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Opinião
Terça - 31 de Março de 2020 às 11:43
Por: Miguel Vaz Ribeiro*

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O Brasil e o mundo enfrentam um inimigo invisível, que está paralisando economias de várias potências e lançando incertezas sobre o futuro da economia mundial. Governos e mercados financeiros fazem projeções diárias do impacto que o Covid-19 provoca em vários setores, principalmente, nos essenciais.

Olhando para o principal setor da economia do país, o agronegócio, é perceptível que este enfrenta a crise com uma certa estabilidade, até o momento. O Brasil possui um superávit de alimentos e, mesmo que os portos fiquem paralisados, o que não está previsto, o país não precisará importar comida, pois há alimentos estocados suficiente para alguns meses, isso sem contar as safras que ainda serão colhidas.

O otimismo se transforma em preocupação quando o assunto é logística e transporte de grãos. Apesar de o Governo Federal ter garantido, por meio de decreto presidencial, que o transporte de carga — assim como os serviços médicos, segurança pública e abastecimento de alimentos, entre outros — é uma atividade essencial, e, portanto não deve ser interrompida no período de combate ao coronavírus, as ações em nível municipal e estadual devem ser coordenadas para evitar prejuízos e interrupções do abastecimento.

Alguns municípios proibiram, por meio de decreto, o transporte de grãos para outras localidades. Limitando, inclusive, o funcionamento dos armazéns de grãos da cidade apenas para “recebimento da colheita municipal, sendo vedado o escoamento para fora”.

É necessário ter em mente, nesse momento, que garantir o abastecimento e a circulação de bens no país é tão importante para a população e para a economia, quanto os esforços para não permitir que o Covid-19 se alastre. Para isso, é preciso cuidar desses profissionais e dar condições para que exerçam suas atividades com segurança e estrutura, evitando qualquer tipo de contato no momento da fiscalização e do embarque dos grãos.

Por isso, é importante reconhecer os esforços do Ministério da Infraestrutura que anunciou, suspendendo, em caráter emergencial, postos com balanças de pesagem (fiscalização do peso dos veículos) nas rodovias federais por 90 dias.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), orienta que o setor agropecuário nos municípios converse com as prefeituras para reverter qualquer eventual fechamento de agroindústrias ou comércio de insumos em virtude da pandemia.

As prefeituras precisam se manter coesas com os governos estadual e federal, afinal, todos os insumos ou derivados da cadeia produtiva de alimentos estão resguardados pelo decreto presidencial que visa o livre trânsito, seja transporte de cargas em geral, seja de insumos e produtos que são base de alimentos para a população.

Olhando para as exportações, o otimismo volta à tona ao observar as informações do grupo criado pela CNA para monitorar a crise e realizar levantamentos sobre a situação de mercados e produtos, cujos boletins apontam que não há interrupção nas exportações de bens agropecuários brasileiros. Podemos citar como exemplo as exportações à China, que entre janeiro e fevereiro, houve aumento de 9,7% no comércio de grãos, óleos e alimentos no país.

As principais commodities agrícolas, como soja, milho e café, apresentaram queda nos preços internacionais. No entanto, em função da alta do dólar, os preços reais não foram impactados. Para o setor sucroenergético e o algodão, o maior problema é a guerra do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, que derrubou os preços nestes setores.

Uma questão a ser observada com o dólar em alta, é que o aumento de rentabilidade do agro pode gerar a falsa sensação de que o setor está lucrando neste momento difícil. Como alguém vai ter que pagar a conta ao final desta pandemia, o agronegócio pode ser encarado pelo Governo Federal como o setor com as melhores condições para ajudar na retomada do crescimento. Isso precisa ser observado com cautela e o setor, tanto em nível federal quanto estadual, está aberto para dialogar, tendo em vista o bem maior da população, sem penalizar os empresários do agronegócio, que geram emprego e renda e é tão importante para o PIB brasileiro.

O que podemos aprender com esta turbulência que atinge também a economia? Ainda que o agro represente elevada importância na balança comercial, em Mato Grosso ainda estamos muito distantes no que se refere a agregação de valor. Já vivenciamos outros momentos, quando o mercado de grãos esteve em níveis de preços abaixo dos custos e, por sermos simples produtor de matéria-prima, desencadeou, além de uma forte crise no setor, a redução drástica nas receitas do Estado e municípios. Precisamos agregar valor como meta permanente. Este é o nosso caminho!

*Miguel Vaz Ribeiro é produtor rural, empresário e membro do conselho executivo da Fiagril



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