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Opinião
Quinta - 15 de Outubro de 2020 às 06:18
Por: Michelle Leite de Barros

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Confesso não ser fácil ser mulher e feminista em um mundo cercado por ideais tão podres. Machistas homens e mulheres por todos os lados se achando no direito de opinarem sobre o corpo da mulher, como ela se veste, como ela se porta, qual tipo de música ela escuta, qual sua orientação sexual, qual sua religião ou a falta dela.

Você se acha mesmo superior por ser hétero? Por ser evangélico, espírita ou católico? Por não ouvir funk? Por não usar um decote? Olha, você não é.

Eu não uso biquíni fio dental, mas eu não sou melhor nem pior por isso; eu não escuto sertanejo, mas eu não sou melhor nem pior por isso; eu não vou a igreja, mas eu não sou melhor nem pior por isso. Agora, quem sabe respeitar o próximo consegue sim ser um melhor atrativo do que o preconceituoso.

Saiu nos principais jornais de Mato Grosso que um homem ejaculou em uma criança de 10 anos no shopping em Várzea Grande. Quando fui ler um dos comentários em uma das notícias, tinha uma mulher que falava: “cadê a mãe da criança que não estava cuidando dela?”.

Confesso não ser fácil ser mulher e feminista em um mundo cercado por ideais tão podres

Sério mesmo? O problema é a mãe da criança? Senhora, o problema do estupro em 100% dos casos só tem um: o estuprador.

O problema do bebê estuprado pelo pai é a fralda que ele usava? O problema da mulher estuprada por um homem é a minissaia que ela usava? O problema de uma criança que estava olhando bonecas numa loja infantil passar por um crime desse é a mãe dela?

Mais uma vez né, sociedade, a vítima sendo julgada. E vejam só, a vítima não é uma mulher que andava com uma calça de academia pelas ruas, como muitos de vocês gostam de julgar. A vítima era uma menina de 10 anos que estava brincando. Agora, imaginem só se fosse uma mulher, uma menina, uma adolescente. Prefiro não citar os “carinhosos” apelidos que vocês costumam dar.

Só parem de emitir julgamentos no jeito que a moça dança, na roupa que a moça veste, na forma que a moça fala, na maneira que a moça anda. Vão cuidar de acabar com o preconceito, com o machismo e deixem a moça viver. Deixem a criança brincar, deixem a mulher ser livre.

Se você ainda não percebeu que cada pessoa tenta viver a sua vida do modo que ela se sente feliz, o problema não está nela, mas sim em você. Para de querer falar que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, se o noivo não é você; para de querer enfiar a sua religião nos outros se a pessoa não quer e não concorda com ela; para de querer dar palpite no tamanho da saia alheia se quem está mostrando as pernas não é você.

O único culpado de um estupro é o estuprador. E se você julga que seja outra coisa, tenho uma péssima notícia para te dar.

Michelle Leite de Barros é advogada em Cuiabá.



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