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Opinião
Quinta - 02 de Janeiro de 2020 às 12:32
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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O romantismo, a tentativa de mudar os agressores, a busca incessante por felicidade, dentre outras situações, pode mascarar um futuro feminicídio. Relembrar casos em que as vítimas estiveram em emboscadas, é mostrar a realidade.

No início do ano de 2018, após conhecer um rapaz por rede social e pouco saber da vida dele, determinada jovem decide ir com ele residir. Ela, conhecida pela independência e alegria de viver, já aos 19 anos trabalhava fora e ajudava com os gastos da família. Contam os familiares, amigos e amigas que a vítima vivia de maneira muito contente, e tinha em sua mãe e um dos irmãos os melhores amigos.

Pois bem. Com poucos dias de relacionamento, o agressor faz com que ela se mude para a casa dele. Em uma semana de convivência ele a obriga a deixar o emprego que possuía. Narrou o patrão que não queria que ela saísse do trabalho por ser excelente funcionária. No dia do acerto de contas, inexplicavelmente, o agressor estava presente tomando a frente de tudo. Ela estava calada, e o empregador estranhou.

O romantismo, a tentativa de mudar os agressores, a busca incessante por felicidade, dentre outras situações, pode mascarar um futuro feminicídio

A vítima, então, passou viver às expensas do agressor, com uma semana de relacionamento. A mãe e o irmão, foram aos poucos sendo afastados do seu convívio. O irmão buscava ir quando possível a visitar. Todavia, narrou a familiares que a irmã não era mais a mesma, estava com olhar entristecido. A genitora preocupada, tentava procurar a filha pelo celular, tendo descoberto que o aparelho dela havia sido vendido a pedido do novel companheiro, para ajudar na compra de uma motocicleta. A partir de então, a única forma de contato com a vítima deveria ser através do telefone móvel dele. Todas as conversas passaram a ser acompanhadas por ele.

Certo dia a progenitora da vítima, muito preocupada, e após o filho narrar que havia descoberto que o agressor já tinha praticado violência doméstica e familiar contra outras namoradas anteriores, pede para conversar com a filha. A vítima demorou a responder ao chamado materno. A mãe envia mensagem dizendo que se a filha não entrasse em contato logo, mandaria a polícia a procurar. Na ocasião da conversa entre elas, é narrado pela mãe da vítima os riscos que está correndo no relacionamento. Percebeu-se certo nervosismo da vítima.

Em uma segunda-feira, pouco menos de um mês de convivência entre a vítima e agressor, o irmão esteve na casa dela. É pedido que ele a busque na próxima quarta pela manhã, pois, iria se separar do agressor. No dia posterior, o agressor manda à genitora da vítima uma fotografia onde a filha aparece ao lado de vários remédios, com o rosto bastante inchado, como se estivesse tentando suicídio.

Na quarta pela manhã, aproximadamente às 8 horas, o irmão vai ao encontro da vítima para a buscar, conforme pedido dois dias anteriores. Tarde demais...

Chegando ao destino já encontra viaturas da polícia na respectiva casa. Estava tudo em alvoroço. Foi informado que a irmã cometera suicídio. Impossível, dizia ele, ela jamais faria isso.

Com todas as informações colhidas no inquérito, referido suicídio havia sido forjado. A vítima foi assassinada pelo companheiro com menos de 1 mês de convivência.

Quando ela se deu conta de estar vivendo relacionamento abusivo e tentou sair, foi morta estúpida e cruelmente.

Os sinais da cilada sempre estiveram evidentes, como em tantas outras.

ROSANA LEITE é defensora pública estadual.



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