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Opinião
Quinta - 13 de Outubro de 2011 às 23:33
Por: Mario Eugenio Saturno

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Ver nossos cientistas digladiando pelo feijão transgênico da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) está ficando assustador. Sem dúvida é um triunfo para a ciência nacional, mas a pressa em colocá-lo no mercado está revelando aspectos negativos da pesquisa.

O que mais me causou espécie foi ver um artigo no Jornal da Ciência de cinco cientistas de diversas universidades brasileiras e uma francesa mostrando que a Embrapa apresentou um estudo com sete cobaias que durou apenas 35 dias. E somente os três machos foram sacrificados, nenhuma das quatro fêmeas, para análise de seus órgãos. Para os cientistas, a Embrapa, como as demais empresas que submetem pedidos de liberação de OGM (Organismos Geneticamente Modificados), apresenta um estudo de baixa qualidade científica.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou o feijão transgênico não considerando o principio da precaução da Lei de Biossegurança. É preciso estudar o que ocorrerá quando o transgene migrar para as variedades crioulas de feijão.
 
Alertado por um colega do INPE, já tive a oportunidade de escrever sobre os males de se aplicar os "avanços científicos" sem muitos e bons estudos. Isso já aconteceu em passado não distante, em outra "revolução", a moderna "engenharia" inventou uma ração feita com carcaças de animais, entre elas as de carneiros. E isso foi muito bom e representou enormes ganhos, tanto na alimentação do gado quanto na redução dos custos.

E a Europa prosperou, até que... A epidemia de encefalopatia espongiforme bovina (BSE) ou vaca louca começou. O primeiro caso foi detectado em 1986 no gado britânico. As vacas e bois foram contaminados depois de ingerir rações compostas por partes de carcaças de carneiros infectados por príons mutantes.

O mal da vaca louca atingiu seu pior momento em 1993. Eram mais de mil casos identificados por semana. E quem foi culpado? O governo britânico é quem foi acusado de ter negligenciado o problema, demorar muito para sacrificar o gado contaminado e não ter alertado a população.

A doença pode ocorrer também em humanos e em ovinos. Em humanos, a doença é chamada Creutzfeldt-Jakob (CJD), em homenagem ao cientista que a descobriu na década de 20. Quando a BSE começou a afetar o gado britânico, houve casos de uma variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD), que alguns cientistas associaram ao mal da vaca louca. Muitas pessoas morreram vítimas da vCJD pois não existe cura.

Tudo isso nos mostra o mal em usar novidades que não foram devidamente estudadas. Por isso a necessidade de se ter precaução com os produtos transgênicos. Por mais que nos digam que esses produtos são inofensivos, não podemos esquecer que eram os mesmos pareceres dados anteriormente ao uso de carcaças. Cabe ao cidadão e à classe política exigir de nossas autoridades maior rigor no controle desses produtos.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)



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