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Opinião
Segunda - 24 de Maio de 2021 às 06:27
Por: Renato de Paiva Pereira

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Um parente meu, que já tem oitenta e tantos anos, não conseguia conter-se quando pintava, na sobremesa, o tradicional pavê. “É pavê, ou pra comê?” repetia essa piadinha, que já era velha e chata nos anos 70. Hoje ele integra, talvez sem o saber, o time do “Tiozão do Pavê”, apelido que os jovens dão aos velhos, que vivem repisando os mesmos chistes sem graça.

Junto com esses, que pelo menos são inofensivos, surgiu um deletério elemento na internet que está sendo conhecido como “Tiozão do Watsapp”. Ele cria ou reproduz, sem nenhum filtro, as mais absurdas histórias, que seus inúmeros seguidores ingenuamente replicam.

Todos os “tiozões” têm em comum, o fato de alimentarem-se somente de notícias das mídias sociais e de serem avessos aos jornais, porque “jornalista é tudo comunista ou comprado”. Consideram a imprensa nacional e a do mundo mentirosas e ideológicas, comungam ainda, com grupos fanáticos, a paixão pelas teorias conspiratórias.

Todos os “tiozões” têm em comum, o fato de alimentarem-se somente de notícias das mídias sociais

Alguns, eu creio, têm consciência da fraude que estão divulgando, mas isto pouco importa, o que conta é o resultado pretendido. Outros, talvez, nem chegaram ao nível de suspeitar das asneiras que estão reproduzindo.

O “Tiozão do Watsapp” é figura importante para espalhar teorias malucas, que nunca seriam divulgadas pelas mídias sérias e tradicionais.

Está em andamento na Europa e nos Estados Unidos um movimento de combate à vacinação em geral, e principalmente contra a Covid-19, disseminado por internautas, com inspiração nas ideias do grupo americano QAnon.

Este grupo divulga que não existe um vírus causador da pandemia que estamos vivendo, mas que se trata do uso de uma ferramenta para controle da liberdade das pessoas em todo o mundo. Esse processo de dominação seria comandado pelo organizador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab e pelo bilionário Bil Gates.

Seguidores do QAnon, que estão em ascensão na Europa, acreditam em OVNIs e que China criou o vírus da Covid propositalmente. Afirmam que a internet 5G foi desenvolvida para controlar as pessoas e garantem que a vacina é um complô mundial para comandar o mundo.

Se não bastassem essas insensatezes, eles pregam que há uma urgente necessidade de combater os grupos que estão próximos de gerir a humanidade, compostos de ateus, comunistas, adoradores de Satanás e pedófilos.

Há poucas semanas integrantes do QAnon divulgaram que, dos porões do navio encalhado no Canal de Suez, foram libertadas cerca de 1.000 crianças, que seriam usadas para prostituição infantil, encorajadas pela Hillary Clinton.

O “Tiozão do Whatsapp” brasileiro, que talvez seja também um “Tiozão do Pavê”, pode não chegar ao cúmulo de divulgar que a Hillary estimule a prostituição infantil, mas passa perto dessa insanidade ao ajudar a convencer as pessoas sobre a inutilidade do distanciamento, que usar máscara é bobeira e que quem fica em casa para evitar a Covid é idiota.

Quem se informa com o “Tiozão” talvez não saiba que a pandemia nem de longe está controlada no Brasil e que a ocupação das UTIs recrudesce: passou de 85% em São Paulo e de 80% em Mato Grosso. Provavelmente influenciada pelas manifestações políticas, iniciadas em primeiro de Maio e pela liberação tácita das festas.

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.



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