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Opinião
Quarta - 25 de Agosto de 2021 às 06:35
Por: Ariete Sella Simões

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Ter acesso a informações, ou, na linha inversa, manter informações sob sigilo, representa, desde que o mundo é mundo, a diferença entre fazer ou não parte da casta de privilegiados em qualquer grupo.

A história da civilização dos povos nos mostra que, com as informações certas e nas mãos de pessoas certas, batalhas são vencidas, territórios são conquistados, nações tornam-se mais ricas, guerreiros e soldados são alçados à condição de líderes, governantes intensificam seu poder perante seus súditos. Mas o contrário também acontece.

E quando isso ocorre, os prejuízos são inevitáveis, em maior ou menor proporção.

Na antiguidade, época em que ainda não existiam os mecanismos tecnológicos que foram se aprimorando ao longo do tempo, os governantes encarregavam seus subordinados para se infiltrarem nos ambientes que lhes interessavam, os quais conquistavam a confiança da população local e, nesse processo de interação, retiravam as informações necessárias e as repassavam aos superiores.

No campo militar, tão importante quanto a coleta de informações, era a manutenção do sigilo das decisões e estratégias de guerra. Afinal, isso poderia definir o destino de uma nação. E o vazamento de qualquer dado sigiloso, caso fosse descoberto, era punido severamente, muitas vezes até com morte.

Ter acesso a informações, ou, na linha inversa, manter informações sob sigilo, representa, desde que o mundo é mundo, a diferença entre fazer ou não parte da casta de privilegiados em qualquer grupo

Na Idade Média, época em que o domínio e a autoridade da Igreja Católica eram incontestáveis, esta mantinha fortes estruturas para colher as informações que julgava importantes.

Uma das ferramentas utilizadas foi a institucionalização do “sacramento da confissão”, que na verdade era uma forma de saber o que as pessoas pensavam e faziam e, a partir disso, manter o controle sobre elas. Durante todo o período da Inquisição, a igreja usava os segredos das confissões para incriminar, julgar e condenar os considerados hereges, dentro de sua ótica e de seus próprios interesses.

A partir da Revolução Industrial, que se iniciou no final do século XVIII, a manutenção do sigilo das informações sobre as técnicas para construção de novos equipamentos era fator preponderante para definir o progresso ou a hegemonia de uma nação.

As fórmulas eram, então, guardadas a sete chaves, em espaços aos quais somente pessoas de absoluta confiança tinham acesso. Um cuidado usual era a proibição de escrever ou desenhar no interior das fábricas.

Na inexistência das câmeras de controle de imagem, a presença constante de guardas intimidadores era o recurso mais eficiente para garantir o sigilo.

Após a Segunda Guerra Mundial, com a divisão do mundo em dois blocos, um liderado pelos EUA e outro pela URSS e o advento da Guerra Fria, a importância do sigilo dos dados ficou mais evidente e a segurança das informações passou a ser segredo de Estado. Foi nessa época que os países institucionalizaram a espionagem, prática utilizada para descobrir informações do lado contrário e tirar delas o maior proveito possível.

Com o surgimento das novas tecnologias, sobretudo com os primeiros computadores, na primeira metade do Século XX, as informações passaram da fonte física para a virtual, o que ensejou um novo e preocupante desafio, que acentua cada vez mais: a proteção dos dados pessoais. Ou seja, a preocupação com o sigilo de dados, agora, extrapolou o campo público e passou para o privado. E essa luta pela privacidade se tornou questão de sobrevivência da humanidade.

Mas esse é um assunto sobre o qual falarei no próximo artigo.

Por enquanto, deixo a pergunta: você acha importante proteger seus dados pessoais?

Ariete Sella Simões é advogada/Data Protection Officer - DPO/ Consultora em Privacidade e Proteção de Dados.



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