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Opinião
Segunda - 09 de Janeiro de 2012 às 15:28
Por: Lourembergue Alves

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Caminhar pelo chamado centro histórico de Lisboa é o mesmo que retornar ao passado. Não um pretérito distante do presente. Pois a cada passo dado, tem-se um retrato do hoje. Ainda que preso entre as molduras construídas por becos, ruelas e casarões. Estas contam histórias de um povo e do lugar. A impressão que se tem, e não sem razão, que a cidade se abre como a um livro, onde seus desenhos e letreiros precisam ser decifrados. Situação que obriga o transeunte a observar cada detalhe, cruzando um a um, e somente a partir deste exercício que a estampa parece mais clara. 
 
O estar nítida não significa o término da leitura. Pois no dia seguinte, embora a percorrer a mesma trilha de ontem, novas coisas se avistam. São determinados dizeres, ou ditos que não estão necessariamente escritos, ou traços que para o apressado nada dizem. Igualmente quando se tem um livro pela segunda, terceira ou quarta vez. Sempre há determinados pontos não identificados. Daí a importância da releitura, uma vez que esta permite a ampliação da primeira, ou da segunda. Assertiva antiga, porém não contestada, embora ignorada por muitos que, com a desculpa do não ter tempo, preferem apenas escorregar os olhos sobre as palavras, sem senti-las de fato, ou escutar as vozes nelas contidas. Afinal, sentir e escutar - ou ouvir, como queira - passam a idéia de degustar. Não de engolir simplesmente, a exemplo do que faz uma boa parte dos visitantes que diz ter estado em determinado lugar, porém o único percurso realizado foi do aeroporto ao hotel, e deste para um ou outro local de determinado evento, assim mesmo de carro. 
 
O visitante-leitor, ao contrário, faz opção diferente. Caminha também e deixa-se levar pelo desenho arquitetônico do lugar. Faz suas próprias leituras, ainda que a partir de outras realizadas por gente famosa. Tal como a que se vê em escrito de Saramago, o qual traz – em forma de palavras – as belezas de Portugal. Esta é a idéia deste texto. Embora reconheça as dificuldades para concretizá-la. Por isso, talvez, fez-se bastantes voltas, quase nos mesmos moldes dos becos e ruelas lisboetas. 
 
O centro histórico de Lisboa é assim. Bastante parecido com o das demais cidades antigas, sobretudo européias. Mas não igual. Pois seus traçados e recortes foram feitos em contexto distinto, e expressam valores e histórias próprias, ainda que ligadas com o passado romano. 
 
Por aqui, a estampa fotográfica se refere às coisas idas e vividas do lisboeta, que se associou ao avanço tecnológico, a indústria e ao modernoso, mas não ignora sua arquitetura particular. Casarões com traçados velhos, cujas paredes apresentam espessuras hoje fora de moda. Pois seus riscados não são os mesmos dos prédios de agora, que se encontram fora desta área citadina. 
 
Área que se encontra recortada por suas ruelas, através das quais deslizam carros e bonde. Um passeio de bonde, aliás, é mais que um passeio, é uma viagem ao passado, cujo trânsito permite a passagem de todos, inclusive dos mais desatentos ou desinteressados em conhecer a história que é contada pelo desenho arquitetônico muito particular.         

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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