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Opinião
Quinta - 01 de Abril de 2021 às 09:48
Por: Renato Gomes Nery

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Venho procurando um assunto para escrever a crônica desta semana, mas não tenho ânimo para me libertar deste limbo que me oprime, me humilha e me deixa apático e sem ânimo para pensar em alguma coisa consequente. Dizem que a depressão é um poço sem fundos onde o nada vezes nada se debatem num duelo sem fim.

A prisão a que o Estado submete as pessoas é como se as colocassem vivas num ataúde. Enfim, um sepultamento de pessoas vivas. Não sei que utilidade tem esta prática de se segregar as pessoas, sob o pálio de torna-las melhores, pois não creio que se reeduca pessoas desta forma, como se educação e formação não fossem um ato de dedicação e de amor!

Não tenho a real dimensão de ser enterrado vivo numa prisão. Entretanto, a segregação a que fui submetido, nesta pandemia, se prolonga com uma maldição sem fim me deixando sem chão, sem espaço e sem ar.

Fico imaginando o suplício de ser enclausurado numa UTI ou pior ser deixado, sem remissão, numa enfermaria ou num corredor de hospital sem um tratamento adequado e digno. Os médicos, enfermeiras e auxiliares estão esgotados. Não há vagas, não há remédios e nem oxigênio. Esta doença é para os meus medos o inferno em vida, pois se eu fosse para o inferno não teria a sensação do sofrimento físico que me atordoa e me apavora. Não tolero o sofrimento físico!

A prisão a que o Estado submete as pessoas é como se as colocassem vivas num ataúde

Já foram contaminadas, neste Brasil de meu Deus, milhões de pessoas. Mais de 300.000 já foram bater na porta de São Pedro em outros 3.000 fenecem e ampliam todos os dias. A minha sensação de impotência se prolonga a espera de uma retardatária vacina que não chegou e parece que não chegará aos da minha idade, pois depende muito mais de boa vontade de Governos e empresas estrangeiras do que de atitudes do nosso omisso Governo Central.

Casos e mais casos são relatados, em profusão, pela imprensa e, ora esta maldita pandemia está matando jovens e crianças. Outro dia encontrei um amigo saudável, no sábado, e soube que ele foi internado na terça-feira seguinte, morrendo no sábado subsequente. Barba é para pôr de molho e a minha - que eu sequer cultivo - já está nessa água quente há muito tempo. Estamos todos no patíbulo! A você que me lê, talvez este seja o último texto da minha lavra!

Estamos completamente órfãos, abandonados nas ruas e filas do descaso, enterrados em valas comuns dos campos santos, sem choro, sem velas, sem sequer sermos velados, na hora derradeira, pelos nossos familiares e amigos que ainda resistem. Enfim, estamos literalmente nas mãos do satanás que se diverte com este circo de horror. O que fizemos para pagar este preço tão salgado?

Renato Gomes Nery é advogado.



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