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Opinião
Domingo - 07 de Março de 2021 às 05:58
Por: Enildes Corrêa

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O Brasil chegou, lamentavelmente, ao catastrófico número de mais de 259 mil vidas perdidas para a Covid-19. Recentemente, por meio das redes sociais, tomei conhecimento da morte de uma conterrânea cuiabana e contemporânea de meninice. Um choque ao ver a sua foto com um sorriso nos lábios, jovem, bonita e cheia de vida, estampada com a notícia de seu súbito falecimento. Fato quase inacreditável! Nossas famílias eram vizinhas e a criançada toda costumava brincar nas imediações da Igreja do Rosário e São Benedito.

Vieram lembranças da época, do rostinho daquela linda menina que ia comprar coisas para a mãe no armazém de Seo Hélio e dona Quita. Quem poderia imaginar que algumas amigas de infância deixariam o corpo antes dos 60 anos por uma doença repentina como a Covid-19, que rapidamente pode se tornar fatal?

Papai dizia que “a morte é companheira da vida”. E como a pandemia do novo coronavírus, SARS-CoV-2, nos colocou em contato direto com essa verdade existencial! De repente, uma pessoa sadia contrai o vírus e vem a falecer em pouquíssimo tempo, muitas vezes sequer consegue fazer suas últimas recomendações aos familiares, tampouco exalar seu derradeiro suspiro com fluidez e relaxamento infelizmente! A trágica passagem costuma ocorrer num leito de UTI, desacompanhada de entes queridos.

Vieram lembranças da época, do rostinho daquela linda menina que ia comprar coisas para a mãe no armazém de Seo Hélio e dona Quita

Apesar da extrema gravidade da situação em nosso país, milhares de pessoas insistem em manter os mesmos comportamentos de antes da pandemia chegar, não respeitam o distanciamento físico, frequentam lugares em que acontecem aglomerações com altíssimo risco de contágio, sem máscaras e sem cuidados mínimos com a higienização das mãos.

Alienam-se da realidade para manterem em pé seu pequeno mundo, como zumbis, em desconexão total com a demanda do momento, que exige muito cuidado com a própria vida, a de membros da família, a de amigos e de todo o coletivo. Sacodem os ombros indiferentes à tragédia que ocorre em seu entorno, fora do domínio de seus umbigos, com a desculpa de quem morrer é porque “era chegado o dia, coisa do destino”.

Como é revoltante e angustiante presenciar tamanha ignorância e frieza nas relações humanas! A indiferença e a falta de compaixão pelo próximo são sintomas patológicos e cruéis. Vimos exemplos recentes logo após as festas natalinas, de Ano Novo e também de carnaval, com aeroportos lotados e muita aglomeração nas ruas, nos shoppings, bares, restaurantes e nas casas de muitas famílias brasileiras que se reuniram em nome do amor! Pergunto: – Que amor é esse que coloca em risco a vida de quem se diz “amar”?

Muitos dizem que precisam desfrutar a vida (a qualquer custo, inclusive o da própria morte e de seus familiares – filhos pequenos, pais, avós etc.), não podem ficar em casa e deixar passar os momentos de diversão.

Enquanto isso, após cada festa, cada churrasco, balada em boates, celebração de vitórias do time preferido de futebol, cultos religiosos, entre outros eventos em que se formam aglomerações, mais e mais pessoas são contaminadas pelo novo coronavírus e agora também pelas suas outras perigosas variantes.

Contraditoriamente, de acordo com reportagem do Portal UOL, “na fase em que o país atinge a maior média de mortes pela Covid-19, os brasileiros resolveram ficar cada vez menos em casa”. Reduziu-se de modo substancial o índice de isolamento social numa fase aguda da pandemia. Inevitável sentir indignação ao testemunhar comportamentos que revelam muita inconsciência por uma parte considerável da população e por governantes negacionistas, seja qual for a esfera – federal, estadual ou municipal.

E a dor da perda vai batendo implacavelmente na porta de milhares de famílias! Como é triste saber das trágicas notícias de crianças pequenas, adolescentes, jovens adultos que ficaram órfãos, de pai, de mãe ou de ambos, simultaneamente! Alguns perderam também outras referências amorosas, como os avós – mortes em efeito dominó... Quem chora por esses órfãos, além deles mesmos e de quem ficou com a responsabilidade de criá-los sem um de seus genitores? Quem chora por eles?

De acordo com análise de cientistas e infectologistas, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas, caso houvesse, desde o início, uma coordenação em nível nacional para adoção unificada de medidas preventivas recomendadas pela ciência e a Organização Mundial da Saúde (OMS) a fim de conter o avanço do contágio do novo coronavírus. Quem dera, vidas fossem priorizadas ao invés da economia. Como se a economia fosse desvinculada da vida... Até o acesso da população a vacinas, por ora a única e comprovada prevenção contra a Covid-19, foi dificultado pelo governo federal! Chegamos ao absurdo de ter que lutar pelo nosso direito constitucional de sermos vacinados!

Nas palavras de John Donne, poeta inglês do século 17, registro meu sentimento de pesar pelas mais de 259 mil vítimas fatais pela Covid-19 no Brasil e mais de 2 milhões no mundo todo:

“A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".

Os sinos dobram pelos que se foram, pelos que ficaram e se compadecem com o sofrimento de milhares de famílias enlutadas, e, em especial, os sinos dobram pelos órfãos desta pandemia (seja qual for a idade), que crescerão com a dor da ausência de suas fontes terrenas de vida – em alguns casos, o pai, ou a mãe, ou ambos, pai e mãe, e ainda os avós.

“Por quem os sinos dobram”?

Enildes Corrêa é administradora, terapeuta corporal, orientadora de meditação e aulas de respiração/Yoga



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