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Opinião
Sexta - 30 de Setembro de 2011 às 23:11
Por: Lourembergue Alves

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Mais um partido político. É o vigésimo oitavo. Nasce grande. Bem maior que muitos dos mais antigos. Mas não menos viciado que os demais. Pois até o seu momento de gestação foi marcado por assinaturas de gente morta e de quem confessava jamais ter “endossado” criação alguma. Isso, contudo, não invalidou seu registro. Tampouco concorreu contrariamente a ausência de certificação dos tribunais, uma vez que esta nem mesmo é mencionada na legislação eleitoral. Vale apenas a apreciação dos cartórios. Afinal, vive-se no “país do se dá um jeitinho em tudo”. Inclusive no “furar” a fila para não perder o prazo. 
 
Foi uma corrida contra o calendário. A aproximação do 7 de outubro deixava tenso os fundadores da nova sigla. Nova, contraditoriamente com a feição de partido velho, mal acabado. Pois teve abreviado o tempo de concepção até o surgimento. Por isso, a agremiação nasceu sem identidade, e, para esconder tal falta, seus fundadores publicaram um manifesto, cuja primeira linha anuncia o PSD “voltado para os interesses maiores do Brasil”. Para tal, seus filiados farão uma peregrinação por todas as unidades da federação, “ouvindo a sociedade, empresários e trabalhadores para colher, em 27 seminários, subsídios para o Projeto de Um Novo Brasil”.
 
Belas palavras. Palavras que compõem o discurso. Este, apesar de claro, não revela o porquê da pressa para registrar a agremiação. Certamente para não entrar em contradição com as frases que constituem o próprio manifesto. Daí o uso do véu – capaz de encobrir o interesse particular em concorrer às eleições municipais (2012). Véu cuidadosamente costurado com linhas de “apoio as políticas sociais”, “aposta na agricultura e na pecuária”, defensor de um “Estado forte, regulador, mas democrático e centrado nas suas prioridades sociais”, as quais obrigam e obrigarão os congressistas peessedistas a se ocuparem sempre delas. “E vão precisar estar vigilantes, atentos a problemas” que já batem à porta. Isso justifica, no entender de seus ideólogos, a defesa e apresentação, no Senado, “de uma Proposta de Emenda Constitucional para eleger em 2014 uma Assembléia Nacional Constituinte, com parlamentares constituintes exclusivos para concluir seu trabalho revisional no prazo de até dois anos”. 
 
Assim, o PSD se mostra para a população. Faz-se apresentar com uma roupagem que, à primeira vista, parece nova. Ainda que o tecido já esteja todo esmaecido. E não é para menos. Pois essa agremiação traz em suas fileiras “velhas raposas” da política tupiniquim. Políticos que se fazem acompanhar por gente – tida como novidade - que também se filiou na mesma escola, e, portanto, já habituada com antigos vícios. 
 
Explica-se, então, o porquê as frases do manifesto peessedista igualmente se fazem presentes em outros discursos partidários (nos dos 27 partidos), sem que estes deixem de ser taxados como tal e, a propósito, lugares de um jogo de máscara. Por isso, parafraseando Charaudeau, todas as palavras usadas devem ser tomadas ao mesmo tempo pelo que elas dizem e não dizem. 
 
Isso, contudo, não impede de que se reconheça a importância do PSD no tablado de xadrez da política regional e nacional. Relevância que se expressa claramente pelo seu tamanho, “com perspectiva de ser a terceira maior bancada do Congresso Nacional” e a força política número 1 do Estado de Mato Grosso. O que obriga aos demais, inclusive por aqui, a se reorganizarem. Caso contrário, perderão espaços e eleições. 
 
De todo modo, a “nova” sigla não deve ser vista como “independente” – como vem sendo apregoada -, tampouco com a cara de oposição, apesar da defesa do voto distrital e contra qualquer tipo de regulamentação da mídia. Nenhuma coisa, nem outra. Aliás, a falta de identidade, permite-lhe ser governista, sem aparentar ser.       

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  
 


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