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Opinião
Sexta - 26 de Agosto de 2011 às 16:47
Por: Lourembergue Alves

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O viver democrático requer prática e comportamento próprios. Bastantes diferenciados, evidentemente, de regimes outros. Isso parece óbvio. Este, porém, não é reconhecido por todos. Explica-se – sem, contudo, justificar-se – o uso frequente da estratégia de desqualificação do interlocutor. Mais ainda por quem deveria sempre se valer do diálogo como ferramenta de trabalho. Até porque a atividade – mesmo sem ser profissão - de representar o povo exige negociação a todo instante. Daí a necessidade de se ter uma mentalidade alargada, conforme pondera Kant, ou seja, capaz de pensar no lugar e na posição de outrem.
 
Acontece, contudo, que o político pensa primeiro no seu umbigo, depois nos seus interesses, e, finalmente, nele mesmo. Foi exatamente isso que constatou Platão, cuja reação jamais poderia ser distinta da que tomou; assim como faz, hoje, uma porção de brasileiros. Apatia que se alastra. Reforçada que é pela ausência de convite ao povo a participar das discussões. 
 
Aliás, ontem, o mato-grossense viu-se convidado a uma audiência pública, no mínimo, curiosa, a ser realizada no dia 2 de setembro, na dependência da Assembléia Legislativa. Oportunidade em que se discutirão as vantagens e desvantagens do BRT e VLT. Gozado! Pois já se decidiu pelo Veiculo Leve sobre Trilho. Inclusive, o governo estadual providencia um projeto de viabilização desse modal. Projeto que deverá ser apresentado na Caixa Econômica Federal, junto a qual se deve levantar a grana necessária. 
 
Audiência pública, então, desnecessária. Não servirá, sequer, como prestação de contas, uma vez que o sentido de sua realização já caiu por terra. A não ser que o objeto da discussão seja algo bem diferente, a exemplo do modelo de concessão ou a respeito dos pontos que devem ser amarrados no contrato de concessão. Mas, sobre isso, quem disse que os parlamentares estão dispostos a discutir? Tampouco, parece que está o governador. Pois, o governador e os deputados preferem se posar de heróis do feito, jamais de mestres-de-cerimônias de um banquete, cujo cardápio já foi escolhido. 
 
Quadro que se visualiza com nitidez, também, na Câmara Cuiabana, onde os vereadores – sem exceção – se mostram indispostos a negociar com a população. Optaram pela suspensão da pauta da sessão da última quinta-feira, e bem distante dos munícipes. Sobretudo quando a conversa é sobre a concessão dos serviços públicos de saneamento à iniciativa privada. 
 
Debater, tudo indica, há muito, foi expurgado como prática dos políticos. Embora se perceba o dito verbo na oralidade e na escrita dos parlamentares. Contudo, a sua conjugação se dá com tempos trocados. Daí a ausência de sintonia entre eles e quem se acha representados, uma vez que estes são convocados tão somente para o aplauso, nunca para a formatação das idéias. Como se o fazer da política se restringisse apenas a uma pequena casta – de notório saber da arte de adivinhar o que é bom para a população, enquanto a esta cabe tão somente o papel de esperar. Esperar pelos bons samaritanos. 
 
Definitivamente, não é isso que se entende por política. Esta, aliás, é um produto da ação, a qual se origina do agir, que se traduz um movimentar-se para trazer gestas. Daí o exercício contínuo da liberdade pública, que se faz avançar e viver a democracia.            

Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br


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