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Opinião
Quinta - 23 de Julho de 2020 às 06:03
Por: Michelle Leite de Barros

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Podemos nos identificar com alguém por muitos motivos, seja essa pessoa famosa ou não. Não, fiquem tranquilos, eu não vou escrever aqui o quanto a Sandy faz parte da minha história desde o “Aniversário do Tatu” até o “Turu Turu” e mais (ih, já falei – risos).

Não estou aqui para falar de mim, mas sim de alguém que inspirou mulheres crianças, mulheres adolescentes, mulheres adultas, principalmente as que a acompanharam nos anos 90.

Nesse mês de julho, a Globoplay lançou um documentário dividido em sete episódios sobre a história da dupla Sandy e Junior. No quarto episódio, temos Sandy falando sobre o quanto a incomodava o fato da mídia estar a todo tempo mais preocupada com sua virgindade do que com sua carreira profissional.

Ela, quando adolescente, já era uma das cantoras mais renomadas do país e ainda fazia diversos papéis como atriz, mas o que mais se preocupavam em perguntar a Sandy era se ainda era virgem e sobre namorados. Vai dizer que quando você entrou na adolescência não vieram aqueles parentes inconvenientes perguntarem sobre os “namoradinhos” mesmo antes de quererem saber se você estava bem ou não?

A questão é: a vida sexual da mulher é objeto de questionamento desde quando ela é praticamente criança, principalmente em saber se aquela mulher ainda é virgem ou não.

Numa das participações no programa do Luciano Huck, uma fã pergunta a Sandy para ela responder se “sim” ou se “não”: “Sandy, você fica chateada em ver as pessoas falando sobre a sua virgindade?”. Ao que Sandy responde: “Se é sim ou não, sim”. Gostaria de dizer a quem interesse que não é só ela que fica constrangida com esse tipo de pergunta, e sim muitas mulheres que nem ao menos te deram intimidade para você questioná-la sobre algo tão pessoal.

Não para por aí, era o tempo todo, em quase todos os programas que Sandy se apresenta, haviam apresentadores fazendo perguntas sobre os namorados que ela tinha ou deixava de ter. Sandy nitidamente sempre deixou claro que é discreta quanto a sua vida privada, mas nunca foi respeitada quanto a essa decisão.

Seu marido, Lucas Lima, fala no documentário: “Me incomodava muito a galera o tempo inteiro definir o que ela era”. Sua mãe Noely chega a comentar que quando ela não falava, as revistas inventavam. Como sempre, a sociedade precisa definir e encaixar a mulher num determinado estereótipo, e Sandy foi colocada na “caixa santa”. Uma caixa que ela mesma não se pôs: “Imagem que não fui eu que criei, as pessoas criaram”, disse a cantora.

Até mesmo Junior comentou que queriam rotular a irmã como santa e ele como o oposto. Afinal, é muito mais bonito na cabeça dessas pessoas que uma mulher seja vista como a “virgem santinha” e o homem como o “mulherengo”. Tanto que quando Junior não correspondeu às expectativas da população como sendo o “garanhão”, começaram a discutir sobre sua sexualidade. Acontece, meu caro, que nem todos possuem a masculinidade frágil como você que precisa rotular ele de algo que não é só porque você não está seguro quanto ao que você é, mas isso é assunto para um outro artigo.

“Por favor não me idealize/Assim você tá fadado ao deslize/Verdade seja dita/Nada mais me irrita/Do que essa estupidez/É melhor você ter certeza/Tô longe de ser a Madre Tereza/Não pise no meu calo/Ou viro o bicho e falo o que não quer ouvir (...) Mas vê se pelo menos mude o texto/Ou tá arriscando o seu emprego/Pense grande, o seu destino é bem maior/Tenha fé/Do que ficar caçando alguém para pegar no pé (...)” – Discutível Perfeição, Sandy e Junior.

Essa música, segundo a nossa musa, veio quando ela já estava cansada dos rótulos, mas acostumada. Hoje, Sandy se diz feminista e não poderia ser diferente para ela: totalmente desconstruída e empoderada. Afinal, como disse Junior no show em Fortaleza da turnê “Nossa História”, em 2019: “Maria Chiquinha pode fazer o que quiser no mato”.

Michelle Leite de Barros é advogada em Cuiabá-MT.



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