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Opinião
Domingo - 03 de Maio de 2020 às 09:40
Por: Renato de Paiva Pereira

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Depois das raras boas notícias da mídia, brotam frases antecedidas das conjunções restritivas/opositivas “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”, “entretanto”. Assim: “a inflação atual está em 0,1%, entretanto especialistas estimam que ela vá aumentar”; ou “a safra brasileira de grãos foi a maior de todos os tempos, mas os produtores estão preocupados com os custos do próximo plantio”; ainda ”o número de infectados pela covid-19 caiu na Espanha, mas explodiu nos Estados Unidos”.

Essa obsessão por notícias ruins ou por depreciar as boas, acontece porque as pessoas têm dificuldade de admitir que no geral as coisas estão melhorando. Dado à nossa tendência pessimista, preferimos idealizar o passado e desmerecer o presente, dando sempre maior valor às coisas antigas que às atuais e mais peso às notícias negativas que às positivas.


Nestes tempos de Covid-19 televisões, jornais e sites com sua mania de valorizar os dramas individuais e coletivos para conseguir nossa atenção, disputam um macabro campeonato para decidir quem dá em primeira mão as mais dramáticas notícias de forma mais pungente e comovedora. Exploram ao máximo o sofrimento do povo exibindo à exaustão choros e desesperos de pessoas que perderam seus familiares. E o que é pior: quanto mais chocante a notícia, mais ouvintes conquistam.

Essa obsessão por notícias ruins ou por depreciar as boas, acontece porque as pessoas têm dificuldade de admitir que no geral as coisas estão melhorando

Não suponham, caros leitores, que sou um cruzamento de Pangloss com Poliana. Aquele, no livro “Cândido” do filósofo francês Voltaire, vivia tentando incutir otimismo no seu discípulo (Cândido); e esta (Poliana), no livro de mesmo nome da escritora americana Eleanor H. Porter insistia em ver coisas boas em todos os episódios ruins de sua vida.


Sobre a pandemia que estamos atravessando Pangloss repetiria que “tudo vai melhor no melhor dos mundos possíveis” e a Poliana agradeceria por ela são ser tão mortal como a gripe espanhola ou a peste negra.

Talvez um pouco como esses dois, diria que essa epidemia seria mil vezes pior se ao invés de velhos e doentes escolhesse crianças e adolescentes. Imaginem o desespero dos avós que hoje somos as vítimas prediletas e dos pais e mães se estivessem ameaçados seus filhos e seus netos.

Esta pandemia é um acidente de percurso. No geral definitivamente a vida está melhorando: nos últimos vinte anos a população mundial vivendo em extrema pobreza caiu pela metade; o percentual de crianças que morrem antes dos cinco anos que era de 44% em 1800 hoje é menos de 4% e a parcela de pessoas subnutridas caiu de 28% para 11% em 40 anos.

Ainda, quase triplicou a produção de cereais por hectare em 40 anos; 90% das pessoas estão alfabetizadas; as mulheres estudam tanto quanto os homens e disputam em igualdade com eles cargos e empregos.

O mundo está ficando melhor, o que não quer dizer que esteja bom. Essa epidemia é só um soluço que vai passar. E, ao contrário do que pensa a maioria, creio que ela vai alterar muito pouco a forma de vida no mundo.

Quando chegar a vacina, rapidamente esqueceremos esse maus momentos, ficando somente a tristeza pelas vidas perdidas nestes dias cruéis.

RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor



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