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Opinião
Quinta - 20 de Outubro de 2011 às 16:49
Por: Lourembergue Alves

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O jogo político-eleitoral é todo marcado por acordos. Destes, não poucos, são oriundos de desacordos ou de casamentos desfeitos, os quais trazem realçados sobremaneira os interesses particulares, não os da coletividade. Ainda que os discursos digam outra coisa. Veja, por exemplo, a curiosa intenção do governo estadual em contemplar o DEM/MT com uma secretaria. Intenção que se materializou com a posse de um democrata – ou pelo menos era na época - na Secretaria de Desenvolvimento Rural e de Agricultura Familiar. 
 
Partido que, na eleição passada, esteve em palanque oposto de onde se encontrava o peemedebista-governador. Este seguiu com o seu antigo arco de alianças, enquanto os democratas se desgarravam de tal fileira para se acomodarem entre os tucanos. O ninho, porém, não cabia a todos. Por isso, um ou outro integrante do DEM preferiu seguir caminho diferente do proposto pela sigla ou o “sugerido” por seus caciques regionais. Dizem até que pediu votos para coligação adversária. Então vitoriosa. Não foi por outra razão, aliás, que o governo abriu espaço no seu secretariado para mais um deputado estadual. “Manobra oficial” que contemplou o suplente-democrata Gilmar Fabris, enquanto o titular-parlamentar José Domingos se ajeitava na cadeira de secretario – embora, volta e meia, reclamava por falta de verba, o que servia de instrumento inibidor para sua autopromoção, com vista à disputa eleitoral do ano que vem.   
 
Há, aqui, claramente um interesse particular se sobrepondo aos da população. Pois a população não pediu, nem foi comunicada dessa pirueta de acomodação. Tampouco deveria ser, uma vez que tal acomodamento não é falado – via propaganda no rádio e na TV - durante a campanha eleitoral. Ainda que se saiba dessa possibilidade. Pois quem apóia, espera ser recompensado. Isso ocorre nos bastidores. Mais ainda, depois da posse do eleito ou reeleito. Até porque as cobranças são inevitáveis, e estas são sempre entrelaças a negociações futuras, cujo desenlace vai além, embora se prenda a construção da maioria no Parlamento. Uma maioria que é questionada a todo instante, tão logo se ouve ou lê as críticas advindas do plenário legislativo, e mesmo fora dele, com fortes acusações, a exemplo daquela que coloca em xeque a política de incentivos fiscais, com a qual o governo beneficia uma dada empresa. Benefício contestado também pelo presidente regional da sigla democrata, que não cobrou do governador a pasta no primeiro escalão, com a migração de José Domingos do DEM para o PSD. O partido perdia a secretaria, mas mantinha a cadeira na Assembléia Legislativa, e reforçava o próprio discurso de “independente”, sem ser oposição, como se isso fosse possível. 

 Novamente, o interesse individual ou grupal se sobrepõe. Sobrepõe, infelizmente, às vontades da sociedade que, por sua vez, faz vista grossas as negociatas existentes. Talvez por se contentar com o blábláblá que ecoa nos corredores da Assembléia Legislativa e chegam às residências, via veículos de comunicação. É o antigo “pão e o circo”, agora com uma nova roupagem. Tanto que outro dia, curiosamente, um missivista elogiou certo deputado por este fazer da tribuna um local de cantoria, e, esta coluna, certamente, por desconhecimento de causa, imaginava que o plenário era o local privilegiado do debate, do discurso e de ações. 
 
Mudou-se o tempo. Também a prática. Esvaiu-se a década dos oradores. Mesmo diante de uma porção de temas – entre os quais o de incentivos fiscais - que exigem a entrada de cena de políticos comprometidos com o discurso, não com os negócios e a acomodação de parceiros e de apaniguados.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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