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Opinião
Quarta - 09 de Novembro de 2011 às 17:57
Por: Lourembergue Alves

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“O Parlamento é o lugar privilegiado de se fazer política”. Deveria, “pelo menos” – diria o leitor. Pois “nele”, completaria, “se dá o encontro das vontades de alguns poucos com as necessidades da população”. Tem-se, então, um encontrão. Daí a exigência do parlamentar – responsável que é pela discussão em torno das vontades-necessidades. O que exige dele, o parlamentar, a capacidade de negociar. Arte, no entanto, substituída por outra. Bastante diferente daquela. Afinal, prevalece um jogo de interesses, cujo verbo-norteador desqualifica o diálogo e sobressai o trocar. Troca-se o voto-parlamentar por benesses na administração pública.
 
Essa troca sempre existiu. Sempre com a predominância da recompensa. Uma recompensa que pode ser em dinheiro, tal como se viu no mensalão do PT, do DEM e do PSDB, ou em forma de liberação de emendas de bancada e individual, ou de loteamento de cargos no Executivo, independentemente da esfera em que pertence.

O dito banquete é grande. Bem mais do que se imagina. Pois a disposição das cadeiras das Casas Legislativas municipais, estaduais e federais vai além da mesa onde se encontra a “merenda”. 
 
Compreende-se, agora, o porquê desapareceu a esgrima. Por conseguinte, não mais existe o discurso. Daí o esvaziamento do plenário, e, então, a falta de coerência nas falações, as quais são desencontradas. Também, pudera, os acordos já são previamente feitos, e sabidos pela população quando um ou outro envolvido se sente prejudicado com a partilha, e, assim, resolve “dar com a língua nos dentes”. O mensalão petista, aliás, cabe bem neste retrato. Pois tudo começou com a propina recebida pelo ex-chefe do DECAM/ECT. O que deixou em maus lençóis o PTB, cujo presidente denunciou o esquema de “mensalidade distribuída a deputados que votavam a favor de projetos do interesse do governo do ex-metalúrgico”. 
 
Descoberto. Porém tal esquema não desapareceu de vez. Novas e velhas formas dessa prática são reeditadas. A todo ano. Toda legislatura. Isso denuncia o seu enraizamento. A ponto de se acreditar na sua institucionalização. Daí a força do clientelismo que se criou, e se cria a cada instante. Clientelismo que também é tido como uma espécie de blindagem a quem se vale do “levar vantagem”, ou por meio de propinas e de benefícios públicos. Não o bastante para evitar que se têm as denúncias, as quais – nos últimos dez meses – já derrubaram cinco ministros. 
 
Derrubadas que calaram, inclusive, a oposição. Voz alguma se fez permanente, e, no silêncio oposicionista, surge à idéia de “anistia aos mensaleiros”. Proposta quase aprovada na Comissão de Constituição de Justiça. Diante de tucanos e democratas demasiadamente sem ação. 
 
Cenas de um filme bastante presente nos Legislativos. Inclusive na Assembléia Legislativa de Mato Grosso. Só que a ausência de ação, por aqui, como uma doença, atacou os deputados estaduais.

Trata-se, então, de anemia progressiva, sem ser, contudo, fatal. Embora subtraiam a política do plenário, cujo local se transforma em apêndice de outro cenário, onde se dá a negociata. Assim, o jogo de trocas artificiais de interesses caracteriza-se pela presença do governo e do legislador, e não com o conjunto da sociedade. Isso, uma vez mais, desqualifica a importância da política – no seu real sentido.           

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  
 


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