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Opinião
Quarta - 19 de Agosto de 2020 às 14:51
Por: José Almir Adena

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Estive refletindo sobre os vírus. Não são considerados seres vivos. Não respiram, não crescem, não se locomovem, não comem, não bebem, não fazem sexo, não se reproduzem, apenas se replicam em contato com um ser vivo. E duram pouco tempo, horas ou no máximo dias.

Se têm tão poucas qualidades por que insistem em se replicar e permanecer?

Os animais sentem prazer ou necessidade de se reproduzirem, são instigados pelos hormônios ciclicamente, com exceção dos humanos que não dependem destes para acasalar, mas e os vírus?

Sabemos que são formados por uma membrana, um envelope, que embrulha um transmissor de código genético, geralmente um RNA (ácido ribonuclêico). Em volta da membrana, têm protuberâncias e no caso dos corona vírus (inclusive o SARS-Cov-2), espículas em toda a superfície.

Ao entrarem em contato com uma célula viável, as protuberâncias ligam-se à membrana da célula permitindo que os vírus inoculem o RNA em seu interior. Esta não vai fazer outra coisa que não seja produzir novos vírus iguais, às centenas, aos milhares que matam a célula hospedeira ao irromperem para fora a fim de inocular outras células, criando um formidável exército de escravas em poucas horas.

E ainda, em manobra surpreendentemente inteligente, se é que se pode chamar assim, produzem uma substância que neutraliza a capacidade da membrana celular de atrair novos vírus, para que estes não se liguem, como num papel pega moscas, à superfície da célula morta por eles. E assim vão se replicando sucessivamente, crescendo em assustadora progressão geométrica.

Certa vez ouvi um religioso em palestra antiaborto, dizer que a primeira sensação de prazer do ser humano é na formação do ovo, quando o espermatozoide penetra o óvulo, ou seja, na nossa concepção. Será que o vírus sente algo parecido ao inocular a célula com seu potente RNA?

E a célula, entusiasmada, enlouquecida, se volta obedientemente a produzir mais desse vírus mesmo que isso lhe custe a vida, como tantos apaixonados fazem?

Ou o vírus funciona meramente como um software malicioso? Ao infectar a célula, apaga sua programação básica e a induz a reproduzir incessantemente as informações codificadas no seu RNA como um hacker ardiloso, assim friamente, como as máquinas de computação?

O novo corona vírus parece ter gostado da aventura a que se entregou desde o ano passado. Está pretendendo ficar entre nós indefinidamente, tanto que aperfeiçoou suas espículas, sua coroa e agora se liga com mais vigor à membrana celular. Mutação, chamam, desde que iniciou sua aventura na China.

O Homo Sapiens foi sempre muito eficiente em se livrar de obstáculos para sobreviver

Pode, a exemplo dos piratas quando abordavam um navio mercante, lançar suas cordas com ganchos, atrair a vítima e invadir o barco, para saquear, agora com mais eficiência.

Alguns cientistas afirmam que vírus podem ser benéficos para o desenvolvimento do nosso sistema nervoso central e para o funcionamento dos intestinos, ou que possam ser alterados geneticamente para atacar as células cancerígenas, transformando-os em confiáveis aliados nossos.

Ou seriam os vírus a mais viva expressão do que Richard Dawkins chamou os genes, em seu “O Gene Egoísta”: “pequenas partículas que só buscam sobreviver”?, fazendo jus ao nome que nossos antepassados médicos lhe deram: vírus=veneno em latim.

E são competentes, porque levando em conta também os oceanos, há mais espécimens na Terra em número e em variedade do que qualquer organismo vivo: animais, vegetais, bactérias, fungos.

No final, parafraseando Richard Dawkins, parece que os vírus nada mais são do que “pequenas partículas que só buscam replicar”.

O Homo Sapiens foi sempre muito eficiente em se livrar de obstáculos para sobreviver. Em 50.000 anos ocupou e quase devastou toda a Terra, venceu diversas patologias e pandemias, erradicou doenças, algumas virais, aniquilou populações menos providas e exterminou outras espécies visando lucro e vantagens.

Espero, fazendo parte deste grupo, que supere também esta pandemia, poupando pessoas que nos são muito caras e de quem necessitamos.

José Almir Adena é médico-cardiogeriatra.



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