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Opinião
Segunda - 09 de Novembro de 2020 às 10:17
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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No Brasil é um grande tabu falar sobre igualdade de gênero e sexualidade. Todavia, o que não estão a perceber é que o estudo, além de libertar, é capaz de salvar muitos e muitas.

Desmistificar situações através do estudo faz alcançar conhecimento, livrando da ignorância, que a tantos e tantas está a aprisionar. Aprendemos que podem nos extrair tudo que é material, mas o conhecimento, aquele que nos é enxertado na mente, é impossível furtar.

O ‘caso Mariana Ferrer’ trouxe inúmeras meditações. A ‘cultura do estupro’ é realidade em nosso meio. Mesmo aqueles e aquelas que se dizem preparados e preparadas para desempenhar papeis de destaque socialmente cometem “deslizes”, quando a questão envolve liberdade sexual ou corpo.

Sim, muitos e muitas não conseguem lidar com ocorrências a envolver crimes sexuais, ou, algo relacionado à sexualidade. A compreensão é minúscula, ficando implícita a criação e educação patriarcal de que os homens são os senhores, principalmente, quando o tema é sexo ou corpo.

‘caso Mariana Ferrer’ trouxe inúmeras meditações. A ‘cultura do estupro’ é realidade em nosso meio

Esse emblemático caso que movimentou o Brasil e o mundo, escancarou duas situações bem distintas. A uma, daqueles e daquelas que se indignaram imediatamente com a forma de tratamento e desrespeito à vítima.

Porém, de outro lado, é de se confessar que em minoria, uma camada a evidenciar e escancarar que as mulheres devem, de fato, receber tratamento desigual.

Por que ainda se discute quanto à forma que as mulheres devem ser tratadas? Justamente por não possuírem o mesmo tratamento dispensado aos homens.

Quando um homem foi chamado a atenção por alguma vestimenta? Quando eles foram chamados a atenção por algo que tenham postado em redes sociais, ou que tenham ofertado a conotação de estarem à disposição para serem assediados? Quando em uma audiência em que se analisa a prática de um crime, diga-se de passagem grave, falou-se que o homem é bem bonito? Também, olhe as fotos que você expõe homem? É, nunca...

Os corpos precisam ser mostrados em todos os aspectos, para que não pairem dúvidas quanto a qualquer de suas partes. Nas carcaças estão as materializações humanas.

Não deveria ser tudo muito comum, tanto o corpo masculino, quanto o feminino? Justamente esse deveria ser um ponto dos mais importantes a ser tratado nos bancos escolares, desde a tenra infância. Se a inocência é retirada pela malícia, pois, alguns temas são proibidos, as dúvidas surgem com facilidade, acompanhando os seres humanos para todo o sempre.

O termo ‘ideologia de gênero’ foi difundido, enquanto deveria ser buscada a ‘igualdade de gênero’. Esse mito criado dá lugar a pensamentos ou crendices que nos distanciam da almejada educação sexual. O que se busca é a igualdade. Entender e respeitar cada gênero, só isso. Afirmaram erroneamente que estudar sobre gênero poderia deturpar os conceitos de homem e mulher, destruindo a ‘família tradicional brasileira’.

As famílias não abordam a sexualidade conforme deveriam, deixando que os pequenos e pequenas aprendam com a ‘escola da vida’. Ensinar que toques nesses corpos só podem acontecer com a permissão das donas e donos evitaria a ocorrência de muitos crimes. Aliás, eles e elas estariam a ensinar, se aprendessem também na escola.

Os crimes contra a dignidade sexual, que ferem a liberdade sexual das vítimas, e que são em sua maioria mulheres, poderiam ser evitados com ensino.

Se os corpos se respeitam independente do gênero, o julgamento das atitudes e a forma de tratamento não favoreceria à cultura do estupro.

Buscar reflexões sobre o triste episódio ‘Mariana Ferrer’ é, de fato, saber que vivemos no século XXI, mas, ainda, tendo seres humanos com a cabeça ‘Neandertal’.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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