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Opinião
Segunda - 16 de Dezembro de 2019 às 15:05
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Estava triste a praça que leva o nome dela, sem a sua estátua. Aquela figura, em formato bastante esguio, a abrilhantar a Praça Maria Taquara, traz, sem dúvida, bastante representatividade e reflexão. Ou, deveria trazer...

Existem muitas histórias à volta dessa mulher. Quem foi? Por onde andou? O que costumava fazer? Com quem conversava?

Alguns fatos e versões pairam sobre ela. A certeza é que modificou e fez pensar uma geração de mulheres e homens, na década de 40 em Cuiabá. Então, qual o motivo de uma mulher pobre, negra e simples, merecer o seu nome em uma praça central da capital?

Contava aproximadamente 1,80 metros de altura, esguia, magricela, cabelos curtos, pouco se importava com o que diziam a seu respeito. Era moradora de terreno baldio e fumante de cigarro de palha. Chegou a ser detida por certo tempo, é o que narram, pelas vestes inapropriadas para a época. Há relatos de ser a primeira hippie no Brasil.

Foi responsável por fazer o diferencial por aqui. Enquanto as outras caminhavam por mesmos passos, com ações a se esperar de toda e qualquer mulher, essa, não estava disposta a ser o “mais do mesmo”.

Alguns fatos e versões pairam sobre ela. A certeza é que modificou e fez pensar uma geração de mulheres e homens, na década de 40 em Cuiabá

Ela foi a primeira a usar calças compridas? Tudo indica que sim. Para alguns e algumas esse foi um desafio de ser a pioneira, desafiando a sociedade por vontade própria. Para outros e outras, como não gostava de usar roupas íntimas, e, de outro turno, dada a tomar bebidas de teor alcoólico, certa vez exagerou na dose. Ao beber em excesso, descrevem que foi encontrada caída no chão e com o vestido levantando aparecendo suas partes íntimas. Assim, colocaram à força uma calça comprida nela, para esconder o que não deveria mostrar. Ela aderiu à calça compridas por ter gostado da peça. (Dona Eugênia, site O Livre, 04.04.2017).

Já a alcunha “Taquara” teria sido lhe dado em razão de morar em localidade de taquaral, onde hoje está instalado o Shopping Goiabeiras. Ali construiu a sua singela casinha, e morava sozinha.

Alguns diziam que se prostituía. Todavia, não há nada de concreto quanto à essa informação. Como morava ao lado do quartel do exército, se relacionou com alguns homens que lá serviam. Não há certeza de que recebia algo em troca. O que ocorreu, segundo consta, foi que proferiu a célebre frase quando um dia passou em frente ao 16º Batalhão e alguns homens começaram a zombar da trouxa em sua cabeça, já que exercia a função de lavadeira. “É, de dia é Maria Taquara, e de noite é Maria Meu Bem.” (Dona Eugênia, site O Livre, 04.04.2017).

Folclórica, ou como queiram a chamar, já que pouco se importava, fez história. Passou por aqui, e disseram que fazia parte da paisagem local. Lavava roupas dos ricos e ricas, muito lembrada ao descer o Córrego Mané Pinto com trouxas na cabeça.

Feminista? Não há como saber se empunhava bandeiras e valores. Entretanto, as suas ações mudaram situações e quebraram paradigmas. As calças compridas que ela usava só foram compreendidas quando uma forasteira aqui chegou usando também.

A estátua de Maria Taquara foi restaurada e colocada novamente em seu devido lugar. O objeto representa uma mulher que não aceitou se coisificar. Não seguiu padrões, criando os seus.

Avistar aquela estátua e ter a grandiosidade de vislumbrar muito mais do que é visível a “olhos nus” é compreender que alguns e algumas vieram para mudar contextos e deixar contos...

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual.



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