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Opinião
Sábado - 19 de Novembro de 2011 às 08:20
Por: Lourembergue Alves

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No recente aniversário da República (15/11), brasileiros perguntavam a si próprios a respeito das mudanças ocorridas no Brasil. Mudanças que mexeram com a vida cotidiana. Mas não o bastante para diminuir as desigualdades ainda gritantes. Aliás, os dados do IBGE não deixam qualquer dúvida nesse sentido. Tampouco são diferentes os recentemente demonstrados pelo relatório do Desenvolvimento Humano. O país ocupa a 84ª. posição entre os 187 Estados avaliados pelo índice, e, entre pobres e ricos, continua a existir uma distância bastante acentuada.
 
Isso, entretanto, não esconde o novo cenário – ainda em construção - que se tem a partir da última década do século XIX. As imagens são, de fato, espetaculares. Sobretudo as construídas na segunda metade do XX, que se somaram as da primeira e vem se juntando com as de agora. Elas formam juntas e entrelaçadas, uma estampa extraordinária. O país mudou, as pessoas ampliaram suas expectativas.

Inclusive com a possibilidade de viverem mais, e de uma maneira saudável – com melhorias também para a velhice. Certamente porque houve acréscimo no poder de compra dos brasileiros, graças ao plano econômico, viabilizado em 1993 e concretizados no período de 1994-2002. O que resultou em ganhos e dividendos sociais significativos – utilizados, e muito, em campanhas eleitorais, com o Bolsa Família de carro chefe.  
 
Quadro, contudo, bastante longe do ideal. Nem chega perto do razoável. Embora haja todo um discurso de satisfação. Alimentado pelos retratos do exterior, cheios de crises e de dificuldades financeiras. Situação complicada que não chegou por aqui. Mas o Brasil não se encontra imune a dita situação. E mesmo que estivesse, a fotografia exposta pelo Censo de 2010 já arranca enorme preocupação. Tudo em função da desigualdade. Pois, a média nacional de rendimento domiciliar per capita, diz o IBGE, de RS 668 em 2010, 25% da população recebiam até RS 188 e metade dos brasileiros recebia até RS 375, menos do que o salário mínimo naquele ano (RS 510). Encontra-se, então, alta a incidência de pobreza. Bem mais nos municípios de porte médio (10 mil a 50 mil habitantes). Talvez, por isso, ainda se encontra bastante alta o percentual de analfabetos. Este índice se encontra mais entre pretos (14,4%) e pardos (13,0%), quase o triplo dos brancos (5,9%). Conforme ainda o IBGE, no Nordeste existe mais de ½ milhão de pessoas de 15 e 24 anos de idade (502.124) que não sabem ler e escrever. Isso sem falar naqueles – de todas as idades e regiões do país – que são incapazes de interpretar um texto de três linhas, embora algumas delas tenham concluído o ensino fundamental. Soma-se a isso, a questão do saneamento básico, abaixo do necessário, da insegurança e do colapso na saúde pública.

Explica-se, portanto o porquê o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil em 2011 é de 0, 718. Um bocado distante dos primeiros cinco colocados (Noruega, Austrália, Holanda, EUA e Nova Zelândia), com 0, 943. Países que mantiveram seus postos. Diferentemente do Brasil, a despeito do discurso raivoso do ex-presidente-metalúrgico, caiu de 73º., de 2009, para o 85º. em 2010. 
 
Percebe-se, portanto, o quanto os brasileiros devem melhorar. Daí a necessidade de projetos e programas. Tarefas difíceis. Pois os políticos, ao contrário de pensarem no país, preferem pensar no próprio bolso e na manutenção de seus poderes; enquanto a população – em sua maioria – faz a opção pela apatia, no mesmo instante em que as paredes da corrupção são erguidas entre os poderes constituídos. Eis, então, a tela e suas cores que se tem neste mais um ano de aniversário da República. 

Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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