sermos ouvido por alguém é uma grande consideração. Tudo é nos dado, até mesmo nosso corpo é emprestado, não somos bem o dono dele. Se alguém me abordar e disser vou te matar agora. O que eu posso fazer? Dizer o corpo é meu e somente eu decido o que fazer com ele. Rs. Nem isto temos na verdade.

E quando morrermos seremos alimento também. Um argumento para os naturalistas que se negam a alimentar sacrificando a vida de um animal. Talvez Deus tenha nos dado esta forma de alimentação para aprendermos a morrer, a entregar-se a morte sem apego ao corpo e deixá-lo na terra para voar ao céu.

Abrindo um parêntese, somente Jesus ressuscitou em carne e espírito, mas reconhecendo a minha infinita ignorância, eu pergunto: Se seu corpo em carne reviveu, como ele subiu ao céu depois com a carne? Deixou o corpo na terra? Então seu corpo morreu e se morreu onde está? Ninguém sepultou? Ou subiu ao céu com o corpo de carne? Ou a ressurreição foi apenas em espírito sem o corpo? Peço que não me condenem por ter estas dúvidas!!!

Mas voltando para a carne da mesa, algum animal teve que morrer para nos nutrir e podermos nos manter vivos. Até mesmo os vegetais tivemos que matá-los para sobrevivermos. Por isso que digo sobre a percepção de gratidão que nos sentimos à necessidade de agradecer a este animal que morreu para nos servir. Mas não precisamos lembrar disso na mesa, né? Por isto respeito aqueles que preferem a carne sem o sangue, fica mais disfarçado o nosso lado animal como a onça pintada que não saberia se sentar na nossa mesa. Espere aí, será que todos os homens saberiam? Rsrs. Acho que eu não sei muito bem também!!! Nos fast-food somos meio onças.

Dr. Rosário Casalenuovo Júnior é presidente da Associação Brasileira de Ortodontia (ABOR-MT)


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