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Opinião
Quinta - 05 de Dezembro de 2019 às 09:19
Por: André Crepaldi

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Outubro e novembro foram os meses em que mais se falou sobre o câncer no Brasil, especialmente o câncer de mama, com o Outubro Rosa, e o câncer de próstata, com o Novembro Azul. As campanhas estimulam mulheres e homens a fazerem o exame precoce dos dois tipos da doença. Lançado há menos de 20 anos, o Outubro Rosa pode ser considerado um sucesso em seu objetivo de conscientização feminina. Hoje, quase a totalidade das mulheres sabe a importância da realização dos exames de mamografia, especialmente a partir dos 45 anos.

Elas buscam fazer o exame, mas como se fala popularmente, “faltou combinar” com as autoridades. Anualmente, milhares de brasileiras procuram ter acesso à mamografia, boa parte sem sucesso, sendo a grande maioria dependente do serviço público de saúde. Levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia identificou que, em 2017, das 11,5 milhões de mamografias previstas para serem realizadas em mulheres com idade entre 50 a 69 anos no país, somente 2,7 milhões foram feitas.

A necessidade da mamografia para detecção precoce do câncer de mama fica ainda mais evidente quando se constata que há chances de 90% de cura quando a doença é descoberta em estágio inicial. Depois do câncer de pele, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo, respondendo por aproximadamente 28% dos novos casos a cada ano. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta 59,7 mil casos por ano e 6,91 mortes para cada 100 mil habitantes. Em Mato Grosso, são 680 novos casos a cada ano, que resultam em cerca de 200 mortes de mulheres.

Depois de atingir o objetivo de conscientização do público feminino, o Outubro Rosa começa a passar para um segundo momento: o da reivindicação ao acesso a mamografia. Este ano um pequeno movimento foi iniciado. Alguns grupos começaram a contestar a adesão do poder público à campanha, com sedes de órgãos se colorindo de rosa, ao mesmo tempo em que os governantes não priorizam investimentos na prevenção e no tratamento à doença. A hipocrisia presente no rosa dos prédios públicos ficou em evidência. Uma nova consciência sobre o direito à saúde está nascendo nas mulheres.

Já com os homens a história é diferente, eles já são bastante complicados em relação aos cuidados preventivos com a saúde e, quando se trata da prevenção ao câncer de próstata, a missão é quase hercúlea. O preconceito predomina no Brasil em relação ao exame preventivo, que exige o de toque retal. Embora não se tenha dados quantitativos, é flagrante como o preconceito ao exame de toque é premissa para que os homens não busquem atendimento e, consequentemente, a detecção precoce do câncer fica prejudicada. Assim como o câncer de mama, 90% dos casos de próstata identificados em fase inicial têm cura.

O preconceito ao exame de toque é proveniente de uma cultura machista, que infelizmente ainda predomina no Brasil. O toque é associado pelos homens a questões sexuais e homoafetivas. As piadas sobressaem quando se trata do assunto. “Não vai se apaixonar pelo médico”, dizem aos amigos. Já cheguei de ser questionado pelo paciente se mais alguém, além do médico, estaria na sala durante o exame. Medo de ser visto. Medo de ser mal visto.

E mesmo com o Novembro Azul, que surgiu no ano de 2003, pouca coisa mudou. A cada ano, 68.220 homens são diagnosticados com tumores na próstata no Brasil, resultando em 15.400 mortes. É o segundo tipo de câncer mais comum entre eles. Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, porque 75% dos casos ocorrem a partir dos 65 anos, mas a doença pode surgir a partir dos 50 anos.

Os homens precisam perder o medo. Assim como as mulheres, dar o próximo passo e entender que a qualidade de vida e a saúde estão acima de qualquer preconceito ou barreira.

*André Crepaldi é Oncologista em Cuiabá.



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