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Opinião
Quinta - 04 de Agosto de 2011 às 10:44
Por: Petrônio Souza Gonçalves

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Enquanto não se define um marco regulatório para a mineração no Brasil, com suas restrições, obrigações e compensações, a extração do minério de ferro em Minas vai, a cada dia, levando junto com ela um pouco de nossas riquezas minerais, nossas belezas naturais e nossa história. Tudo isso, sem uma contrapartida à altura, sendo cobrados preços irrisórios para toda destruição e todo mal inerentes ao extrativismo mineral.

Para se ter uma idéia mínina do tanto que todo esse processo nos consumiu durante anos e anos de extração e depredação, coloco, lado a lado, duas cidades mineiras que fizeram suas escolhas, entre a mineração e a preservação. Ouro Preto e Congonhas são testemunhas e exemplos claros de todo esse processo. Filhas da mesma história e nascida no mesmo contexto, uma escolheu ser cidade turística e a outra, uma cidade mineradora. Uma, tornou-se inteira Patrimônio Cultural da Humanidade. A outra, apenas um pedaço menor, se aproximando mais de uma cidade do interior de Minas - com todos os problemas sociais, culturais e naturais que uma cidade mineira pode ter - que de uma cidade turística. Uma, preservou-se como uma cidade limpa, bonita, polida, orgulho de seu povo. Outra, uma cidade encardida, com uma cor triste em sua fachada, sendo objeto diário da luta por uma melhor qualidade de vida para sua população.

Ouro Preto, preservando e respeitando sua história, hoje é visitada, fotografada e filmada pelo mundo inteiro, recebendo turistas que afluem da Europa, da Ásia, da Oceania, simplesmente para ver suas casas e passear por suas ladeiras, sem levar nada além de fotos, vídeos e lembranças, tendo a beleza os guiando e seguindo por toda parte.

Congonhas, com sua gente ordeira e trabalhadora, agora assiste ao agravamento da violência urbana, recendo trabalhadores e imigrantes de todo o Brasil, que vão explorar seu minério de ferro e extrair suas riquezas naturais, impondo uma nova realidade social e cultural à outrora pacata cidade mineira.

Imagino que Congonhas, em um determinado período, tenha sido uma das mais belas cidades do mundo, com seus casarões margeando a subida até o encontro mágico com o panteão da beleza na divindade entalhada em seus profetas, tendo a barroca cidade lá embaixo, com seus lampiões, seu casario e suas ruas estreitas. Todo esse cenário esculpido pelo tempo e pela história foi ignorado, trocando o hábito da preservação pelo equivoco da extração sem critérios, nos deixando menores e mais vazios também. Substituíram o barroco pelo barraco.

Ouro Preto, não, soube minerar e preservar, produzir e manter, sendo suas pedras preciosas extraídas, lapidas, exportadas e admiradas mundo afora. Todas elas, beneficiadas aqui. Da pedra sabão, temos uma grande cadeia produtiva, que se inicia com o artesão produtor na zona rural e o comerciante na área urbana. Tudo isso integrando uma vasta cadeia produtiva, inerente a chamada indústria limpa, que é o turismo no mundo hoje. Por outro lado, o minério de Congonhas vai deixando buracos nas montanhas, nas estradas, nas ruas, e na dura vida do povo de Congonhas, que ficou apenas com a poeira da história.

Seus profetas, registros vivos de um tempo de beleza e tranquilidade, assistem a tudo calados, vendo a feia poeira que cobre a cidade. Talvez por isso, miram o céu em busca de alguma resposta, alguma esperança, como que rogando ao pai por uma volta ao passado, talvez, por uma segunda chance.

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor



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